Transporte aéreo e negócio do Brasil agravam perdas do grupo TAP para 85 milhões

Dívida subiu para 1062 milhões no ano passado e os capitais próprios já estão negativos em mais de 510 milhões de euros.

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Administração liderada por Fernando Pinto desenhou novo plano estratégico até 2020 Rui Gaudêncio

Das perdas de 85,1 milhões sofridas em 2014, uma parte substancial cabe à TAP SA, o braço do grupo para a aviação. No ano passado, a transportadora aérea teve prejuízos de 46,4 milhões, depois dos lucros de 34 milhões gerados apenas um ano antes. A derrapagem foi justificada com factores extraordinários, como os problemas registados no Verão, as greves e a queda da tarifa média, sem que fosse possível absorver na totalidade os ganhos com a desvalorização do petróleo.

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Das perdas de 85,1 milhões sofridas em 2014, uma parte substancial cabe à TAP SA, o braço do grupo para a aviação. No ano passado, a transportadora aérea teve prejuízos de 46,4 milhões, depois dos lucros de 34 milhões gerados apenas um ano antes. A derrapagem foi justificada com factores extraordinários, como os problemas registados no Verão, as greves e a queda da tarifa média, sem que fosse possível absorver na totalidade os ganhos com a desvalorização do petróleo.

Mas os resultados do transporte aéreo não justificam, por si só, o agravamento das perdas do grupo: também a unidade de manutenção que a TAP adquiriu, em 2005, no Brasil continua longe do nível esperado. Em 2014, a M&E registou perdas de 22,6 milhões de euros, o que ainda assim significou uma melhoria face aos 41 milhões do ano anterior. No relatório e contas, a TAP escreve que, depois da reestruturação lançada há quatro anos, “foi dada continuidade à melhoria do desempenho económico e operacional da empresa, sendo visíveis sinais de sustentabilidade”.

Por outro lado, a gestora de participações Aeropar, que é detida pelo grupo TAP e possui 47,6% da M&E Brasil, teve perdas de 11 milhões, contra os 19,5 milhões registados em 2013. Na Groundforce, a operadora de handling em que a TAP tem uma participação de 49,9% (estando a maioria do capital nas mãos da Urbanos), houve lucros, de 2,4 milhões (300 mil euros acima do valor atingido no período homólogo). Já na PGA, a companhia de aviação regional que faz parte do grupo, o ano foi de prejuízos, a rondar um milhão de euros (depois de em 2013 ter conseguido um ganho de 5,2 milhões).

Fruto dos prejuízos, a TAP voltou a ver agravados em 2014 os seus capitais próprios (que resultam da diferença entre o activo e o passivo), encerrando o ano com um valor negativo de 511,9 milhões. Trata-se de um agravamento significativo face ao ano anterior, em que os capitais próprios negativos se situaram em 373,3 milhões. Também a dívida financeira continuou num movimento ascendente, atingindo 1061,7 milhões de euros a 31 de Dezembro, o que representou um acréscimo de cerca de 11 milhões face a 2013. Mas o maior problema, como revela o relatório e contas, é que se tem verificado “uma substituição relevante de valores em dívida de empréstimos a médio e longo prazo por operações de mais curto prazo”, o que coloca maior pressão sobre a tesouraria.

Estes números são conhecidos a cerca de um mês do prazo para apresentação de propostas de compra pela TAP, já que os potenciais candidatos têm de fazer ofertas vinculativas até 15 de Maio. O Governo pretende vender 66% da companhia até ao final do primeiro semestre, enfrentando neste momento um braço-de-ferro com os pilotos que ainda poderá resultar numa nova greve.

No relatório e contas, a administração da TAP, liderada por Fernando Pinto, assume que “em 2014 vários factores tornaram evidente a necessidade de repensar a estratégia a longo prazo” do grupo. E, por isso, foi definido um novo plano para o período entre 2015 e 2020, que assenta em seis principais eixos.

O primeiro diz respeito à “renovação e expansão de todas as frotas”, com o objectivo de “manter a vantagem competitiva de custos unitários relativamente baixos”. No que se refere ao modelo comercial, a ideia passa por “estar a par com aqueles que são os actuais padrões da indústria”, nomeadamente “providenciar maior conforto aos passageiros”. Num terceiro eixo, relacionado com a melhoria da experiência do cliente, a administração inscreveu como meta “promover a distinção do produto e serviço oferecido, face às operadoras low cost”.

Em quarto lugar, a TAP coloca como objectivo “um esforço de crescimento contínuo da rede e de aumento do foco nas operações do hub de Lisboa”, robustecendo “a posição nos mercados em que actualmente opera” e, em simultâneo, entrando “em mercados de elevado potencial e nos quais tem tido uma presença inferior”.

Quanto à eficiência, a administração refere que “irá desenvolver um acrescido esforço de optimização da estrutura de custos de forma a assegurar uma base que permita crescer”. E, por último, há um sexto eixo dedicado ao “reposicionamento" das unidades de manutenção e engenharia em Portugal e no Brasil. Para a primeira, a estratégia passa por “um continuado foco em servir a frota da TAP, conjugado com um aumento do esforço de captação de mercado de serviços para terceiros”. Para o Brasil, pretende-se “consolidar os resultados” do programa de reestruturação e “relançar o negócio nas suas várias frentes”.