Um lugar especial

A música de Norberto Lobo expande-se entregue a um maravilhoso e maravilhado talento

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Há uma força majestosa, mistério telúrico, a emanar da música que Norberto Lobo continua a extrair da guitarra Miguel Madeira

Já não é a guitarra, simplesmente a guitarra e a capacidade de se pôr a si próprio e a tanta gente, tanta informação, dentro dela. Já não é apenas isso, sabe quem o acompanha ao vivo. Não é apenas esse tanto há muito. A música de Norberto Lobo expande-se entregue à viagem (uma intuição consequente, digamos) e à curiosidade e ao talento do seu autor, tão maravilhado com o som como capaz de o moldar ao seu desejo (coração e cabeça trabalhando em uníssono).

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Já não é a guitarra, simplesmente a guitarra e a capacidade de se pôr a si próprio e a tanta gente, tanta informação, dentro dela. Já não é apenas isso, sabe quem o acompanha ao vivo. Não é apenas esse tanto há muito. A música de Norberto Lobo expande-se entregue à viagem (uma intuição consequente, digamos) e à curiosidade e ao talento do seu autor, tão maravilhado com o som como capaz de o moldar ao seu desejo (coração e cabeça trabalhando em uníssono).

Fornalha

. Com ela, também baptismo do disco, arranca esta colecção de cinco canções, qual música de câmara dilacerada, com as cordas da guitarra atacadas com arco, com o som produzido a multiplicar-se em novas dimensões através dos pedais de efeitos. Ouvimo-lo a ser moldado, a liquefazer-se sem que o impacto se dilua. Há uma força majestosa, mistério telúrico, a emanar desta música. 

O quinto álbum em nome próprio de Norberto Lobo parece abrir um novo caminho no seu percurso. Não o entendamos como um corte com o que lhe conhecemos — Norberto não é homem para apagar as pegadas que foi deixando. A gravidade de uma certa melancolia, latina e mediterrânica, com sensibilidade à flor da pele, continua aqui, ou sugerida ou explícita como na belíssima Fran, mas a música expande-se. É construída com guitarra, loops e pedais de efeitos, e tem a voz a surgir espaçada e discreta, mas lá dentro cabem bordões que serenam, imaginamos sanfonas e violoncelos, deliramos com bailados de Shiva (e o Oriente aqui tão perto) e sonhamos que é o som rude mas encantatório do n’gnoni, o cordofone africano, aquilo que ouvimos.

Na Eu amo final, longa de dez minutos (justíssimos dez minutos), caminhamos do zumbido, massa sonora densa, ao bailado em frenesim (e damos por nós a pensar que Norberto Lobo já musicou as perseguições mares adentro e os rituais tribais do Tabu de Murnau, filmado sob o sol da Polinésia). Isso antes de, aparentemente, tudo serenar quando a voz ensaia uma melodia dolente, solar. Aparentemente, porque a guitarra há-de caminhar de forma surpreendente sobre o tapete sonoro criado. Em Fornalha, Norberto Lobo é mais do que lhe conhecíamos. Mantém a familiaridade que fomos construindo ao longo de quatro álbuns enquanto nos desafia as expectativas. Continua num lugar especial. Dele, totalmente dele. É um privilégio que nos abra as portas para que o possamos visitar.