Setúbal vai-se vestir de bonecos durante todo o mês de Junho

Setúbal quer ser capital nacional da ilustração. Percebeu, ou é preciso fazer um desenho?, perguntam os organizadores, que admitem que o ataque ao Charlie Hebdo deu o impulso final à iniciativa.

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André Carrilho é um dos artistas convidados

Um esforço da organização da primeira Festa da Ilustração com um ambicioso e bem definido objectivo; transformar a cidade sadina na capital nacional da ilustração. A festa, que decorre de 1 a 28 de Junho próximo, é, segundo a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, o “primeiro passo” para concretizar essa ambição.

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Um esforço da organização da primeira Festa da Ilustração com um ambicioso e bem definido objectivo; transformar a cidade sadina na capital nacional da ilustração. A festa, que decorre de 1 a 28 de Junho próximo, é, segundo a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, o “primeiro passo” para concretizar essa ambição.

“Claro que temos plena consciência de que, embora as nossas aspirações sejam elevadas, esta primeira edição assume um carácter experimental que nos permitirá avaliar as melhores formas de ampliar e melhorar a festa”, diz Maria das Dores Meira.

A Festa da Ilustração vai dedicar uma exposição específica a cada um dos artistas convidados ou homenageados, designadamente, André Carrilho na Casa da Cultura, Mestre Lima de Freitas na Galeria do Banco de Portugal, Maria Keil na Galeria do 11, Manuel João Vieira na Casa do Bocage, e João Abel Manta no Fórum Luísa Todi e nos Claustros do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS).

Para já, o evento promete uma enorme visibilidade local, além de um envolvimento social fora do comum, através da colaboração de várias escolas de artes do país, como o Centro de Artes e Educação Visual (ARCO), as faculdades de Belas Artes de Lisboa (FBAL) e do Porto (FBAP), ou o Instituto de Arte, Design e Empresa (IADE), entre outras escolas superiores de Arte, como as de Matosinhos e Guimarães, e da participação activa de todas as cinco escolas secundárias do concelho de Setúbal.

A festa vai estar fisicamente presente em toda a cidade, em espaços municipais e privados, que vão acolher as diversas exposições de trabalhos de ilustração, e várias outras actividades, como pequenos concertos, performances e mostras de publicações relacionadas com o tema.

A baixa comercial da cidade é um dos locais centrais do evento, em colaboração com estabelecimentos em funcionamento mas também através da utilização de loja devolutas – que grassam no centro urbano – e do aproveitamento dos históricos largos da Misericórdia, da Fonte Nova e da Ribeira Velha, para as actividades ao ar-livre.

A autarca setubalense acredita que esta é uma “poderosa forma” de promover a baixa citadina, como espaço comercial de excelência. “Esta é também uma forma de dinamizar mais a nossa baixa comercial e o centro histórico da cidade, atraindo novas iniciativas e mais visitantes em períodos diferenciados do dia”, afirma Dores Meira.

Impulso Charlie Hebdo
O ataque terrorista ao jornal satírico francês Charlie Hebdo, que fez 12 vítimas mortais, no dia 07 de Janeiro passado, acabou por ser o impulso que faltava a esta ambiciosa organização em Setúbal, admite José Teófilo Duarte, setubalense, conhecido designer nacional, que integra o núcleo duro da organização do evento, em parceria com João Paulo Cotrim, jornalista e escritor, coordenador do projecto Gulbenkian/Casa da Leitura e consultor do Centro Cultural de Belém para a programação literária.

“Com os acontecimentos em França começámos a perceber que havia muita gente a falar de Ilustração e que este ano era a melhor altura para avançar com uma coisa que, nesta dimensão, não existe em Portugal”, explica José Teófilo Duarte, acrescentando que a ideia, também por isso, foi acolhida pelo município de Setúbal com “grande entusiasmo”.

Outro motivo que “acelerou” a oportunidade da organização, disse ao PÚBLICO este responsável, foi a coincidência de estarem em preparação algumas exposições de cartoonistas portugueses, com destaque para a primeira retrospectiva de André Carrilho, que é “dos cartoonistas mas internacionais do mundo, que desenha para a imprensa mais prestigiada dos Estados Unidos da América e da Europa”. 

A estreia da exposição retrospectiva de André Carrilho é um dos principais aspectos de valor artístico destacados pelo curador da Festa da Ilustração.

“Estranhamente, André Carrilho, já com pelo menos 20 anos de trabalho em contínuo, ainda não tinha sido objecto de uma retrospectiva e esta mostra vai permitir ver-se no mesmo sítio o conjunto dos aspectos da sua obra, que não é apenas caricatura, cartoon e ilustração, mas também animação”, disse João Paulo Cotrim ao PÚBLICO.

“Vamos mostrar a primeira introdução à obra, bastante vasta, de âmbito internacional e ultrapremiada do André Carrilho que é, claramente, das mais espantosas da contemporaneidade”, acrescenta o curador da exposição.

André Carrilho vai estar presente em Setúbal e participará em colóquios e outras actividades durante o mês de Junho.