Primarismos

Esta querela do PS é muito mais dramática e muito mais perigosa do que se pensa.

O jovem José Seguro tem um génio quase miraculoso para fazer asneiras sem remédio. Explicar, por exemplo, num debate de televisão que se demitiria se tivesse de aumentar impostos não passava pela cabeça de ninguém, excepto talvez pela cabeça de uma criança de 8 anos, um pouco atrasada. Promover este extraordinário indivíduo a secretário-geral do PS ou a primeiro-ministro seria uma rematada loucura e poria rapidamente Portugal inteiro numa crise de nervos. As coisas que ele pode dizer, capazes de meter o país num indescritível sarilho, achando que está a exibir a sua grande virtude ou beneficiar o PS e a Pátria. Não tem equilíbrio, nem prudência, nem sensatez. Como, de resto, provou à primeira oportunidade quando Costa o desafiou. Viu tudo mal e decidiu pior: para ele e para o partido.

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O jovem José Seguro tem um génio quase miraculoso para fazer asneiras sem remédio. Explicar, por exemplo, num debate de televisão que se demitiria se tivesse de aumentar impostos não passava pela cabeça de ninguém, excepto talvez pela cabeça de uma criança de 8 anos, um pouco atrasada. Promover este extraordinário indivíduo a secretário-geral do PS ou a primeiro-ministro seria uma rematada loucura e poria rapidamente Portugal inteiro numa crise de nervos. As coisas que ele pode dizer, capazes de meter o país num indescritível sarilho, achando que está a exibir a sua grande virtude ou beneficiar o PS e a Pátria. Não tem equilíbrio, nem prudência, nem sensatez. Como, de resto, provou à primeira oportunidade quando Costa o desafiou. Viu tudo mal e decidiu pior: para ele e para o partido.

O resultado da eleição para as federações, que de certa maneira o beneficia, e o abrandamento do entusiasmo por Costa criaram ao PS um problema quase irresolúvel. Seguro conseguiu por um cabelo a legitimidade do “aparelho”; Costa, se ganhar as “primárias” conseguirá a legitimidade dos “simpatizantes”. Qual deve prevalecer sobre a outra? Se Costa ganhasse por uma esmagadora margem (imaginemos por 70 contra 30, ou 80 contra 20) provavelmente acabaria por impor a sua autoridade. Mas se não ganhar? Se não ganhar, o PS fica limpamente dividido em dois: o PS do “aparelho”, invocando a sua origem e a legalidade interna, e o PS do “eleitorado”, onde em princípio está a força que o levará ao governo. Na guerra entre estas duas legitimidades não há compromisso possível.

A cada incidente, a cada vexame, a cada derrota, a velha pergunta voltará: de quem é a culpa? De Seguro porque deixou deslizar o partido para a irrelevância e porque inventou as “primárias”, sem medir as consequências do exercício? De Costa porque afastou ou enfraqueceu Seguro e porque se apoiou em “estranhos”, cuja “simpatia” (mesmo supondo que é autêntica) não vale o zelo, a fidelidade e os sacrifícios dos militantes? As “primárias” foram copiadas, como sempre sucede em Portugal. Só que na sociedade doméstica e pequena de Portugal não resolvem nada; e servirão quase de certeza para envenenar e aumentar o ódio fraternal a que ela já hoje se dedica. Esta querela do PS é muito mais dramática e muito mais perigosa do que se pensa.