O escritor no seu cativeiro

A graça está no auto-retrato, na auto-paródia: Houellebecq brinca com a sua fragilidade física, com a quantidade de cigarros que fuma, com o aspecto desarranjado, com o tédio do quotidiano.

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O Rapto é uma suposição do suposto rapto de Houellebecq em 2011, uma ficção de cinema construída sobre uma ficção mediática (durante algumas semanas desse ano, a imprensa francesa especulou que Houellebecq, aparentemente incontactável, teria sido “raptado”). 

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O Rapto é uma suposição do suposto rapto de Houellebecq em 2011, uma ficção de cinema construída sobre uma ficção mediática (durante algumas semanas desse ano, a imprensa francesa especulou que Houellebecq, aparentemente incontactável, teria sido “raptado”). 

A graça está, primeiro, no auto-retrato, na auto-paródia, e não seremos os primeiros a notar que a imagem que Houellebecq dá de si próprio, e sobre o mundo que o rodeia, faz lembrar bastante alguns famosos comediantes novaiorquinos. Brinca com a sua fragilidade física, com a quantidade de cigarros que fuma, com o aspecto desarranjado, com o tédio do quotidiano. Depois, embora seja aí que o filme se estica para lá do que seria desejável, há ainda alguma graça na relação, totalmente anti-climática, com os seus “raptores”, que são tudo menos criaturas sinistras – e conhecem, discutem, citam, a obra de Houellebecq. 

O Rapto não é mais do que o pretexto, portanto, para uma série de cenas de diálogo, conversation pieces, frequentemente divertidas nos seus aspectos puramente cómicos como na sua densidade “filosófica” irrisória, mas desiguais e com um certo pendor para a auto-complacência que se agravando – ou assim parece – à medida que o filme se estende.