O impacto do novo nos Mbongwana Star

Regresso à República Democrática do Congo, agora para algo de verdadeiramente diferente.

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Os Mbongwana Star pouco têm a ver com os Staff Benda Bilili, apesar de terem dois dos membros em comum DR

 O núcleo do grupo eram quatro cantores e guitarristas, todos eles paraplégicos, movendo-se em cadeiras de rodas e tocando nas ruas de Kinshasa. A sua história correu mundo, gravaram dois álbuns, fizeram uma digressão, foram motivo de documentário; há dois anos, separaram-se. 

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 O núcleo do grupo eram quatro cantores e guitarristas, todos eles paraplégicos, movendo-se em cadeiras de rodas e tocando nas ruas de Kinshasa. A sua história correu mundo, gravaram dois álbuns, fizeram uma digressão, foram motivo de documentário; há dois anos, separaram-se. 

Ao que parece, na base da decisão estiveram motivos financeiros e também de direcção estética. O que não surpreende depois de se ouvir o álbum de estreia dos Mbongwana Star, o novo grupo de dois dos membros fundadores desse colectivo, agora acompanhados por mais três músicos das novas gerações e pelo músico e produtor irlandês, a viver em França há muito, Doctor L. Os Mbongwana Star pouco têm a ver com os Staff Benda Bilili. Dir-se-ia que os últimos simbolizaram a possibilidade de dar a conhecer expressões, apesar de tudo clássicas, da música do Congo, enquanto os primeiros promovem uma saudável balbúrdia de onde emerge uma invulgar e vibrante sonoridade urbana. 

O irlandês Liam Farrell, ou seja Doctor L, que no passado já havia trabalhado com o histórico músico nigeriano Tony Allen, é capaz de ter sido uma peça essencial na definição estética do projecto, promovendo uma sonoridade escultórica sempre à beira da deflagração, adquirindo novas formas de canção em canção. Dito assim, poder-se-ia imaginar um álbum sem unidade, mas não. Independentemente das formas que vão adquirindo os diferentes elementos que se vão sobrepondo — baixos distorcidos, percussões hipnóticas, guitarras do pós-punk, ecos electrónicos, reverberações psicadélicas devedoras do dub ou vozes saturadas —, tudo parece ter passado pela mesma peneira de vigor imparável. 

É uma música que respira um saudável desrespeito pela História, por geografias e por identidades estáveis, tudo inserido num território urbano incerto que o grupo interpreta com entendimento sólido. Outro colectivo do Congo, os Konono Nº1, participa numa das faixas, mas este é daqueles álbuns em que não vale a pena procurar destrinçar um mapa de referências, sejam europeias ou africanas, porque tudo converge para um presente familiar e estranho em simultâneo, onde o choque do novo, tão ausente da música actual, acaba por despontar.