Compra da ES Saúde coloca investimento chinês em Portugal nos 5300 milhões de euros

Em três anos, a presença chinesa deixou de ser discreta e assumiu uma especial relevância em sectores como a energia e seguros, a que se junta agora a saúde.

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Para já, é certo que a Fosun/Fidelidade conseguiu ficar com 51% do capital, a participação que as empresas que controlam a Espírito Santo Health Care Investments (ESHCI) decidiram vender na oferta pública de aquisição (OPA) lançada pelos chineses. Por esta fatia de capital, a Fosun vai pagar 244,1 milhões de euros, mas mais accionistas irão vender. Se todos aceitarem – e podem fazê-lo até terça-feira – o valor investido pelos chineses sobe para 478,6 milhões.

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Para já, é certo que a Fosun/Fidelidade conseguiu ficar com 51% do capital, a participação que as empresas que controlam a Espírito Santo Health Care Investments (ESHCI) decidiram vender na oferta pública de aquisição (OPA) lançada pelos chineses. Por esta fatia de capital, a Fosun vai pagar 244,1 milhões de euros, mas mais accionistas irão vender. Se todos aceitarem – e podem fazê-lo até terça-feira – o valor investido pelos chineses sobe para 478,6 milhões.

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Esta é a última de várias investidas que empresas chinesas (estatais e privadas) têm lançado nos últimos anos no mercado português (e europeu), onde o apetite se intensificou com a vaga de privatizações lançadas pelo Governo depois da chegada da troika e com o enfraquecimento dos grupos nacionais. Nesta movimentação de capitais (de 2012 a 2014), a Fosun assume uma fatia preponderante. Dos 5380 milhões de euros investidos durante os três anos, 40,8% vieram das mãos da Fosun.

Hoje, a empresa dominada por Guo Guangchang (detém 58%) está presente em três sectores de actividade: na área seguradora, através dos 80% detidos na Fidelidade; no sector da energia, pela posição de 4,7% na REN; e, agora, no negócio privado da gestão hospitalar, com a entrada na ES Saúde, onde ficará com uma posição superior a 51%.

A Fosun não foi a primeira a protagonizar as grandes investidas chinesas, embora seja agora o grande rosto desse avanço. Em 2012, a China Three Gorges (CTG, de capitais públicos) fechou a compra de 21,35% do capital da EDP, pelos quais pagou 2700 milhões de euros. A State Grid (também estatal) viria no mesmo ano a ficar com 25% da REN, desembolsando 387 milhões. A Beijing Enterprises Water protagoniza em 2013 a compra da totalidade do capital da Compagnie Générale des Eaux Portugal, por 95 milhões de euros. Só depois entra em campo a Fosun: primeiro, em Maio, ao oficializar a entrada no capital da Fidelidade e, pouco depois, com uma investida sobre a REN, onde a seguradora detém agora 4,8% (e onde está também, além da State Grid, a CTG, por via da EDP).

Antes de todas estas movimentações, foi a Sinopec (estatal) quem entrou, em 2011, na subsidiária da Galp no Brasil, ao pagar 4800 milhões de euros por uma fatia de 30% do capital da Petrogal Brasil. No mercado nacional também já entraram o ICBC e o Bank of China.

Portas abertas
Na Europa, os investimentos chineses sucedem-se. As empresas alvo do interesse comercial vão da agricultura, às energias, passando pela compra de empresas de transportes, sector imobiliário, financeiro e de empresas de tecnologia. E abrangem tanto as maiores potências como as economias mais frágeis, como Portugal e Grécia – que na presença da troika foram forçadas a avançar com privatizações e incentivadas a abrir a economia a capitais estrangeiros.

Se se fizer a conta aos grandes investimentos na Europa num período de dez anos (2005-2014), o “avanço chinês” no Reino Unido, França, Itália, Portugal, Alemanha, Grécia e Espanha já chega aos 48.570 milhões de euros. Portugal surge em quarto nesta lista de países, atrás das apostas nos mercados britânico, francês e italiano (a State Grid entrou na empresa que equivale à REN neste país), mas à frente das compras na Alemanha.

É já certo que a Fosun vai ficar com o controlo da ES Saúde, depois de a ESHCI ter decidido vender a posição de 51% que detém nesta empresa. Mas só no final da OPA, a decorrer até terça-feira, se saberá qual a participação final dos chineses, que vai depender da aceitação da oferta por parte dos restantes accionistas.

Como a ESHCI é controlada pela Rio Forte (em 55% do capital), pelo Novo Banco (em 27,26%) e pela Espírito Santo Financial Group (em 17,74%), os 244,1 milhões de euros que a Fosun vai pagar à empresa será repartido pelas três sociedades em função da posição accionista de cada uma. A Rioforte, em processo de gestão controlada no Luxemburgo, vai arrecadar 134,2 milhões de euros. O Novo Banco encaixa 66,5 milhões de euros. E a ESFG, em insolvência, arrecada 43,3 milhões de euros, mais 16,1 milhões que virão dos 3,38% que detém directamente na ES Saúde.

 A ES Saúde foi alvo de várias ofertas de compra nos últimos meses (ver cronologia). Mas todos os concorrentes foram ficando pelo caminho, e, agora, quase 20% das camas geridas pelos privados em Portugal ficam em mãos estrangeiras. A gestão da ES Saúde já afirmou que vê algumas vantagens na junção de forças com os chineses, como a aposta na medicina tradicional e na “medicina preventiva ou ocupacional”.

Em declarações enviadas ao PÚBLICO no dia 26 de Setembro, o presidente executivo da Fidelidade, Jorge Magalhães Correia, dizia: “Não nos basta ser uma empresa que vende seguros”. Um dos objectivos da Fidelidade é facilitar “o acesso aos cuidados de saúde para um universo mais alargado da população, ainda sem recurso a cuidados de saúde no sector privado”, conforme referiu no seu prospecto da OPA. Outra ideia é avançar com recursos financeiro que permitam à ES Saúde desenvolver a sua estratégia de “diversificação e internacionalização”. Um dos planos da gestão liderada por Isabel Vaz é a abertura de um hospital em Angola.