CP volta a falhar com comboio a vapor no Douro pelo terceiro ano consecutivo

Caldeira da máquina a vapor está numa oficina em Espanha. Locomotiva a diesel volta a rebocar carruagens antigas.

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Fernando Veludo/nfactos

A partir de 6 de Junho a oferta deste produto turístico será igual à dos últimos dois anos: uma locomotiva a diesel dos anos sessenta, pintada na sua cor original (azul), irá rebocar as velhas carruagens de madeira que compõem o comboio histórico.

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A partir de 6 de Junho a oferta deste produto turístico será igual à dos últimos dois anos: uma locomotiva a diesel dos anos sessenta, pintada na sua cor original (azul), irá rebocar as velhas carruagens de madeira que compõem o comboio histórico.

“A reconversão da locomotiva ainda não está concluída, motivo pelo qual esta campanha volta a ser realizada com a locomotiva a diesel”, explica fonte oficial da CP, remetendo outras explicações para a sua empresa instrumental, EMEF. Esta, por sua vez, disse ao PÚBLICO que não detém “a tecnologia e equipamentos específicos necessários à produção da caldeira pretendida” e que não conhece em Portugal nenhuma empresa com capacidade de projecto nem de execução para tal tarefa.

A EMEF teve de pedir orçamentos à Alemanha, Polónia e Espanha, acabando a escolha por incidir por uma empresa deste último país.

A tarefa não parece ser simples. O objectivo é que a nova caldeira da locomotiva seja aquecida a diesel em vez de usar o carvão como combustível. O resultado final é o mesmo porque a velha máquina continuará a deitar fumo e a tracção manter-se-á a vapor. Só os custos são mais baixos, bem como a probabilidade de haver algum incêndio devido a algum pedaço de carvão incandescente.

De tanto querer poupar nos custos, a CP já soma três anos sem tracção a vapor no Douro. Diz que em 2016 é que vai ser. Mas nem por isso os turistas se têm mostrado renitentes em realizar o passeio ferroviário pelo vale do Douro.

“Em 2014 viajaram mais de 3400 clientes numa taxa média de ocupação por comboio na ordem dos 74%”, disse ao PÚBLICO fonte oficial da empresa. A procura cresceu, assim, no ano passado, 28% relativamente a 2013.

E pela primeira fez o comboio histórico deu lucro. Os números são da CP: os custos foram de 100.500 euros e a receita de 118.300 euros. Um resultado que não teria ocorrido se se tivesse utilizado a máquina a vapor devido ao preço do carvão e de algumas exigências técnicas que encarecem cada viagem.

A CP diz ainda que os passageiros do comboio histórico não têm ido ao engano. “Embora questionem quando volta o vapor, apreciam também a viagem com a composição actual, o que está, nomeadamente traduzido, no crescimento verificado em 2014”, diz a empresa.

Enquanto isto, numa das poucas oficinas do mundo onde ainda se constroem caldeiras a vapor de âmbito ferroviário, em Lérida (Espanha) está a ser construída a peça que constitui a alma de uma locomotiva deste tipo. O PÚBLICO apurou que o projecto foi feito em conjunto com a EMEF e por um dos seis engenheiros mundiais de locomotivas a vapor que ainda existem. E que este reforça a potência da locomotiva para um patamar que esta nunca possuiu em toda a sua vida (data de 1923) e de que jamais precisará tendo em conta o pouco peso das três carruagens antigas que reboca.

Em 2014, o vice-presidente da Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos-de-Ferro (APAC) dizia ao PÚBLICO que “Portugal é o único país da Europa que não tem um comboio a vapor, o que é caricato tendo em conta que somos um país especialmente vocacionado para o turismo”. 

Em França, Inglaterra e Suíça há várias ofertas regulares de comboios a vapor. Em Espanha há pelo menos três: no País Basco, na Andaluzia e em Madrid, sendo este último o mais famoso porque liga a capital a Aranjuez num produto que ficou conhecido por Tren de la Fresa (Comboio do Morango). A própria Roménia e a Grécia possuem também uma oferta turística regular em comboio a vapor. 

Preços mantêm-se
Este ano estão previstas 30 viagens do comboio histórico a realizar todos os sábados entre 6 de Junho e 31 de Outubro e aos domingos de 16 de Agosto a 4 de Outubro.

Os preços da viagem de ida e volta entre Régua e o Tua continua a ser de 35 euros para adultos e 15 para crianças (dos cinco aos 12 anos). Mas quem quiser deslocar-se de comboio até à Régua a CP oferece bilhetes combinados que embaratecem a viagem e que vão dos 40 aos 70 euros, consoante os passageiros embarquem no Norte, Centro, Alentejo ou Algarve. Este preço inclui toda a viagem de ida e volta no comboio histórico.