Strauss-Kahn não se vê como organizador das suas orgias

Ex-director do FMI depôs pela primeira vez em tribunal no julgamento em que é acusado de proxenetismo. DIz que havia só quatro festas por ano.

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É nesta cidade do Norte de França que está a decorrer o julgamento no qual Strauss-Khan é réu, juntamente com outras 13 pessoas, de um caso que começou por ser uma investigação sobre uma rede de tráfico de mulheres centrada no Hotel Carlton de Lille para se transformar na denúncia dos hábitos sexuais do homem que se esperava que fosse o próximo Presidente socialista de França.

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É nesta cidade do Norte de França que está a decorrer o julgamento no qual Strauss-Khan é réu, juntamente com outras 13 pessoas, de um caso que começou por ser uma investigação sobre uma rede de tráfico de mulheres centrada no Hotel Carlton de Lille para se transformar na denúncia dos hábitos sexuais do homem que se esperava que fosse o próximo Presidente socialista de França.

Com activistas das Femen de seios nus à porta a atirarem-se contra o carro de Strauss-Kahn, o julgamento concentra atenções em França. Uma das testemunhas de acusação disse ter sido contratada para ter relações sexuais com Strauss-Kahn numa dessas festas em Paris, em que participava sempre um núcleo fixo de amigos do ex-responsável do FMI e dirigente do Partido Socialista francês.

Ela descreve o que se passou quando ficou num quarto sozinha com Strauss-Kahn como algo muito desagradável. “Não era violência, era uma relação de força”, explicou. Deu-lhe a entender por gestos que não se sentia confortável com o que ele queria fazer. Mas consentiu. “Precisava mesmo do dinheiro e tinha medo que não mo dessem”, contou em tribunal. “Ele estava a sorrir, do princípio ao fim.”

Da leitura da acusação é aceitável crer que Strauss-Kahn não tenha pago nunca a nenhuma prostituta que participou nas festas. Ele expressou o seu “horror” ao sexo pago. Os custos seriam cobertos pelos empresários David Roquet e Fabrice Paszkowski, e pelo alto quadro da polícia Jean-Christophe Lagarde, que participavam sempre nas orgias, que se realizaram em Paris, Lille e mesmo em Washington, quando Strauss-Khan era director do FMI. O que se suspeita é que Strauss-Khan fosse o “rei da festa”, o instigador destas orgias, explica a AFP.

Strauss-Kahn, em tribunal, procurou diminuir o peso destas festas sexuais. “Encontrámo-nos 12 vezes durante o período em questão [2008-2011], ou seja, mais ou menos quatro vezes por ano. Mas, quando se lê a acusação, parece que houve uma actividade frenética, que ninguém fazia mais nada. Não havia esse descontrolo que a acusação sugere”, frisou.

“Houve troca de sms, mas não comunicávamos assim com tanta frequência. Digo-o sem pretensão, tinha outras coisas para fazer”, afirmou o ex-dirigente do FMI. “Foi a altura da crise dos subprimes. E digo-o, desta vez com pretensão, salvámos o planeta de uma das maiores crises financeiras da história”, afirmou Strauss-Kahn.

A carreira política de Strauss-Kahn ruiu após a sua prisão, em Maio de 2011, em Nova Iorque, acusado de violar uma camareira do Hotel Sofitel. A seguir, foi a revelação pública deste caso em França, que acabou definitivamente com as suas possibilidades de se candidatar às presidenciais de 2012 – e de vir a desempenhar outro cargo político.

Concentrou-se por isso na salvaguarda da sua reputação económica, como conselheiro económico da Sérvia e de duas instituições financeiras russas próximas de Vladimir Putin, segundo o Le Monde. Mas surgiu um novo ponto de ruptura no percurso de Strauss-Kahn com a falência e o suicídio, em Outubro de 2014, em Telavive, do financeiro franco-israelita Thierry Leyne, com o qual  estava a preparar o lançamento de um novo fundo de investimento.