Alex Salmond, um derrotado que também ganhou

Líder nacionalista não conseguiu chegar onde queria mas, mesmo saindo de cena, não deverá ser tão depressa esquecido. Nem pelos escoceses nem pelo poder central britânico.

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Salmond não ganhou mas não deverá ser tão depressa esquecido Russell Cheyne/Reuters

Inteligente, de raciocínio vivo, provocador, sempre pronto para uma discussão, não conseguiu dar forma ao sonho a que se entregou de corpo inteiro e em que se empenhou a fundo nos últimos meses. Mas abalou o poder de Londres e pode levar – devido às promessas que obrigou a liderança britânica a fazer – a uma reconfiguração política do Reino Unido.

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Inteligente, de raciocínio vivo, provocador, sempre pronto para uma discussão, não conseguiu dar forma ao sonho a que se entregou de corpo inteiro e em que se empenhou a fundo nos últimos meses. Mas abalou o poder de Londres e pode levar – devido às promessas que obrigou a liderança britânica a fazer – a uma reconfiguração política do Reino Unido.

Decepcionado com o resultado, na hora da derrota, não se esqueceu de “cobrar” as promessas que contribuíram para evitar o que pretendia. “Os partidos unionistas comprometeram-se no fim da campanha a dar mais poderes à Escócia , e a Escócia espera que esses compromissos sejam cumpridos rapidamente”, disse.

Antigo economista do Bank of Scotland, 59 anos, Alex Salmond não nasceu em berço de ouro. Filho de um funcionário público, segundo de quatro irmãos, cresceu numa zona operária de Linlithgow, perto de Edimburgo. Diplomou-se em economia e história medieval na prestigada universidade de Saint Andrews, onde – segundo a biografia escrita por um antigo colaborador – se empenhava em “mostrar que era mais inteligente que os outros”.

Em 1990 assume a liderança do SNP, uma formação política relativamente marginal, que vai recentrar, abrindo caminho à sua afirmação na política escocesa. Torna-se chefe incontestado do partido e chega à liderança do governo local em 2007.

No seu percurso político incluiu-se a passagem como deputado pelo Parlamento de Londres, entre 1987 e 2010. Opositor do establishment de Westminster rejeita, no entanto,  como observa a AFP, sentimentos “antibritânicos”. Quando a questão se colocou manifestou mesmo a intenção de, em caso de vitória do "sim", continuar a ter a rainha como chefe de Estado da Escócia.

É em 2011, quando o SNP consegue a maioria absoluta, que terá acreditado que o a independência era possível. Empenha-se a fundo numa campanha que também faz sonhar defensores de nacionalismos, mais ou menos adormecidos, de outros países. “É a oportunidade da nossa vida”, diz aos escoceses até ao último dia da campanha.

Alex Salmond não conseguiu chegar onde queria. Não vai liderar um novo país. Mas, mesmo saindo de cena, o seu nome não deverá ser tão depressa esquecido. Nem pelos escoceses nem pelo poder central britânico.