Nova administração da RTP garante que não fará despedimento colectivo

Nova administração defende uma orientação clara para o serviço público, aposta na modernidade e eficiência e equilíbrio económicos. Mas avisa que as mudanças vão demorar a sentir-se nos canais.

Foto
Gonçalo Reis com António Feijó hoje no Parlamento Daniel Rocha

“Não vai haver despedimento colectivo; a figura do despedimento não existe [com esta administração], não a vamos aplicar, não vamos trabalhar com esse cenário”, afirmou categoricamente Gonçalo Reis aos deputados da Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação. “O fantasma do despedimento colectivo, que desestabiliza a empresa, é uma carta que não vamos jogar”, reiterou.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“Não vai haver despedimento colectivo; a figura do despedimento não existe [com esta administração], não a vamos aplicar, não vamos trabalhar com esse cenário”, afirmou categoricamente Gonçalo Reis aos deputados da Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação. “O fantasma do despedimento colectivo, que desestabiliza a empresa, é uma carta que não vamos jogar”, reiterou.

“Já estive em processos de redução de pessoas, nunca estive em qualquer despedimento colectivo. Não sei como se fazem e não tenciono aprender. É um instrumento agressivo que só deve ser utilizado em última instância. Nós não tencionamos fazer nenhum despedimento colectivo”, repetiu o presidente.

Admitindo não ter ainda a “fotografia” da estrutura da empresa – termo que, aliás, os três administradores usaram em relação à maioria dos assuntos -, Gonçalo Reis admitiu, no entanto, vir a “equilibrar acções de redução de pessoal com contratação de pessoal”, lembrando que foi essa a estratégia também seguida pela administração liderada por Almerindo Marques, entre 2002 e 2007, de que fez parte. “Essa mistura é muito importante”, vincou o gestor.

Considerando os trabalhadores como um “tema estruturante”, a administração contou que ainda não se reuniu nem com os trabalhadores nem com sindicatos.

“A nossa visão da RTP é a de uma empresa com determinada ambição, e as coisas fazem-se com competências. A RTP é uma empresa pública num sector em competição, e é importante que tenha o know-how, o saber fazer na produção de conteúdos”, afirmou Gonçalo Reis. Realçou que, tal como as outras empresas públicas, a RTP também tem “restrições orçamentais” e que a actual administração previa fazer 200 rescisões amigáveis este ano.

“Vamos ter que encontrar as maneiras de dotar a RTP dos recursos adequados. Isso vai ser feito numa lógica que pode ter vários elementos: provavelmente haverá áreas sobredimensionadas e outras subdimensionadas.” E justificou: “Por vezes é possível que seja preciso deixar sair alguma quantidade para que entre alguma qualidade.”

No início da sua intervenção perante os deputados, Gonçalo Reis afirmou que o plano estratégico da nova administração se baseia em três eixos e foi elaborado “em folha branca”, ou seja, sem ter ido “repescar” documentos anteriores como o plano de desenvolvimento e redimensionamento usado pela equipa de Alberto da Ponte.

Os três pilares da nova RTP
O plano da nova administração da RTP baseia-se em três pilares estratégicos: “orientação clara no sentido de prestação do serviço público, aposta na modernidade e novas plataformas multimédia, e lógica de eficiência empresarial e equilíbrio económico”, enumerou Gonçalo Reis, o presidente indigitado.

“O serviço público é o ponto central a partir do qual tudo o resto deriva. A RTP deve ter uma política de conteúdos, posicionamento de qualidade e de referência, que sejam diferenciados do panorama audiovisual e complementar à oferta dos privados”, descreveu o gestor. “Falamos de uma orientação de ter a RTP como agente de qualidade, de promoção, de divulgação dos talentos nacionais, da criatividade, ficção, documentários, ciências, artes, língua portuguesa. Fazer da RTP uma janela para Portugal e para o mundo da criatividade.”

A intenção é ter uma RTP com uma “política estruturada de produção de conteúdos” que combine a produção interna com a mobilização do sector independente, para “promover a fileira da produção nacional”. “Ao contrário do que é tradição na RTP, a política de conteúdos tem que ser definida pelas áreas e responsáveis de conteúdos. As áreas comerciais devem trabalhar com as de conteúdos, mas são estas últimas que definem o produto”, defendeu Gonçalo Reis.

“O que quer que venha a ser feito nos conteúdos será dirigido pelos respectivos directores de informação e programação”, complementou o administrador Nuno Artur Silva. E avisou: “Dentro dessas linhas estratégicas é importante perceber que quaisquer mudanças de fundo não serão imediatas.”

O segundo eixo desta estratégia passa pela “aposta sistematizada na área dos novos media, novas plataformas e multimédia”. O mercado e o tipo de consumo dos espectadores sofreram uma “alteração brutal”, daí que a RTP deva ter uma “abordagem muito pró-activa do digital”. Oferecendo conteúdos online e em diversas plataformas feitos especificamente para esse efeito e adaptando outros conteúdos, internos e externos, a esses novos media.

O terceiro eixo assenta na “eficácia empresarial e na sustentabilidade económica”, pretendendo a nova administração ter a RTP como um exemplo de “excelência na organização, com uma empresa moderna, numa lógica de transparência, boas práticas, posicionamento de responsabilidade e de bom serviço”.

Para isso, Gonçalo Reis considera que é preciso ter uma “organização mobilizadora, equipas bem estruturadas, com competências adequadas e cultura de mérito, desempenho e produtividade”.

“A RTP só cumpre os seus objectivos se for capaz de reter talento, captar talento e desenvolver talento. Saiu muita gente da RTP com qualidades e competências e há áreas estratégicas de produção em que é preciso reforçar o lado qualitativo.”

Presidente admite pedir mais financiamento no futuro
Questionado sobre o financiamento, o novo presidente preferiu jogar pelo seguro. “O financiamento é o que está definido, temos que jogar com as regras que estão no jogo.” Admitiu bater-se por mais financiamento no futuro, mas para já é preciso conceber a nova RTP com as fontes possíveis pela lei no quadro actual: os perto de 165 milhões de euros da CAV – contribuição para o audiovisual representam 80% do total das receitas, vindo o resto da publicidade. “Os custos operacionais têm que se enquadrar nos meios de financiamento.”

Acerca dos objectivos para as audiências, o presidente seguiu a mesma táctica. Lembrou que até há poucos anos não havia esse tipo de objectivos e “se houve recentemente objectivos quantificados, altos na fasquia ambicionada, nós não vamos cair no erro oposto das audiências mínimas”. “Não quero quantificar, mas há que encontrar um equilíbrio com uma programação diferenciadora, ganhar os vários públicos e ganhar respeito e credibilidade.”

Apesar de há um ano ter criticado o actual modelo de governance da RTP definido pelo Governo, com a criação do Conselho Geral Independente, que considerou uma “opção sofisticada mas arriscada”, Gonçalo Reis diz-se hoje “completamente confortável com o modelo de governo” da RTP. “O resultado final do CGI é um quadro muito qualificado, com gente culta, que sabe do sector, que tem uma visão do serviço público muito alinhada com o que defendemos”, elogiou o futuro presidente, que ainda não sabe quando tomará posse.