Brass Wires Orchestra: da rua até ao palco com um disco "ingénuo"

"Cornerstone" é um álbum "ingénuo, mas com muita força". Em entrevista, Miguel da Bernarda explica o percurso da "banda mais bonita do planeta"

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Já abriram para os Bon Jovi; já actuaram no Hard Rock Calling; e já foram destaque na publicação inglesa NME. Com dois anos de existência, os Brass Wires Orchestra são uma banda de "folk" nacional, que iniciou o seu percurso nas ruas de Lisboa, onde tocavam para ganhar alguns trocos, como referem na sua página oficialPassar dos concertos de rua para os grandes palcos foi "um salto importante", refere Miguel da Bernarda, vocalista e compositor dos BWO. "Achámos, na altura, um bocadinho prematuro, mas é quase como ganhar a lotaria, para uma banda que tocava em sítios muito pequeninos. Tocar em grandes festivais" - prossegue - "foi um grande prémio".  

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Já abriram para os Bon Jovi; já actuaram no Hard Rock Calling; e já foram destaque na publicação inglesa NME. Com dois anos de existência, os Brass Wires Orchestra são uma banda de "folk" nacional, que iniciou o seu percurso nas ruas de Lisboa, onde tocavam para ganhar alguns trocos, como referem na sua página oficialPassar dos concertos de rua para os grandes palcos foi "um salto importante", refere Miguel da Bernarda, vocalista e compositor dos BWO. "Achámos, na altura, um bocadinho prematuro, mas é quase como ganhar a lotaria, para uma banda que tocava em sítios muito pequeninos. Tocar em grandes festivais" - prossegue - "foi um grande prémio".  

Miguel criou este projecto porque queria algo que lhe "enchesse as medidas". "A primeira fase dos objectivos que eu tinha com a banda já foi cumprida; gravámos um disco, fizémos um videoclipe e tocámos em festivais. Mas os objectivos não se findam, são eles que nos movem,  eu acho que a partir do momento em que não temos objectivos as coisas morrem", explicou Miguel.

 

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Miguel da Bernarda, vocalista, compositor e impulsionador dos Brass Wires Orchestra DR

O jovem de 28 anos contou ao P3 que a música é a sua única paixão. Tentou outros voos sem sucesso, experimentou Gestão na Católica, mas depressa desistiu. Acabou por se formar no curso de Piloto de Linha Aérea, "sem saber bem porquê". "Na altura, estava um bocado perdido e ainda não tinha coragem para assumir que era música que eu queria fazer e, então, encaminharam-me para essa direcção", nota Miguel. Concluíndo: "E eu acabei por ir, mas nunca quis exercer".

Os BWO gostavam de tocar em festivais internacionais como o Glastonbury, o Coachella, o Bonnaroo e o Primavera Sound. "Era fixe", diz Miguel, que vê a profissão de músico em Portugal como algo "nada fácil". "Os artistas não estão nada beneficiados no que toca a assuntos fiscais e cada vez é mais comum as pessoas acharem que os músicos não merecem os valores monetários que consideramos justos. Mas, apesar disto, existe mercado: eu consigo viver da música. Não vivo à grande, para já, porque o Brass Wires ainda não dá retorno", afirma. Mas não é disto que ele nos fala nesta entrevista. 

O que é que este álbum significa para vocês?

O fecho de uma primeira etapa. Queríamos que as dez primeiras músicas que nós compuséssemos fechassem este ciclo; queríamos com elas editar um álbum e foi o que aconteceu. Foi um marco importante porque só com um trabalho deste género é que as pessoas acabam por nos chamar. Só com alguma coisa deste tipo para promover é que conseguimos ter trabalho.

Defines este álbum como 43 minutos de quê?

De boa música com um quê de ingenuidade, mas com muita força.

Qual é a tua música preferida?

A minha música preferida é a faixa número nove, "Prophet Child".

Existe alguma música no álbum que seja um “resumo” vosso, desde o início?

Tears of Liberty representa isso. É uma das músicas mais antigas, eu já a tinha composto mesmo antes de ser BWO e, portanto, acho que representa tudo o que nós somos.

O vosso disco fala muito de independência, vocês querem tornar-se independentes do quê?

De rótulos, de comparações. Queremos ter a capacidade de sermos nós e de nos distinguirmos pela nossa identidade.

Em que é te inspiras para compôr?

Em histórias que me aconteceram, em histórias que aconteceram a outras pessoas, em histórias que nunca aconteceram. Inspiro-me em tudo.

Há algum lugar onde gostes, especialmente, de compôr?

Sim. Havia um sítio específico onde costumava compôr, mas esse sítio já não existe. Era um cantinho na sala da minha casa, onde havia uma mesa de jantar, que foi onde escrevi a maior parte deste disco. Neste momento, a mesa já não lá está, tirei-a e coloquei lá um piano. Mas acho que eu também me esforço para não usar sempre as mesmas moletas, porque isso acaba por ser um mau hábito, e os músicos são muito supersticiosos. Se uma coisa resulta, eles vão querer usá-la todas as vezes.

Quem é que vos apelidou de “a banda mais bonita do planeta”?

Fomos nós. Nós somos muito galifões e esta brincadeira começou no início da banda, porque na altura em que nós começámos estava muito na moda o grupo brasileiro A Banda mais Bonita da Cidade. Algum de nós se lembrou de sermos “a banda mais bonita do planeta” e desde desse momento que é uma brincadeira nossa. Mas não é assim que nos descrevemos, é uma palhaçada.

Então como é que se descrevem?

Não sentimos essa necessidade de nos descrevermos. Eu acho que não precisamos de definições, nem de rótulos que nos definam. As pessoas ouvem a nossa música e cada uma delas define-nos como quiser.

O que é que define, na tua opinião, este disco?

Acho que este disco é ingénuo. As primeiras músicas que nós fizemos colocámo-las no disco sem grande triagem, fomos um bocadinho verdes para o estúdio, hoje em dia achamos que as músicas poderiam ter ficado melhores. Apesar disso acho que essa ingenuidade nos traz algum poder, porque queríamos tudo ao mesmo tempo, musicalmente, queríamos todos os elementos. Eramos pouco subtis em alguns temas, achávamos que tínhamos de ser épicos e fortes em todos os temas. E todas estas coisas também vêm da nossa ingenuidade. Que mais é que eu posso dizer? Acho um trabalho bonito, acho que nos caracteriza, a nós e ao estilo, perfeitamente. E acho que temos uma boa imagem, um grande impacto visual que remete para o nosso imaginário.

Vocês transparecem ser “boa onda”, é assim que são na realidade?

Sim, desde o início que sempre fomos muito ligados uns aos outros, com uma energia muito boa. A nossa maior força sempre foi esta ligação entre nós, somos os melhores amigos e isso nota-se. Por exemplo, as nossas brincadeiras em palco acabam por ser coisas muito naturais, nada combinadas. E as pessoas, desde a altura que tocávamos na rua, sempre nos diziam que a nossa maior força era a nossa energia enquanto grupo.

Três dicas que darias a jovens que queiram, neste momento, lançar-se numa banda...

Dizia-lhes para serem originais, dizia também para procurarem as referências certas e para serem perfeccionistas.

Vocês são muito perfeccionistas?

Dentro do possível sim. Achamos que o pormenor é muito importante em tudo. Desde o cuidado nas letras, até ao cuidado estético nas roupas, às luzes em palco e dos adereços. Temos um nível de pormenor elevado que não é normal para uma banda que começou há pouco tempo.