Comparar com 1974

Constantemente ouvimos comparar estatísticas actuais com as de 1974, como se Portugal tivesse parado no tempo nesse ano.

Sem que isto seja uma apologia da anterior ditadura – que o regime actual também é, pois os cidadãos, além de não se poderem candidatar a deputados, só podem eleger quem meia dúzia de ditadores escolheu – gostaria de ver algo mais do que a simples comparação apresentada. Deveriam ser apresentados os gráficos da evolução dessas estatísticas, não apenas de 1974 a 2014, mas também dos 40 anos antes, ou seja, de 1934 a 2014. Só assim seria legítimo ver como os diferentes valores evoluíram. É muito longa a lista que deveria ser considerada, lembrando apenas alguns: população; esperança de vida; PIB (valores e taxa de crescimento anual); inflação; dívida pública (valores e taxa de crescimento anual); défice governamental (em valor absoluto, em percentagem do PIB e taxa de crescimento anual); leque salarial; analfabetismo; escolaridade (discriminando básico, secundário e superior); escolas construídas (discriminando básico, secundário e superior, em número de escolas e em metros quadrados de construção); saúde; ciência (separando a produzida pelas universidades, pelos laboratório de investigação do Estado, por entidades privadas sem fins lucrativos e por entidades empresariais e indicando os quantitativos investidos nessa actividade, discriminando, quando houver, os que foram dados pelo Estado a estas entidades); marinha, de pesca, de recreio, mercante e militar; Exército; aviação, civil e militar; agricultura, incluindo florestas e pecuária; indústria, extractiva e transformadora; comércio, etc.

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Sem que isto seja uma apologia da anterior ditadura – que o regime actual também é, pois os cidadãos, além de não se poderem candidatar a deputados, só podem eleger quem meia dúzia de ditadores escolheu – gostaria de ver algo mais do que a simples comparação apresentada. Deveriam ser apresentados os gráficos da evolução dessas estatísticas, não apenas de 1974 a 2014, mas também dos 40 anos antes, ou seja, de 1934 a 2014. Só assim seria legítimo ver como os diferentes valores evoluíram. É muito longa a lista que deveria ser considerada, lembrando apenas alguns: população; esperança de vida; PIB (valores e taxa de crescimento anual); inflação; dívida pública (valores e taxa de crescimento anual); défice governamental (em valor absoluto, em percentagem do PIB e taxa de crescimento anual); leque salarial; analfabetismo; escolaridade (discriminando básico, secundário e superior); escolas construídas (discriminando básico, secundário e superior, em número de escolas e em metros quadrados de construção); saúde; ciência (separando a produzida pelas universidades, pelos laboratório de investigação do Estado, por entidades privadas sem fins lucrativos e por entidades empresariais e indicando os quantitativos investidos nessa actividade, discriminando, quando houver, os que foram dados pelo Estado a estas entidades); marinha, de pesca, de recreio, mercante e militar; Exército; aviação, civil e militar; agricultura, incluindo florestas e pecuária; indústria, extractiva e transformadora; comércio, etc.

Não é um trabalho difícil de fazer, pois a recolha de dados é possível consultando as estatísticas. Do estudo da evolução desses dados, que gostaria de ver em tabelas e em gráficos, deverá ser possível tirar interessantes conclusões. Ao longo desse período de 80 anos, os valores deveriam ser dados ano a ano. Alguns autores, talvez para encurtar o gráfico, usam as médias dos decénios. É um sistema perigoso, que pode levar a conclusões erradas, como já tive ocasião de mostrar a propósito de um gráfico apresentado pelo dr. Medina Carreira.

Afigura-se-me que um estudo como este, certamente com muitos acrescentos e algumas alterações, daria uma boa tese de doutoramento em Economia ou Sociologia. Abrangendo um período relativamente longo – 80 anos – e, portanto, atravessando diferentes situações do mundo, as conclusões que permitiria tirar talvez até atingissem o campo da ciência política.

Investigador coordenador e professor catedrático, jubilado