Turquia e Arménia, a oportunidade perdida

O não reconhecimento pela Turquia do genocídio arménio é, ainda hoje, um fardo mundial.

Esta teria sido uma boa data para acertar os ponteiros da história: o centenário. Contudo, 2015 não foi ainda o ano em que arménios e turcos puderam estabelecer laços plenos de concórdia, deixando para trás as terríveis memórias daquilo que para os arménios e para muitos outros habitantes e nações do planeta foi um genocídio mas que para o poder turco continua a ser um massacre, com vítimas e algozes de ambos os lados. É por isso que, hoje, arménios de todo o mundo lembram o centenário do seu genocídio, onde quer que se encontrem, e, em Istambul, por iniciativa do Movimento Anti-racista Europeu e de numerosas personalidades de vários países, incluindo a Turquia, há também uma manifestação nesse mesmo sentido. Ao mesmo tempo, numa coincidência que não é casual, o governo turco decidiu antecipar para hoje, dia 24, a celebração da Batalha de Gallipoli, tradicionalmente comemorada a 25 de Abril, e para a qual convidou primeiros-ministros e chefes de Estado, entre os quais o seu homólogo arménio. Isto, em lugar de atenuar as feridas que já levam cem anos, acaba por agravá-las. Pior: o insistente negacionismo da Turquia (que não é partilhado por muitos dos seus cidadãos) contribui para manter acesa um conflito inútil, que há muito podia ter acabado. Se a Alemanha (que, curiosamente, hoje poderá votar no seu Parlamento, pela primeira vez, o reconhecimento oficial do genocídio arménio) admitiu o holocausto perpetrado pelos nazis e, através dessa admissão, ganhou o respeito e a amizade dos seus antigos adversários, também a Turquia poderia olhar de forma desassombrada para a sua história e encarar, sem desculpas, o mal há muito feito. Até porque as memórias desse terrível momento da história no Império Otomano têm passado de geração para geração, como uma maldição indelével. Maria Dellayan, pianista arménia radicada em Portugal há anos, testemunha nesta edição esse peso. Podiam, todos, libertar-se dele.

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Esta teria sido uma boa data para acertar os ponteiros da história: o centenário. Contudo, 2015 não foi ainda o ano em que arménios e turcos puderam estabelecer laços plenos de concórdia, deixando para trás as terríveis memórias daquilo que para os arménios e para muitos outros habitantes e nações do planeta foi um genocídio mas que para o poder turco continua a ser um massacre, com vítimas e algozes de ambos os lados. É por isso que, hoje, arménios de todo o mundo lembram o centenário do seu genocídio, onde quer que se encontrem, e, em Istambul, por iniciativa do Movimento Anti-racista Europeu e de numerosas personalidades de vários países, incluindo a Turquia, há também uma manifestação nesse mesmo sentido. Ao mesmo tempo, numa coincidência que não é casual, o governo turco decidiu antecipar para hoje, dia 24, a celebração da Batalha de Gallipoli, tradicionalmente comemorada a 25 de Abril, e para a qual convidou primeiros-ministros e chefes de Estado, entre os quais o seu homólogo arménio. Isto, em lugar de atenuar as feridas que já levam cem anos, acaba por agravá-las. Pior: o insistente negacionismo da Turquia (que não é partilhado por muitos dos seus cidadãos) contribui para manter acesa um conflito inútil, que há muito podia ter acabado. Se a Alemanha (que, curiosamente, hoje poderá votar no seu Parlamento, pela primeira vez, o reconhecimento oficial do genocídio arménio) admitiu o holocausto perpetrado pelos nazis e, através dessa admissão, ganhou o respeito e a amizade dos seus antigos adversários, também a Turquia poderia olhar de forma desassombrada para a sua história e encarar, sem desculpas, o mal há muito feito. Até porque as memórias desse terrível momento da história no Império Otomano têm passado de geração para geração, como uma maldição indelével. Maria Dellayan, pianista arménia radicada em Portugal há anos, testemunha nesta edição esse peso. Podiam, todos, libertar-se dele.