Morena Baccarin sobre a sua estreia em Gotham: “Ela é uma mulher muito forte”

A actriz de Firefly e Homeland foi uma das convidadas de honra do primeiro Comic Con Portugal. Falámos com ela nas vésperas da sua estreia na série Gotham, onde vai estar ao lado do protagonista, o detective James Gordon.

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Percebe-se que o fogo-de-artifício de Hollywood não faz o género de Morena Baccarin, mesmo depois de ter estado bem perto dele por causa de Jessica Brody, papel que interpretou nas primeiras três temporadas de Homeland (Segurança Nacional) e lhe valeu uma nomeação para os prémios Emmy na categoria de Melhor Actriz Secundária numa série dramática.

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Percebe-se que o fogo-de-artifício de Hollywood não faz o género de Morena Baccarin, mesmo depois de ter estado bem perto dele por causa de Jessica Brody, papel que interpretou nas primeiras três temporadas de Homeland (Segurança Nacional) e lhe valeu uma nomeação para os prémios Emmy na categoria de Melhor Actriz Secundária numa série dramática.

Mas Homeland já é passado. O presente chama-se Gotham, série da Fox onde Baccarin será uma das personagens principais a partir do episódio 11 da primeira temporada, que será emitido a 5 de Janeiro de 2015 nos EUA e a 10 Março em Portugal (a série faz uma pausa dia 13 de Janeiro na televisão portuguesa). Também por isso foi uma das convidadas de honra da primeira edição do Comic Con Portugal, evento de cultura pop que levou mais de 30 mil pessoas à Exponor, em Matosinhos, no penúltimo fim-de-semana, e onde o PÚBLICO teve oportunidade de fazer uma entrevista-relâmpago à actriz.

Uma actriz que fala inglês e português, este último com um sotaque brasileiro ainda bem conservado. Morena Baccarin, 35 anos, nasceu no Rio de Janeiro em 1979, mas em criança mudou-se com a família para Nova Iorque. Lá decidiu seguir os passos da mãe, a actriz Vera Setta. Teve os primeiros papéis em 2001, no cinema, mais precisamente na comédia Perfume e no filme indie Way Off Broadway. No ano seguinte entra em Firefly, série de ficção científica de culto de Joss Whedon, que durou apenas uma temporada mas garantiu a Morena Baccarin uma base de fãs sólida e duradoura, sobretudo no universo da cultura geek (e foram várias as perguntas sobre Firefly durante a sua conversa aberta com o público no Comic Con Portugal). O círculo de fãs sci-fi da actriz alargou-se com a sua participação em Stargate SG-1 e, mais recentemente, em V, onde teve um papel de destaque. Graças a Firefly e V, tornou-se presença regular no Comic-Con de San Diego, a mais mediática convenção do género.

Em Firely e em Serenity – filme que funcionou como capítulo final da série, terminada abruptamente – Morena Baccarin é Inara Serra, uma das habitantes mais respeitáveis e influentes da nave Serenity. Tudo normal, não fosse ela uma prostituta. A par de Buffy, A Caçadora de Vampiros, Inara Serra é uma das personagens mais marcantes criadas por Joss Whedon, reflectindo as preocupações feministas do realizador e a sua vontade em retratar, de uma forma benigna, membros marginalizados da sociedade. A prostituição é aqui uma profissão regulamentada e dignificante, cabendo às acompanhantes escolher os seus clientes, como ditam as leis do sindicato.

Morena Baccarin não considera as séries de ficção científica “necessariamente a [sua] zona de conforto” (já passou por séries muito diferentes entre si, como The O.C., Heartland ou The Mentalist), mas admite que acaba sempre por regressar a este género porque é “onde estão muitos papéis femininos fortes”, diz ao PÚBLICO. “As mulheres têm destaque neste universo, também porque há uma audiência grande para tal”. Joss Whedon, percursor de um certo tipo de ficção científica com coração, mais humanista, é “um dos grandes responsáveis” pelo empoderamento feminino neste departamento, considera a actriz.

Gotham, a nova aventura

Depois de Anna, a esfíngica e imperturbável alien que encarnou em V, Morena Baccarin voltou em força à televisão com Homeland, em 2011. Foi Jessica Brody, mulher do protagonista Nicholas Brody (Damian Lewis), um sargento americano aprisionado pela Al Qaeda durante oito anos. Este papel permitiu a Baccarin chegar a um público mais amplo e heterogéneo, e valeu-lhe a primeira nomeação para um Emmy na categoria de Melhor Actriz Secundária numa série dramática. Não ganhou, mas acredita que a nomeação pode “ajudar a abrir mais portas” na sua carreira.

Uma coisa é certa: Homeland foi “um trabalho muito diferente” dos anteriores. “Numa série como aquela tens de dar o teu melhor e não há maneira de não te comprometeres a 100%. Nenhum dia de trabalho foi fácil, não podias estar mais despreocupada ou dizer que estavas cansada. Esse nível de trabalho faz um actor crescer”, conta ao PÚBLICO. “Para desanuviar, nas horas de pausa passava muito tempo a beber vinho com a Claire", Danes, Carrie Mathison na série, que curiosamente foi colega de turma de Morena no liceu. "Foi um trabalho muito intenso”.

Actualmente, Morena Baccarin está ocupada com Gotham, “a melhor estreia da Fox em Portugal em 2014”, segundo o próprio canal. Idealizada por Bruno Heller, esta série policial tem a particularidade de se passar em Gotham, a cidade de Batman, nos anos formativos de Bruce Wayne, que aqui é uma personagem secundária, antes de se mascarar de morcego para espancar foras-da-lei.

Morena Baccarin vai vestir a farda da psicóloga Leslie Thompkins, personagem criada nos anos 70 pelo escritor Dennis O’Neil (com o desenhista Dick Giordano) que funciona como figura maternal do órfão Bruce Wayne e, anos mais tarde, como confidente das cruzadas do super-herói, opondo-se muitas vezes às suas acções violentas. A intenção original de O’Neil, envolvido na altura em movimentos socialistas, era criar um contraponto esquerdista para Batman, abordando a questão do crime com um olhar mais crítico e humanista.

Na série, esta personagem (como tantas outras) afasta-se do figurino original, adianta Morena Baccarin. “Ela é uma mulher muito forte e muito esperta que vai entrar numa relação amorosa com o detective James Gordon”, protagonista de Gotham, interpretado por Ben McKenzie, a estrela de The O.C.. Começam a trabalhar juntos no hospital psiquiátrico Arkham Asylum, que alberga os criminosos mais perigosos da cidade. “Ela consegue lidar com o trabalho que ele está a fazer”, acrescenta a actriz.

As expectativas são altas – as de Morena e as dos fãs, que no auditório do Comic Con Portugal irromperam em aplausos e gritos mal ouviram a palavra "Gotham" pela primeira vez.