Hirstville, a urbanização à imagem de Damien Hirst que vai nascer em Inglaterra

Talvez o artista contemporâneo mais rico do mundo, Hirst já tem uma estátua polémica em Ilfracombe. A população está preocupada com os planos do autor de Verity e For the Love of God.

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A luz verde a este projecto foi dada pelo presidente da câmara na passada quarta-feira. O terreno que vencedor do prémio Turner de 1995 comprou há dez anos por pouco mais de um milhão de euros é um lugar à beira-mar, florestado e por enquanto sem construção. O projecto está já apelidado de Hirst-on-Sea ou Hirstville e está a causar descontentamento em muitos residentes da cidade. O empreendimento que será ecológico, escreve a revista de arquitectura e design Designboom, irá pôr fim à área natural para dar origem a construção que se prevê que seja bastante cara e onde apenas 75 casas terão um custo médio. No total, espera-se que o projecto faça crescer a população de Ilfracombe em 20%, diz a mesma revista.

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A luz verde a este projecto foi dada pelo presidente da câmara na passada quarta-feira. O terreno que vencedor do prémio Turner de 1995 comprou há dez anos por pouco mais de um milhão de euros é um lugar à beira-mar, florestado e por enquanto sem construção. O projecto está já apelidado de Hirst-on-Sea ou Hirstville e está a causar descontentamento em muitos residentes da cidade. O empreendimento que será ecológico, escreve a revista de arquitectura e design Designboom, irá pôr fim à área natural para dar origem a construção que se prevê que seja bastante cara e onde apenas 75 casas terão um custo médio. No total, espera-se que o projecto faça crescer a população de Ilfracombe em 20%, diz a mesma revista.

Hirst-on-Sea, cujo nome oficial é aliás Southern Extension, vai estar em construção nos próximos dez a 15 anos e a David Lock Associates está encarregue do design urbano. O arquitecto, Mike Rundell, disse em 2012 que Hirst tem “horror a edifícios anónimos, edifícios sem vida. Ele quer que estas casas sejam o tipo de casa onde ele iria querer viver”.

“A população [de Ilfracombe] precisa de crescer para se tornar sustentável. Haverá unidades industriais e lojas – esperamos que traga trabalho para a cidade”, disse Anne Thomas, responsável pelo planeamento urbano da cidade, em Maio, quando o projecto ainda estava em discussão. Nessa altura, a polémica  estava instalada. Robert Hardman, colunista do tablóide britânico Daily Mail e natural de Ilfracombe, escreveu no final de 2013 contra o empreendimento de Hirst cujo título era: “Não deixem o Senhor Pickled Shark  [uma alusão à peça The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living, de 1991] arruinar a nossa cidade: primeiro ele deu-nos uma estátua grotesca, agora Damien Hirst planeia outra agressão à Ilfracombe adormecida, uma urbanização de 100 milhões de libras”.

O colunista argumenta que aquele que tem encimado as listas da Artinfo como o artista mais rico do mundo já tem em Ilfracombe, para além de “uma mansão que não deve ser confundida com a sua residência principal, a alguns quilómetros de distância”, um restaurante, um café e a sua galeria de arte, um hotel em construção e a estátua Verity. Esta extensão da cidade, que Hardman diz significar um influxo de mais três mil residentes, é “mais um lucrativo triunfo da publicidade sobre o bom senso”, escreve.

A tal “estátua grotesca” está mesmo à entrada de Ilfracombe, a dar as boas vindas a quem entra na cidade pelo porto. É uma grávida nua empunhando uma espada em direcção ao céu: no seu perfil esquerdo tudo está normal, mas do lado direito, a mulher está descarnada: a pele levantada deixa ver os músculos, o crânio e o bebé no seu ventre. A obra erguida em 2012 foi descrita por Hirst como uma “alegoria contemporânea para a verdade e justiça”, mas criticada pelo público e pelos críticos de arte - Catherine Bennett escreveu no Guardian que “quando se tem um artista em busca de atenção e uma cidade ambiciosa, o resultado é esta monstruosidade”. Outro crítico, Jonathan Jones, chamou-lhe uma "perigosa monstruosidade".

Alguns residentes consideram que este projecto vai invadir a sua privacidade e afundar o comércio local. “Damien Hirst fez coisas boas aqui, mas isto é demasiado grande. Ele já tem um restaurante, um hotel e propriedades no porto - começa a ser um domínio do Damien”, disse ao Telegraph Kate Barnard, enfermeira de 41 anos, quando questionada sobre o projecto.