Chefe da polícia de Baltimore demitido após a morte de mais três pessoas

Mayor disse que substituiu Anthony Batts devido à vaga de crimes e não por causa de um relatório que responsabiliza a gestão do chefe da polícia pelos motins que se seguiram à morte de um homem negro, em Abril.

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A presidente da câmara de Baltimore, Stephanie Rawlings-Blake, com o chefe da polícia interino, Kevin Davis Bryan Woolston /Reuters

Baltimore vive, desde Abril, um clima de tensão e violência sem precedentes, devido à morte de Freddie Gray, às mãos de seis agentes da polícia. Depois dos motins que obrigaram ao estado de emergência na cidade, multiplicaram-se os homicídios - 155 pessoas morreram este ano em Baltimore, 42 durante o mês de Maio.

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Baltimore vive, desde Abril, um clima de tensão e violência sem precedentes, devido à morte de Freddie Gray, às mãos de seis agentes da polícia. Depois dos motins que obrigaram ao estado de emergência na cidade, multiplicaram-se os homicídios - 155 pessoas morreram este ano em Baltimore, 42 durante o mês de Maio.

“Como temos visto nas últimas semanas, demasiadas pessoas continuam a morrer nas nossas ruas, incluindo  três, esta noite”, lamentou a mayor de Baltimore numa conferência de imprensa, na quarta-feira, que serviu para anunciar a demissão do Comissário Anthony Batts e a nomeação de Kevin Davis como Comissário interino. “[Tornou-se] claro que se tem dado um foco demasiado grande à liderança do departamento [da polícia] e insuficiente à luta contra o crime. Por isso, precisamos de uma mudança”, anunciou Rawlings-Blake, citada pelo The Washington Post. Acrescentou que a decisão de demitir Blatts não foi fácil, mas que a mesma servia o “melhor interesse dos cidadãos de Baltimore”.

A cidade de Baltimore, situada no estado de Maryland, na costa Leste dos Estados Unidos, viveu vários dias de motins e violência após a morte de Freddie Gray, um jovem negro de 25 anos, detido pela polícia no dia 12 de Abril, no bairro de Sandtown, um dos mais problemáticos da zona Oeste da cidade. Gray acabou por morrer no hospital, no dia 19 do mesmo mês, vítima dos ferimentos que sofreu aquando da detenção.

A instauração do estado de emergência e o reforço das forças de segurança, no final do mês de Abril, levou ao fim dos motins, mas fez crescer a ocorrência de crimes e assassínios. Foi no início de Maio que o Ministério Público acusou os seis polícias envolvidos na detenção de Freddie Gray de homicídio simples e homicídio involuntário.

As últimas três mortes tiveram lugar na noite de terça-feira (madrugada de quarta-feira, em Portugal), perto das instalações da Universidade de Maryland, onde dois homens alvejaram quatro pessoas. Apenas uma sobreviveu. A polícia de Baltimore, citada pela agência Reuters, informou que os homicídios não foram “um acto aleatório de violência”, mas um ataque que tinha um “alvo definido”.

A demissão de Anthony Batts, no cargo de chefe da polícia desde 2012, foi antecedida de várias críticas à sua liderança. O sindicato da polícia de Baltimore apresentou mesmo um relatório, poucas horas antes da conferência de imprensa de Rawlings-Blake, no qual acusa o departamento da polícia de Baltimore, liderado por Blatts, de “falta de preparação” para lidar com a onda de violência que varreu a cidade. Segundo The New York Times, o relatório refere que a polícia teve uma “reacção passiva” face à “agitação civil”, situação que permitiu que a “desordem se transformasse em tumultos de grande escala”.

“A liderança [da polícia] durante os motins foi pouco preparada, politicamente motivada, indiferente e confusa”, acusou o presidente do sindicato, Gene Ryan, citado pelo Washington Post. Stephanie Rawlings-Blake recusou apoiar o conteúdo do relatório e disse mesmo, através de um comunicado partilhado pelo seu gabinete, que “não era altura de ‘apontar dedos’”.
 
Texto editado por Ana Gomes Ferreira