Ébola: Serra Leoa termina três dias de um inédito recolher obrigatório

Medida sem precedentes para travar o surto da doença permitiu identificar 130 novos casos e sepultar mais de 60 corpos.

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Durante três dias, as ruas de cidades e aldeias da Serra Leoa estiveram desertas Umaru Fofana

Ao todo, foram identificados 130 novos casos. Só na região da capital, Freetown, foram identificados “22 novos casos” e foram sepultados entre 60 a 70 cadáveres de vítimas que tinham sido abandonados ou estavam ainda nas suas residências, adiantou à AFP a “número dois” dos serviços de saúde pública do país. “A ordem para permanecer em casa foi respeitada pela população, o que permitiu às equipas de campanha sensibilizar as famílias sobre o ébola”, explicou Sarian Kamara.

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Ao todo, foram identificados 130 novos casos. Só na região da capital, Freetown, foram identificados “22 novos casos” e foram sepultados entre 60 a 70 cadáveres de vítimas que tinham sido abandonados ou estavam ainda nas suas residências, adiantou à AFP a “número dois” dos serviços de saúde pública do país. “A ordem para permanecer em casa foi respeitada pela população, o que permitiu às equipas de campanha sensibilizar as famílias sobre o ébola”, explicou Sarian Kamara.

Durante os três dias que vigorou o recolher obrigatório, a medida mais drástica adoptada pelos países afectados pelo actual surto, 30 mil voluntários andaram de casa em casa para informar as famílias sobre a doença, explicar-lhes formas de evitá-la e distribuir sabão em cada uma das 1,5 milhões de residências.

Vários especialistas criticaram, no entanto, a eficácia e a proporcionalidade da medida, dizendo que obrigar quase seis milhões de pessoas a permanecer em casa durante três dias pouco ou nada faz para travar o surto, pondo também em causa a formação dos voluntários para prestarem informações rigorosas sobre a doença. “Foi mais um golpe publicitário do que uma intervenção sanitária”, disse à agência francesa Joe Amon, director para as questões de saúde da Human Rights Watch.

Entretanto, na vizinha Libéria — o país mais atingido pelo surto e aquele onde a situação continua mais longe de estar controlada —, as autoridades anunciaram no domingo que vão quadruplicar o número de camas disponíveis para os infectados nos hospitais de Monróvia, a capital.

O vírus matou pelo menos 1578 pessoas na Libéria, mais de metade de todos os óbitos registados desde que o surto foi detectado, em Fevereiro, na vizinha Guiné, de um total de mais de 2811 infecções registadas — números que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) admite estarem subestimados.

“Estamos a recusar doentes porque não há vagas”, admitiu à AFP o ministro da Informação, Lewis Brown, dizendo que o objectivo do Governo é passar das actuais 250 camas para um total de mil até ao final de Outubro. “Dessa maneira, poderemos travar a propagação, porque quanto as pessoas regressam às suas comunidades vão infectar outras pessoas”, explicou.

Foi isso que aconteceu a Fatima Bonoh, uma mulher de 35 anos que esperava pela sua vez à porta de um hospital de Monróvia. “Estou aqui desde manhã e já cá estive ontem e anteontem, mas disseram-me sempre para me ir embora e regressar mais tarde.”

No início do mês, a OMS alertou que a Libéria poderia registar em breve um aumento elevado no número de infecções, admitindo “vários milhares de casos” se nada fosse entretanto feito para travar o surto. As últimas estatísticas oficiais datam da semana passada, mas a AFP adianta que, nos últimos dias, os hospitais da capital registaram um enorme afluxo de novos pacientes com sintomas suspeitos.