Helicópteros pesados do Estado inoperacionais 6879 horas em três anos

Mais um helicóptero Kamov operacional e o terceiro até final deste mês.

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Neste momento só há três helicópteros Kamov a operar Vasco Célio

Durante a audição, pedida pelo PCP devido à paragem repentina de quatro dos aparelhos do Estado, o governante revelou que o dispositivo de combate aos incêndios florestais já integra mais um Kamov, que recomeçou na segunda-feira passada, e que até final deste mês ficará disponível o terceiro helicóptero pesado.

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Durante a audição, pedida pelo PCP devido à paragem repentina de quatro dos aparelhos do Estado, o governante revelou que o dispositivo de combate aos incêndios florestais já integra mais um Kamov, que recomeçou na segunda-feira passada, e que até final deste mês ficará disponível o terceiro helicóptero pesado.

João Almeida afirmou que a inoperacionalidade dos Kamov é um "problema estrutural", indicando que em 2014 estas aeronaves estiveram indisponíveis 1846 horas, em 2013 foram 2887 horas e, no ano anterior 2146 horas. Contactado pelo PÚBLICO, João Almeida não adiantou os motivos que estiveram na base deste elevado número de horas de inoperacionais, afirmando apenas serem questões de “ordem técnica”. As 6879 horas de indisponibilidade dos aparelhos equivalente à paragem de um helicóptero durante 286 dias.

Pedro Silveira, presidente da empresa que vendeu as aeronaves ao Estado e assegurou a manutenção das mesmas até final de Maio passado, diz que a maior parte dos problemas estiveram associados a avarias dos aparelhos e à falta de dinheiro para as reparar, o que obrigava a paragens de meses.

O empresário refere que desde 2007, quando começaram a operar os primeiros Kamov, estes helicópteros voaram 11.550 horas e que as paragens imputadas à empresa foram marginais. “O Estado tentou imputar-nos vários milhões de euros em penalidades, mas recorremos ao tribunal arbitral e acabamos por ter que pagar apenas 10% do que era pedido”, refere Pedro Silveira.

A forma como os helicópteros são operados, nomeadamente, o facto de usarem um cabo curto para sustentar o cesto da água usado para combater os incêndios pode explicar parte dos problemas. É que ao aproximarem-se demasiado do solo para carregar água os potentes motores destes helicópteros aspiram os objectos levantados pelo vento das hélices. Terá sido essa a razão que justificou a substituição de dez motores em oito anos, como referiu o deputado do PCP João Ramos.

Outro motivo apontado por vários profissionais do sector, alguns que integram empresas que operam Kamov noutros países, é que os aparelhos adquiridos pelo Estado Português, os ka-32, são um modelo único. Para responder às exigências do caderno de encargos que determinava que as aeronaves candidatas tinham que fazer combate a incêndios, mas também busca e salvamento e emergência médica foram feitas adaptações ao helicóptero, para alguns, incompatíveis com as características base do aparelho, construído pelos russos com objectivos militares.

Neste momento, a prioridade de João Almeida é outra: perceber como é que numa altura em que o Estado passou a responsabilidade da operação dos Kamov para uma empresa privada, que passará a assegurar igualmente a manutenção, feita até agora pela Heliportugal, foram detectadas desconformidades graves nos aparelhos, o que obrigou a parar quatro dos cinco helicópteros (um continua danificado após um acidente em Setembro de 2012). O secretário de Estado revelou que existem informações oficiais que "contrariam o estado" dos aparelhos e comprometeu-se a esclarecer o que suceder e a apurar “todas as responsabilidades” até ao fim da legislatura. "Não nego a gravidade da situação dos Kamov por isso é que foi aberto um inquérito urgente na Inspecção-Geral da Administração Interna", admitiu.