Um arquitecto da Escola do Porto ainda por descobrir

A Fundação Instituto Marques da Silva recebeu a doação de espólio documental e bibliográfico de João Queiroz, o autor do Café Majestic.

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E foi com este café de recorte arte nova inaugurado em 1921 em normal funcionamento, com a presença de turistas à procura de uma das maiores referências arquitectónicas da cidade, que decorreu a assinatura do contrato de doação da biblioteca e acervo documental daquele arquitecto da Escola do Porto à Fundação Instituto Marques da Silva (FIMS).

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E foi com este café de recorte arte nova inaugurado em 1921 em normal funcionamento, com a presença de turistas à procura de uma das maiores referências arquitectónicas da cidade, que decorreu a assinatura do contrato de doação da biblioteca e acervo documental daquele arquitecto da Escola do Porto à Fundação Instituto Marques da Silva (FIMS).

“João Queiroz teve um papel discreto, mas decisivo, nas transformações urbanas da cidade e do norte de Portugal durante o século XX”, disse, a abrir a sessão, Maria de Fátima Marinho, presidente da FIMS, a justificar o interesse desta instituição no espólio agora doado pela família do arquitecto, representada na sessão pelos seus três netos.

“Nós fomos educados a preservar e manter as coisas de família, mas, porque não tínhamos condições para o tratamento desta herança, achámos que fazia todo o sentido doá-la à FIMS”, disse ao PÚBLICO, no final, Gabriela Loureiro Queiroz, uma das netas do arquitecto.

A fundação, de direito privado mas associada à Universidade do Porto, compromete-se agora a salvaguardar, tratar, valorizar e divulgar este novo espólio, que vem acrescentar-se aos da família fundadora – Marques da Silva e sua filha e genro, Maria José e David Moreira da Silva – e a outros recebidos recentemente, nomeadamente de outras figuras fundamentais da Escola do Porto, como Fernando Távora, Alcino Soutinho ou José Carlos Loureiro.

O espólio de João Queiroz que agora fica à guarda da FIMS é constituído por desenhos de 84 projectos de arquitectura, uma biblioteca com mais de cem títulos, maioritariamente edições francesas, e outra documentação diversa, como fotografias e material publicitário.

Trata-se de um repositório que irá permitir aos potenciais interessados um estudo mais sustentado sobre a obra de um arquitecto que teve uma carreira longa e prolífica, “mas que foi um homem isolado, profissionalmente”, e cujo percurso “está ainda por identificar verdadeiramente e descobrir”, assinalou Alexandre Alves Costa, que privou ainda pessoalmente com o seu familiar, e que foi o primeiro a tomar a iniciativa de doar à FIMS os desenhos que lhe tinham sido oferecidos pelo próprio.

Para além do Café Majestic (que inicialmente se chamou Élite), o nome de João Queiroz surge também associado ao desenho do Cinema Trindade, a intervenções no Olympia e no Coliseu e ainda a um projecto, que não viria a ser escolhido, para o Cinema Batalha. Mas “João Queiroz foi sobretudo um arquitecto de moradias e de lojas comerciais”, explicou Alves Costa no Majestic, documentando a sua intervenção com imagens da sua carreira e também da sua biografia, recordando que ele ficou conhecido na cidade como “Capitão Queiroz”, depois de ter sido incorporado tanto para a primeira como para a segunda guerras mundiais.

“João Queiroz viveu numa época em que os arquitectos aprendiam os estilos arquitectónicos e utilizavam-nos muito de acordo com a vontade dos clientes”, sintetizou depois, para o PÚBLICO, Alves Costa, classificando-o simultaneamente como “um arquitecto ecléctico e heterodoxo”. “Não é um arquitecto moderno; ele fazia arquitectura com simplicidade, sem grandes dramas ideológicos de saber se a casa portuguesa era mais reaccionária do que a casa moderna. Para ele, isso não tinha qualquer sentido; ele fazia aquilo que os clientes gostavam mais”. Mas não deixava de lhes lembrar que, "com o estilo português iriam mais bem servidos”.