Site de música do polémico Kim Dotcom prestes a nascer no Porto

Baboom, criado pelo fundador do Megaupload, vai arrancar no próximo ano. O objectivo é permitir que os artistas independentes consigam fazer dinheiro na Internet.

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A equipa do Baboom: Marco Oliveira, Grant Edmundson e Tony Smith Paulo Pimenta

No edifício antigo, cujo interior está remodelado num estilo branco e moderno, e que inclui uma cozinha, sala de refeições e uma confortável sala de estar, funciona a Baboom Lda. É a subsidiária portuguesa de uma empresa homónima com sede na Nova Zelândia. A equipa do Porto, encabeçada pelo português Marco Oliveira, é responsável pela componente tecnológica do projecto: cabe-lhes desenvolver a plataforma com a qual músicos independentes e pequenas editoras poderão vir a distribuir e rentabilizar o seu trabalho. O grupo que está a trabalhar na Baboom foi recrutado, há dois anos, numa empresa de Aveiro, com a qual Dotcom já tinha trabalhado.

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No edifício antigo, cujo interior está remodelado num estilo branco e moderno, e que inclui uma cozinha, sala de refeições e uma confortável sala de estar, funciona a Baboom Lda. É a subsidiária portuguesa de uma empresa homónima com sede na Nova Zelândia. A equipa do Porto, encabeçada pelo português Marco Oliveira, é responsável pela componente tecnológica do projecto: cabe-lhes desenvolver a plataforma com a qual músicos independentes e pequenas editoras poderão vir a distribuir e rentabilizar o seu trabalho. O grupo que está a trabalhar na Baboom foi recrutado, há dois anos, numa empresa de Aveiro, com a qual Dotcom já tinha trabalhado.

O presidente executivo da Baboom, Grant Edmundson, é cauteloso ao associar Dotcom ao projecto. “O Kim é um visionário. A ideia é dele e tem de receber crédito por isso. Mas não tem qualquer papel na gestão da empresa. Eu só falei com ele três ou quatro vezes”, diz o executivo, numa conversa com o PÚBLICO, nas instalações da subsidiária portuguesa.

Para além de ter tido a ideia, Dotcom controla indirectamente 45% do capital da Baboom, através de um fundo de família (o empresário, de 40 anos, esteve até há pouco tempo casado com uma jovem ex-modelo filipina, com quem teve cinco filhos). O resto do capital está na mão de outros investidores, nenhum dos quais português. A empresa está até a ponderar uma entrada na bolsa australiana, mas a data não está decidida. “Há accionistas com ideias diferentes sobre isso”, diz Edmundson.

O conceito do Baboom – que vai concorrer com nomes conhecidos, como o Spotify – é dar liberdade aos artistas e editoras para determinarem a forma como querem ver o seu trabalho distribuído. Haverá uma modalidade de venda de música em streaming e uma outra que permitirá descarregar as canções. Os utilizadores poderão também ouvir música gratuitamente, num esquema rentabilizado com publicidade, como é habitual neste género de ofertas. E a plataforma permitirá ainda a venda online de bilhetes e de merchandising.

Os artistas e editoras poderão escolher as modalidades que preferem e, se for caso disso, terão margem para determinar os preços. Terão também informação sobre como e onde a música é consumida. “O negócio do streaming está caótico”, considera Edmundson, referindo-se ao facto de os artistas terem de se promover em várias redes sociais, e venderem depois a música noutras plataformas, em moldes que são estas que determinam. “O nosso objectivo é dar aos artistas o que eles querem”. 

O plano da Baboom prevê que a companhia seja rentável um ano após o lançamento. Para isso, são precisos entre 800 mil e 1,2 milhões de utilizadores. O modelo de negócio dá aos artistas aproximadamente 90% das receitas, uma fatia significativamente acima da que é tipicamente concedida pelas plataformas de música digital. O Spotify, por exemplo, entrega cerca de 70% das receitas às entidades gestoras de direitos, que depois as distribuem pelos artistas, com base na frequência com que cada um é ouvido.

O novo serviço de música deverá ser lançado no primeiro trimestre do próximo ano, num número limitado de mercados, dos quais Portugal faz parte. Ao mesmo tempo que prepara o lançamento, a Baboom vai construindo a equipa. Em Julho, contratou para director financeiro um veterano do sector, Tony Smith, que era até então responsável pelas contas da Sony na Austrália e na Nova Zelândia.

Em Janeiro, já tinha sido lançado um protótipo, com um único artista: o próprio Dotcom. Foi a estreia musical do polémico empresário e uma manobra que garantiu o interesse dos media. Não passou despercebida a ironia de alguém que é acusado de ter facilitado a partilha de música em larga escala estar agora à procura de um modelo de negócio para os músicos da era digital. 

Kim Dotcom (que nasceu na Alemanha e se chamava Kim Schmitz) ficou conhecido sobretudo pelo caso do site Megaupload, onde era frequente a partilha de ficheiros sem autorização dos autores. Foi encerrado no início de 2012 pelo Departamento de Justiça norte-americano. Dotcom vive numa gigantesca mansão na Nova Zelândia e, desde então, tem travado uma batalha legal para evitar a extradição para os EUA. Tornou-se um activista de defesa das liberdades online e decidiu este ano participar na criação de um partido político.

Questionado sobre a influência de Dotcom na imagem da empresa, Edmundson argumentou haver três tipos de pessoas. “As que acham que ele é um criminoso, as que acham que é um visionário e muitas que não sabem ou não querem saber”. E adiantou que a empresa se prepara para uma nova contratação: um presidente não executivo com peso suficiente para ser o protagonista da Baboom. Não quis revelar o nome.