Sindicatos pedem suspensão da avaliação dos centros em carta a Nuno Crato

Carta para suspender avaliação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia foi assinada por directores de 26 unidades de investigação. Sindicatos podem colocar acção judicial no início de Setembro.

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Além do impacto do financiamento dos centros, a avaliação das unidades é usada como critério de avaliação nas candidaturas de projectos dos investigadores ou em bolsas Pedro Cunha (arquivo)

“Estiveram presentes alguns investigadores, tal como representantes do sindicato”, disse por telefone Gonçalo Leite Velho, vice-presidente do SNESup, ao PÚBLICO. A entrega foi feita na secretaria-geral do Ministério da Educação, na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa. Segundo o sindicalista, estas 26 unidades representam “quase 900 investigadores”.

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“Estiveram presentes alguns investigadores, tal como representantes do sindicato”, disse por telefone Gonçalo Leite Velho, vice-presidente do SNESup, ao PÚBLICO. A entrega foi feita na secretaria-geral do Ministério da Educação, na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa. Segundo o sindicalista, estas 26 unidades representam “quase 900 investigadores”.

Este pedido já tinha sido anunciado na semana passada. “A carta dá conta de várias irregularidades e problemas no processo de avaliação e pede a suspensão do processo para repor as regularidades”, disse António Vicente, presidente da direcção da SNESup.

A avaliação feita a 322 unidades de investigação portuguesas é periódica — a última foi em 2007. A nova avaliação dará uma nota a cada unidade que definirá o financiamento anual para despesas correntes entre 2015 e 2020.

Para a nova avaliação, a FCT contratou a European Science Foundation (ESF), que reuniu os peritos em sete painéis de avaliação. O processo foi desenhado em duas fases, a primeira com uma avaliação feita à distância com base em documentos com a informação sobre as unidades – o que nunca tinha acontecido nas avaliações passadas, onde todas as unidades eram visitadas por painéis de avaliadores.

Das 322 unidades avaliadas, só as que tiveram Muito Bom, Excelente e Excepcional (168) passaram à segunda fase, onde receberão financiamento adicional dependendo da avaliação que tiverem. As restantes (154), com Bom, Razoável e Insuficiente, foram excluídas do resto do processo. Só as que têm Bom receberão algum financiamento, o que significa que quase metade das unidades ficará com a corda ao pescoço.

Quando os resultados da primeira fase foram divulgados começaram a chover críticas à avaliação, como o facto de os painéis de avaliação não terem especialistas em várias áreas do saber, ou as unidades não terem sido visitadas. Várias unidades queixaram-se de erros óbvios no processo de avaliação. Por causa disso, 40% dos centros contestaram os resultados em audiência prévia.

Mais tarde, ficou-se a conhecer o contrato entre a FCT e a ESF, onde estava definido previamente que 50% dos centros não passaria à segunda fase da avaliação: “Um montante fixo de 109.592 euros é acordado para a segunda fase, com base nos seguintes pressupostos: número de unidades de investigação seleccionadas para a fase 2: 163.”

O SNESup e o SPGL convidaram as unidades de investigação que não passaram à segunda fase a assinar a carta. “Neste momento estamos a dar espaço para o ministério agir”, explica Gonçalo Leite Velho. O SNESup quer seguir com uma acção judicial no início de Setembro, caso o processo não seja suspenso. O sindicato pediu um parecer jurídico sobre a avaliação.

“O que [os advogados] nos indicaram é que estamos perante erros grosseiros e o não cumprimento de normas legais”, disse António Vicente. Há a informação de “alterações administrativas de notas e um completo condicionamento dos peritos por alguém da FCT”.

Segundo o presidente da direcção, isto significa “o incumprimento de leis e regras, eventualmente de uma situação mais grave de abuso de poder e condicionamento ilegítimo de um júri que deveria ser independente e deveria avaliar com base no mérito”. Esta acção judicial é diferente de uma impugnação da avaliação — que também poderá avançar depois das férias —, já que poderá existir aqui má conduta e consequências judiciais para os responsáveis pela avaliação.