Especialista em natalidade lamenta que problema seja remetido "para debaixo do tapete"

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A autarquia quer assim combater a baixa taxa de natalidade no concelho e promover a fixação de jovens Daniel Rocha

"A questão da natalidade não está na agenda política, o que está na agenda normalmente são problemas do dia-a-dia e as questões urgentes, as importantes ficam sempre para depois", lamentou Joaquim Azevedo na Universidade de Verão social-democrata, que decorre em Castelo de Vide até domingo.

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"A questão da natalidade não está na agenda política, o que está na agenda normalmente são problemas do dia-a-dia e as questões urgentes, as importantes ficam sempre para depois", lamentou Joaquim Azevedo na Universidade de Verão social-democrata, que decorre em Castelo de Vide até domingo.

Reconhecendo que o problema hoje em dia ainda não tem "reflexos dramáticos", Joaquim Azevedo advertiu, contudo, que a questão da natalidade será um "problema central" daqui a 15 ou 20 anos. "A geração atual tende a remeter estas questões futuras para debaixo do tapete", disse, citando um autor, que não nomeou, que afirmava que "esta tendência é uma tendência a remeter para o futuro, fazer do futuro a lixeira do presente". "Essa tendência é muito típica dos dirigentes políticos actuais, as questões centrais, as questões mais difíceis, as questões que no futuro vão trazer problemas graves à vida em comum, vão-se remetendo para o futuro", criticou.

Durante a intervenção inicial, o especialista avançou com dados que revelam que "Portugal tem um índice de fecundidade baixíssimo", com a fecundidade real a situar-se em 1,2 filhos por casal. Contudo, adiantou, os inquéritos revelam que há um intervalo entre a fecundidade real e a fecundidade desejada, com os portugueses a dizerem que querem ter mais filhos. Ou seja, acrescentou, o que é necessário é "remover os obstáculos à natalidade desejada" e não "incentivar políticas natalistas".

Recordando algumas das recomendações do relatório que coordenou - intitulado "Por um Portugal amigo das crianças, das famílias e da natalidade (2015-2035) - remover os obstáculos à natalidade desejada" e que foi apresentado em Julho - Joaquim Azevedo advogou medidas como a redução de 1,5% na taxa de IRS para casais com um primeiro filho e de 2% para o segundo filho e seguintes, além da possibilidade de trabalho parcial durante um ano com direito à totalidade do salário e a baixa do imposto sobre veículos e do IMI para famílias numerosas.

"A questão é colocar o problema na agenda e estar permanentemente a colocá-lo, é questão muito importante, mas não é urgente para quase ninguém do ponto de vista político", insistiu, sublinhando que "a ideia era que fosse possível construir toda uma política que respondesse a esse grande objetivo de remover os obstáculos à natalidade".

"As pessoas não são uma coisa que se vá comprar ali a Espanha ou ao norte de África, não dá para repor. Os erros que se cometerem hoje serão pagos daqui a 20, 30, 40, 50, 60 anos", frisou, lembrando que as previsões "que parecem catastróficas" do Instituto Nacional de Estatística apontam para que Portugal vá perder 2 milhões de pessoas nos próximos 30 a 40 anos. "Daqui a 2, 3, 4 anos, as creches, as escolas primárias vão ter menos 25% dos alunos ou das crianças", o que transforma o problema da natalidade em Portugal num "problema muito, muito sério".