Jeremy Clarkson brinca com a sua suspensão da BBC

Mais de meio de milhão de pessoas assinaram petição a pedir que o Top Gear seja reposto.

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Comecemos pela figura polémica: Jeremy Clarkson é uma máquina de criatividade (os seus programas destacam-se dos outros pela forma original como testa os carros), ao mesmo tempo que acumula problemas.

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Comecemos pela figura polémica: Jeremy Clarkson é uma máquina de criatividade (os seus programas destacam-se dos outros pela forma original como testa os carros), ao mesmo tempo que acumula problemas.

Já tinha sido acusado de racismo por usar a palavra nigger (preto) durante filmagens; catalogou como “egoístas” as pessoas que se suicidam debaixo de comboios; disse que os trabalhadores grevistas deviam ser fuzilados; usou um termo racista num programa filmado na Birmânia; e acabou o ano de 2014 a conduzir um Porsche na Argentina com a matrícula H982 FKL, o que muita gente entendeu como uma referência ao conflito nas Malvinas/Falklands que opõe a Argentina e o Reino Unido.

O último caso terá acontecido na semana passada. A BBC qualificou a cena como um “fracas” (uma discussão violenta) com um produtor. A imprensa inglesa tem vindo a dar pormenores: Clarkson terá dado um murro ao produtor Oisin Tymon, alegadamente por não haver comida quente após um dia de filmagens em Newcastle.

Desta vez, a estação pública suspendeu tanto Clarkson como a emissão do programa, num caso que vai continuar a dar que falar.

Com um batalhão de jornalistas à sua espera à porta de casa, Clarkson comentou nesta quarta-feira o caso, pela primeira vez de viva voz. À sua maneira claro. “Fui suspenso, não fui? Estou a caminho do centro de emprego”, brincou o apresentador, acrescentando: “Pelo menos poderei ver o jogo do Chelsea esta noite [a equipa de Mourinho jogou em Londres e foi eliminada pelo PSG].

A BBC tem agora um dossier difícil pela frente. Por um lado, a pressão de não ser condescendente com uma figura que tem acumulado polémicas. Por outro, a pressão de parte da opinião pública e o receio de perder a sua estrela para a concorrência.

Até esta quarta-feira mais de 500 mil pessoas assinaram uma petição a solicitar que o Top Gear seja reposto na grelha da BBC2. O programa é visto, em média, por cinco milhões de telespectadores todos os domingos em Inglaterra, estimando-se que tenha uma audiência global de 350 milhões de pessoas, segundo dados da própria BBC.

O Guardian alerta ainda para outros dois riscos que a estação pública britânica corre. Um é que os canais internacionais que compraram os direitos de transmissão do Top Gear podem exigir indemnizações – o programa é transmitido em mais de 200 países.

O outro risco é que Clarkson se mude para outro canal, até porque o seu contrato termina no final do mês. O Guardian lembra que a ITV e o Channel 4 já tentaram, em ocasiões anteriores, contratar o apresentador.

Este caso atingiu tal proporção em Inglaterra que até o primeiro-ministro, David Cameron, o comentou: “Não sei exactamente o que aconteceu. Ele é meu amigo e um grande talento”, disse Cameron, citado pela BBC.

O primeiro-ministro confessou que a suspensão do Top Gear foi uma desilusão (ele e os filhos são fãs do programa), mas garantiu que não quer interferir: “O primeiro-ministro tem muitas responsabilidades, mas infelizmente garantir o futuro do Top Gear não é uma delas.”

A emissão do programa de domingo foi suspensa e os  episódios desta série que já foram gravados poderão igualmente não ser exibidos. Algo que já mereceu a contestação de Clarkson no Twitter: “Como é que a BBC pode não exibir os restantes episódios de Top Gear? Isto não pode ser resolvido sem fazer os fãs sofrerem?”, questionou.