Islamistas da Nigéria poderão ter matado 2000 pessoas na tomada de Baga

O último bastião de resistência ao avanço do Boko Haram no Nordeste do país caiu.

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O líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, já proclamou o nascimento de um Califado Islâmico APF

Segundo a BBC, houve um novo ataque na quarta-feira, a cidade ardeu quase completamente, e os islamistas estão agora a atacar as zonas em redor, perseguindo os habitantes em fuga. Algumas fontes falam em dois mil mortos, o que, a confirmar-se, equivaleria, num único ataque, à totalidade de mortos do último ano, de acordo com o Washington Post (WP).

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Segundo a BBC, houve um novo ataque na quarta-feira, a cidade ardeu quase completamente, e os islamistas estão agora a atacar as zonas em redor, perseguindo os habitantes em fuga. Algumas fontes falam em dois mil mortos, o que, a confirmar-se, equivaleria, num único ataque, à totalidade de mortos do último ano, de acordo com o Washington Post (WP).

Com a queda de Baga, o Boko Haram passa a dominar 70% do território do estado de Borno, no Nordeste do país, junto à fronteira com o Chade. Em Agosto, o líder do grupo, Abubakar Shekau, anunciou o estabelecimento na zona que controla do Califado Islâmico – desde essa altura que Baga, junto às margens do lago Chade, era o único bastião resistente. É difícil saber-se exactamente o que se passou, mas uma coisa parece certa, e confirmada por fontes governamentais citadas pelo WP: Baga, que tinha uma população de 10 mil pessoas, já não existe.

Um homem que conseguiu escapar contou à AFP que teve de contornar “muitos corpos mortos no chão” e que “a cidade estava toda em chamas”. Outro sobrevivente citado pela Reuters afirma que viu “mulheres e crianças a gritar por ajuda”. Um senador local, Maina Naaji Lawan declarou, por seu lado, à BBC que “a matança indiscriminada continuou e continuou”.

Algumas pessoas tentaram fugir nadando até uma ilha próxima, mas muitas ter-se-ão afogado no lago Chade. Os que conseguiram chegar à ilha terão, segundo disse à AFP Abubakar Gamandi, do sindicato de pescadores do estado de Borno, ficado isolados e estão a morrer de fome, frio e malária. Gamandi conseguiu contactar este grupo por telefone e diz tratar-se de cerca de 560 pessoas.

Haverá também, sempre segundo a AFP, pessoas em fuga em direcção a Maiduguri, capital do estado de Borno, a cerca de 200 quilómetros para sul, e outras em direcção ao Chade. Musa Bukar, responsável administrativo de Maiduguri, confirmou a chegada de 20 mil deslocados provenientes de Baga, mas contou também que muitos que fugiam por estrada foram perseguidos pelos islamistas em motorizadas que os mataram a tiro. “Há corpos caídos, mas não é prudente ir buscá-los para os enterrar”.

Com a conquista de Baga, o Boko Haram passa a controlar as fronteiras estratégicas da Nigéria com o Chade, o Níger e os Camarões. Há receios de uma alastramento da tensão, depois de o líder do movimento islamista ter proferido, esta semana, ameaças contra os Camarões e o seu presidente Paul Biya. No dia 28 de Dezembro, guerrilheiros do Boko Haram atravessaram o leito seco de um rio e entraram no território dos Camarões. “Pode ter sido uma tentativa de estabelecer controlo sobre uma importante parte da região Norte dos Camarões, onde o grupo tem estado activo e tem recrutado combatentes”, explicou o think tank Statfor Global Intelligence, citado pelo WP.

O presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, realizou entretanto o seu primeiro comício para as eleições do próximo mês, nas quais luta por um segundo mandato. Jonathan tem sido alvo de duras críticas por não estar a fazer o suficiente para pôr termo ao avanço dos islamistas, que já provocou milhares de mortos desde 2009.