Marine Le Pen foi ao Egipto para se mostrar num país muçulmano “anti-islamista”

A líder do partido de extrema-direita francês encontrou-se com a autoridade máxima do Islão sunita, com quem disse ter "múltiplas convergências de opiniões".

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Le Pen e grande imã da Al-Azhar, Ahmed Al-Tayeb AFP

Para ganhar a aposta das eleições presidenciais de 2017, é preciso tornar o partido mais “normal”. Para isso, seria importante fazer uma deslocação a um país árabe, explicou ao Le Monde um elemento da equipa de Aymeric Chauprade, o especialista em geopolítica de Marine Le Pen que organizou a viagem da líder da FN, e que esta semana já a levou também a Moscovo.

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Para ganhar a aposta das eleições presidenciais de 2017, é preciso tornar o partido mais “normal”. Para isso, seria importante fazer uma deslocação a um país árabe, explicou ao Le Monde um elemento da equipa de Aymeric Chauprade, o especialista em geopolítica de Marine Le Pen que organizou a viagem da líder da FN, e que esta semana já a levou também a Moscovo.

O Egipto encaixou-se neste perfil de país muçulmano, pois o Presidente Sissi, chegado ao poder num golpe militar que afastou o Presidente Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, não nutre quaisquer simpatias pelos movimentos revolucionários ou jihadistas islâmicos, que persegue como terroristas. “Era importante encontrar um país árabe anti-islamista e com uma visão secular da religião”, explicaram ao diário francês.

A Al-Azhar é uma instituição que se tornou um centro teológico do islão sunita, que supervisiona várias universidades e dá aulas a milhares de alunos de todo o mundo. Tem demonstrado um desejo de moderação e diálogo com o cristianismo – por isso Marine Le Pen procurou ser recebida pelo imã Ahmed Al-Tayeb. Logo a seguir a esta audiência, que soa a uma importante limpeza de imagem da política de extrema-direita, a FN emitiu um comunicado em que afirmava redondamente: “As convergências de opiniões entre a presidente da Frente Nacional e a mais alta autoridade sunita do mundo árabe são múltiplas.”

O encontro, diz o comunicado da FN, “permitiu ao grande imã descobrir o verdadeiro projecto político de Marine Le Pen”. Sem hesitação, diz que contribuirá para “apagar os efeitos infelizes da desinformação mediática no espírito de numerosos muçulmanos em todo o mundo”.

Mas o imã Ahmed Al-Tayeb, através de um porta-voz, não pareceu convencido: sublinhou que as “opiniões da FN devem ser revistas e corrigidas”, lamentando “as suas posições hostis ao Islão e aos muçulmanos”, adianta a AFP. Além disso, esclareceu que o encontro tinha sido pedido por Le Pen, para “discutir assuntos relacionados com ideias erradas acerca do islão e ideologias extremistas e racismo que estão a fazer sofrer alguns muçulmanos na Europa.”

Marine Le Pen foi também recebida pelo papa copta Teodoro II, a quem manifestou a sua “muito grande inquietação por causa dos cristãos do Egipto, da Síria e do Iraque”. Este líder religioso ofereceu-lhe uma cruz copta.