Uma figura histórica

O primeiro-ministro resolveu agora pedir “paciência” aos portugueses, como se não soubesse que a “paciência” se esgotou em definitivo no país.

De facto, o primeiro-ministro resolveu agora pedir “paciência” aos portugueses, como se não soubesse que a “paciência” se esgotou em definitivo no país. Pior ainda, adoptou um tom paternal e carinhoso para explicar à populaça por que razão era preciso que ela continuasse na miséria; e, falando baixo, insinuou que só a sua alta sabedoria podia perceber o que verdadeiramente se passava. Da sua boca saía a verdade límpida e salvífica, da boca da oposição a babugem nojenta da mentira. Veio também a cena de heroísmo, muito típica destes melodramas. Passos Coelho jurou em público, numa tirada de filme “b”, que nunca abandonaria Nuno Crato. “Até à morte ou à vitória, pela nossa honra, S. Jorge e Portugal”, disse ele aproximadamente ao abananado matemático. A audiência quase que chorava.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

De facto, o primeiro-ministro resolveu agora pedir “paciência” aos portugueses, como se não soubesse que a “paciência” se esgotou em definitivo no país. Pior ainda, adoptou um tom paternal e carinhoso para explicar à populaça por que razão era preciso que ela continuasse na miséria; e, falando baixo, insinuou que só a sua alta sabedoria podia perceber o que verdadeiramente se passava. Da sua boca saía a verdade límpida e salvífica, da boca da oposição a babugem nojenta da mentira. Veio também a cena de heroísmo, muito típica destes melodramas. Passos Coelho jurou em público, numa tirada de filme “b”, que nunca abandonaria Nuno Crato. “Até à morte ou à vitória, pela nossa honra, S. Jorge e Portugal”, disse ele aproximadamente ao abananado matemático. A audiência quase que chorava.

O dr. Passos Coelho e os seus fiéis julgam que fizeram uma grande obra. Já se esqueceram que a troika os forçou a fazer o que fizeram. Como se esqueceram, com certeza por intervenção do Altíssimo, que não cumpriram o programa (aliás, duvidoso) a que se tinham comprometido. Aumentaram a receita do Estado, sem inteligência ou perícia; e fugiram de reformas substanciais com vigarices, com pretextos e com uma insondável indolência. Quando o dr. Passos Coelho, lá para Outubro, for delicadamente posto na rua, o Governo seguinte com um bocado de papel e uma caneta arrasará numa hora tudo ou quase tudo o que ele deixou. Entrou provavelmente na cabeça do primeiro-ministro a ideia perigosa de “deixar um exemplo”. E deixou. Deixou um exemplo de trapalhada, de superficialidade e de ignorância. Ou seja, nada de original.