As polémicas eleições no Burundi abrem com mortos, explosões e trocas de tiros

O actual Presidente do Burundi recandidata-se ao cargo pela terceira vez, desafiando meses de confrontos violentos. País arrisca novo conflito interno.

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Há conflitos quase diários no Burundi desde que Nkurunziza anunciou a sua recandidatura a Presidente Carl de Souza / AFP

A horas do desfecho político destas eleições, a violência repete-se. Ao longo da noite de segunda para esta terça-feira ouviram-se várias explosões e tiros de armas automáticas nas ruas da capital do país. Morreram pelo menos duas pessoas durante a noite e, segundo a BBC e a Al-Jazira, os confrontos prosseguiam nesta manhã.

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A horas do desfecho político destas eleições, a violência repete-se. Ao longo da noite de segunda para esta terça-feira ouviram-se várias explosões e tiros de armas automáticas nas ruas da capital do país. Morreram pelo menos duas pessoas durante a noite e, segundo a BBC e a Al-Jazira, os confrontos prosseguiam nesta manhã.

Apesar da meses de contestação, o nome de Nkurunziza está nos boletins de voto distribuídos nesta terça e poucos duvidam de que ele sairá vencedor. Oposição e a comunidade internacional, incluindo a União Africana e a Organização das Nações Unidas (ONU), dizem que a candidatura de Nkurunziza viola a Constituição do país, que limita o Presidente a dois mandatos consecutivos.

Mas Nkurunziza e os seus aliados dizem que o seu primeiro mandato não conta, uma vez que a eleição foi decidida no Parlamento, por voto dos deputados e não pelos da população. O Tribunal Constitucional do Burundi concordou com esta interpretação e permitiu que Nkurunziza, antigo guerrilheiro na guerra civil, pela maioria Hutu, regressasse às urnas.

Cerca de 100 pessoas morreram nos últimos três meses de confrontos e mais de 150 mil fugiram do país para os vizinhos República Democrática do Congo, Ruanda, Tanzânia e Uganda. Receiam que estas eleições provoquem uma nova guerra civil. Tutsis e Hutus combateram no Burundi entre 1996 e 2005 num conflito que terá matado mais de 300 mil pessoas.

A poucas horas da abertura das urnas, Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU, apelou a que os responsáveis do Burundi “tudo façam para assegurarem a segurança e o voto pacífico”. Num comunicado lido pelo seu porta-voz e citado pela AFP, Ban Ki-moon pede ainda que “todos os grupos se abstenham de quaisquer actos de violência que comprometam a estabilidade do Burundi e da região.”

Mas o país tem já em mãos os ingredientes para uma nova guerra civil. Em meados de Maio, um grupo de generais opositores a Nkurunziza tentou um golpe de Estado militar. O Governo conseguiu travá-lo, mas os generais em exílio reivindicam agora uma revolta armada que começou já no norte do país, onde se contaram já várias batalhas entre rebeldes e exército.    

“Estão em jogo todos os elementos para um conflito [no Burundi]”, escreveu no final de Maio o International Crisis Group (ICG), uma organização internacional que monitoriza conflitos armados em todo o mundo e que acredita que as eleições desta terça-feira estão já decididas. “Pese ainda um pluralismo de fachada, trata-se de uma eleição com um candidato apenas para a qual os burundianos já conhecem o resultado”, diz à AFP Thierry Vircoulon, investigador do ICG.