Em alta nas sondagens, oposição irlandesa também exige reestruturação da dívida
Os partidos da oposição, como os nacionalistas de esquerda do Sinn Féin, vão de vento em popa há meses nas sondagens e as eleições gregas vieram acentuar essa tendência.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Os partidos da oposição, como os nacionalistas de esquerda do Sinn Féin, vão de vento em popa há meses nas sondagens e as eleições gregas vieram acentuar essa tendência.
"Este fardo de dívida insuportável que foi imposto ao nosso país é a principal causa da nossa miséria económica", argumenta Gerry Adams, que já falou ao telefone com o novo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras. "Não se trata apenas de um problema irlandês, mas sim de um problema europeu que necessita de uma solução europeia", disse o líder do Sinn Féin, que reclama uma conferência europeia sobre a dívida, tal como os novos lideres políticos gregos.
O Syriza foi o grande vencedor das eleições gregas do passado domingo e nos últimos dias multiplicou os anúncios de medidas antiausteridade, como o aumento do salário mínimo, a reintegração de milhares de funcionários e o aumento das pensões dos reformados mais pobres.
A situação da Irlanda, que saiu do plano de resgate acordado pelos seus parceiros europeus e o Fundo Monetário Internacional, é bastante mais invejável do que a da Grécia. O país espera para este ano 3,9% de crescimento económico, depois dos 4,7% alcançados em 2014, o desemprego recuou e, ao fim de sete anos de rigor orçamental, o país saiu oficialmente da austeridade em Outubro do ano passado.
Mas a Irlanda ainda tem de pagar as suas dívidas, e o Sinn Féin reclama agora uma renegociação, nomeadamente sobre os 64 mil milhões de euros que foram injectados no sistema bancário para evitar o seu colapso depois da crise financeira de 2008.
Eleições em 2016
O Governo irlandês sublinha que já reestruturou a sua dívida por quatro vezes e sem drama. Esta semana, o FMI voltou a elogiar o "bom arranque" da retoma económica, ao mesmo tempo que encorajou o executivo de Enda Kenny (Fine Gael, centro-direita) a atacar a dívida com mais vigor.
Os progressos económicos e orçamentais do país não impediram a queda da popularidade dos partidos de governo para níveis historicamente baixos, especialmente depois da introdução de um polémico imposto sobre a água da torneira no início do ano, uma decisão que levou dezenas de milhares de pessoas a protestarem na rua.
Os observadores interrogam-se se, tal como aconteceu na Grécia, a maré também não vai mudar na Irlanda, depois de décadas de domínio dos dois partidos de centro-direita, Fine Gael e Fianna Fáil.
"Temos o potencial para uma reviravolta eleitoral semelhante aqui na Irlanda, mas também em Portugal e em Espanha", diz Nat O’Connor, do think thank de esquerda Tasc.
Com eleições previstas para 2016, a República da Irlanda já está a seguir atentamente o que se está a passar na Grécia, na outra ponta da zona euro. "Se os gregos obtiverem melhores condições graças ao Governo que elegeram, então os irlandeses vão seguir-lhes o exemplo, convencidos de que esta é a verdadeira solução para os seus problemas", vaticina o comentador político Johnny Fallon.
Mas outros sublinham que a situação da Irlanda é bem diferente e bem mais favorável do que a da Grécia, com a diminuição do desemprego e a perspectiva de um aumento das receitas. A sua economia é flexível, foi reformada em profundidade e exporta para o resto do mundo, sublinha Austin Hughes, economista do banco KBC.
"O desafio que o Governo enfrenta é o de dar confiança às pessoas, convencendo-as de que estão no bom caminho, sem, no entanto, gerar expectativas irrealistas em relação ao que se pode razoavelmente esperar do desempenho da economia", conclui Hughes.