Guimarães volta a ter uma orquestra clássica

Orquestra de Guimarães não terá estrutura fixa e vai trabalhar com base em duas residências anuais. Ideia é recuperar público gerado pelo projecto da Orquestra Estúdio durante a Capital da Cultura de 2012.

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O palco acolhe, esta quinta-feira, a estreia da nova formação clássica da cidade Nelson Garrido

O burburinho que provocam mais de 40 pessoas a instalarem-se no palco e as primeiras notas nos seus instrumentos já tinha feito parte do quotidiano da sala durante a Capital Europeia da Cultura de 2012 e agora é recuperado com este novo projecto. É menos “pesado” em termos orçamentais do que a Fundação Orquestra Estúdio, então criada, mas aposta em recuperar o público de concertos sinfónicos.

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O burburinho que provocam mais de 40 pessoas a instalarem-se no palco e as primeiras notas nos seus instrumentos já tinha feito parte do quotidiano da sala durante a Capital Europeia da Cultura de 2012 e agora é recuperado com este novo projecto. É menos “pesado” em termos orçamentais do que a Fundação Orquestra Estúdio, então criada, mas aposta em recuperar o público de concertos sinfónicos.

O pianista Pedro Emanuel Pereira, 24 anos, está “extremamente feliz” com a estreia. Será ele o solista no Concerto para Piano e Orquestra nº20 em Ré menor K. 466 de Mozart, que faz parte do programa da noite desta quinta-feira – e que inclui ainda a abertura de As Bodas de Fígaro, também do compositor austríaco, e a Sinfonia nº 3 em Mib Maior, op. 55 Eroica, de Beethoven –, tendo uma “oportunidade rara” de tocar na cidade onde nasceu e de onde saiu, aos 17 anos, para estudar no conservatório Tchaikovsky de Moscovo. “Não podia dizer que não à possibilidade de estar no concerto inaugural de uma nova orquestra”, conta ao PÚBLICO.

A carreira de Pereira tem sido feita sobretudo na Rússia e em outros países da Europa, mas é raro poder tocar em Portugal. Foi por isso que o maestro Vítor Matos, director artístico da Orquestra de Guimarães, o convidou para o projecto. “Há poucas oportunidades para músicos nacionais com carreiras no estrangeiros tocarem cá. Eles acabam por se desligar do país e não podemos deixar que isso aconteça”, sublinha.

Essa é uma das bases da Orquestra de Guimarães: dar oportunidade aos músicos portugueses para tocarem numa formação profissional. Sobretudo os da região. A existência da Academia Valentim Moreira de Sá, em Guimarães, ou da licenciatura em Música da Universidade do Minho, tem dado oportunidade de formação a muitos jovens locais, que compõem 60% deste agrupamento. Mas também há músicos mais velhos. “A experiência também é importante e cria estabilidade e segurança”, diz o maestro.

Pedro Emanuel Pereira não tem dúvidas: “Isto era o que devia ter sido feito em 2012: criar uma orquestra com uma base sólida para manter no futuro”. “Havia público, salas cheias, mas essa dinâmica perdeu-se”, acrescenta.

Este projecto “não tem nada a ver” com a Fundação Orquestra Estúdio, liderada por Rui Massena, que foi residente da Guimarães 2012, comenta o vereador da Cultura da câmara de Guimarães, José Bastos. “Esse foi um projecto importante, mas tinha um orçamento pesado [cerca de um milhão de euros anuais], que estava muito longe das possibilidades de uma câmara como a de Guimarães no actual contexto.” Este ciclo de concertos custa 25 mil euros. O valor de referência para cada residência e respectivo ciclo de concertos é 25/30 mil euros, podendo haver alguns mais caros em função do repertório e da formação necessária.

É a autarquia quem financia a Orquestra de Guimarães e a sua intenção é “fidelizar públicos” de música clássica na cidade, ao mesmo tempo que dá “sequência à estratégia” de aposta na criação artística a partir da cidade. A orquestra não será permanente, assentando antes em dois períodos de residências artísticas (uma no Verão e outra no Inverno), que darão origem a outros tantos momentos de apresentação. O nascimento da Orquestra de Guimarães servirá de impulso a outra iniciativa da autarquia, o projecto “Outros palcos, mais cultura”, que pretende permitir a circulação de espetáculos culturais pelas freguesias do concelho e ter uma programação regular em polos urbanos fora da cidade.

Guimarães tem uma organização particular, com dois terços da população a viver fora da cidade, sobretudo junto das vilas que cresceram com as indústrias do têxtil e das cutelarias. Depois da primeira apresentação da orquestra, esta quinta-feira, no CCVF, é em duas dessas localidades que a formação clássica se apresentará em seguida, nas vilas de Taipas (sexta-feira) e Ronfe (sábado). Todos os concertos têm início às 22h e a entrada é livre.