Sarkozy saboreia vingança de uma vitória, Le Pen quase lhe sente o gosto

Centro-direita ganhou mais de metade dos departamentos na segunda volta de umas eleições com leitura nacional. Socialistas esperam que recuperação económica faça esquecer maus resultados.

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“Nunca uma política tinha encarnado tanto o fracasso a todos os níveis. Do Governo aos executivos governamentais, foi a mentira, a negação, a impotência que foram castigadas”, declarou, abrindo claramente a campanha para as eleições que contam mesmo: as presidenciais de 2017.

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“Nunca uma política tinha encarnado tanto o fracasso a todos os níveis. Do Governo aos executivos governamentais, foi a mentira, a negação, a impotência que foram castigadas”, declarou, abrindo claramente a campanha para as eleições que contam mesmo: as presidenciais de 2017.

Os receados ganhos da Frente Nacional (FN) foram, talvez, sobrestimados - está afastada a possibilidade de conquistar a direcção de um departamento, um nível intermédio da administração territorial francesa. Mas também Marine Le Pen diz que antes de mais, este resultado é “uma plataforma para futuros resultados eleitorais”, a pensar nas presidenciais. Em média, disse ela, os candidatos da FN tiveram “cerca de 40%” dos votos e falharam a vitória por pouco. No total, o partido de Le Pen disputou 834 duelos e 273 disputas a três nesta segunda volta e conseguiu eleger, pelo menos, 50 conselheiros gerais a nível nacional. Nas palavras do secretário-geral do Partido Socialista, “a FN implanta-se sem triunfar”.

Mas, pelo menos no Vaucluse e no Aisne, os dois departamentos onde tinha mais hipóteses de ganhar, parece colocar-se a hipótese daquilo que os analistas designavam como “uma terceira volta”. Isto significa que nenhum partido terá maioria absoluta - essencial para aprovar orçamentos. Ou seja, esta distribuição de forças nos Conselhos Gerais pode torná-los ingovernáveis e a FN desempenhará o papel de fazedor de reis.

Hollande perde em casa
O Partido Socialista, que controlava 61 departamentos, deverá ficar, no final da contagem, com 26 a 30. Mas sofre derrotas humilhantes, passagens de poder para a UMP de Sarkozy que têm um forte valor simbólico, como os departamentos pelos quais são eleitos o Presidente François Hollande (Corrèze), o primeiro-ministro Manuel Valls (Essone), a presidente da Câmara de Lille e ex-dirigente máxima do PS, Martine Aubry (Norte).  

Sarkozy regozijou-se e enterrou a faca com gosto, sublinhando erros tácticos dos socialistas: “Ao anunciar, antes das eleições, que o vosso voto não mudaria nada, o Executivo escolheu ignorar o voto dos franceses”, afirmou o ex-Presidente, referindo-se às notícias dizendo que Hollande não tinha intenção de remodelar o Governo nem de mudar políticas. “Não se muda de Governo a cada eleição”, dizia o Le Monde, citando fontes próximas do Presidente.

Manuel Valls confirmou essas notícias saídas, levantando o véu sobre medidas que o seu Governo vai tomar nos próximos tempos, que se centrarão na retoma económica e na criação de emprego. Reconheceu, no entanto, que se verificou uma “viragem duradoura na paisagem política francesa, com a “incontestável vitória da direita republicana” e “o resultado demasiado elevado da extrema-direita”.

A resposta socialista, no entanto, não passa por inflectir caminho, mas por depositar toda a esperança no crescimento da economia. Pois como diziam fontes do Eliseu ao Le Monde, estes resultados não deixam entrever uma vontade no eleitorado de viragem à esquerda, antes pelo contrário.

Concluindo, uma sondagem para a televisão iTelé mostra que 67% dos franceses considera que Manuel Valls sai enfraquecido destas eleições e Marine Le Pen reforçada. Quanto a Sarkozy, curiosamente, apenas 46% acreditam que sai desta votação mais forte.

A posição do ex-Presidente não é assim tão segura na UMP: ele impôs uma lógica eleitoral de não apoiar candidatos da FN nem do PS da segunda volta. Mas obteve esta vitória concorrendo aliado a um partido do centro, a União de Democratas e Independentes. Isto parece dar razão à estratégia de alargamento a outro partido do centro, o MoDem, defendida por Alain Juppé, o seu rival nas primárias para escolher o candidato da UMP às presidenciais de 2017.