Passos encontrou-se com sobreviventes do massacre de Santa Cruz e prometeu apoio ao Estado timorense

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Nelson Garrido

"Como chefe de Governo português, quero expressar-lhes o sentimento enorme de fraternidade e de profunda solidariedade que varreu Portugal nessa época", afirmou o primeiro-ministro, perante representantes do Comité 12 de Novembro, criado para apoiar os familiares das vítimas daquele tiroteio e identificar desaparecidos. Antes do cemitério, Passos Coelho estivera no Museu da Resistência Timorense

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"Como chefe de Governo português, quero expressar-lhes o sentimento enorme de fraternidade e de profunda solidariedade que varreu Portugal nessa época", afirmou o primeiro-ministro, perante representantes do Comité 12 de Novembro, criado para apoiar os familiares das vítimas daquele tiroteio e identificar desaparecidos. Antes do cemitério, Passos Coelho estivera no Museu da Resistência Timorense

Esta é a primeira visita oficial de um primeiro-ministro à República Democrática de Timor-Leste desde que foi reconhecida a sua independência, em 2002. Acompanhado pelos ministros da Saúde, Paulo Macedo, e de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, e pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Luís Campos Ferreira, o chefe do executivo PSD/CDS-PP foi recebido cerimoniosamente à entrada do cemitério – uma visita que não estava na agenda tornada pública.

Numa intervenção de cerca de cinco minutos, o primeiro-ministro falou da "resistência que o povo de Timor-Leste teve de organizar e de enfrentar para poder ver reconhecido o seu direito à independência". Passos Coelho referiu que "muitos mártires ficaram assinalados durante esse período", mas que o massacre de Santa Cruz "foi também um ponto de viragem importante, em que o sacrifício de muitas pessoas, de muitas famílias teve uma visibilidade muito grande do ponto de vista internacional" porque as imagens da tragédia correram o mundo.

"Creio que isso se deve também à coragem que muitos elementos da comunicação social evidenciaram para ajudar a transmitir ao mundo o que se passava em Timor-Leste nessa altura. Foi muito importante com isso obter de toda a comunidade internacional um reconhecimento diferente daquele que tinha existido até então para ir ao encontro das pretensões do povo de Timor-Leste", acrescentou.

Dirigindo-se "àqueles que guardam desse passado tão trágico as suas memórias vividas", o primeiro-ministro disse-lhes que hoje têm “um motivo de ânimo” no futuro que se está a construir. Passos Coelho realçou que Timor-Leste vive agora "um tempo muito diferente, em que se está realmente a construir um Estado de direito" e assumiu em nome de Portugal o "compromisso de não falhar na ajuda" à sua construção.

O chefe do executivo PSD/CDS-PP disse em Díli que "a cooperação portuguesa tem sido muito intensa" e vai continuar, em áreas como a segurança, defesa, justiça e saúde, assumindo o "compromisso de não falhar na altura que é mais decisiva para a construção deste Estado democrático".

 

Parabéns em português, mas com queixas

Depois, na Escola Portuguesa Ruy Cinatti, em Díli, Pedro Passos Coelho conviveu com membros da comunidade portuguesa residente em Timor-Leste e ouviu cantarem-lhe os parabéns pelo seu 50º aniversário. Assistiu a um espectáculo alusivo aos descobrimentos marítimos portugueses, com uma banda sonora que incluía Amália e Cesária Évora, remetendo para os laços criados pela língua portuguesa.

No que respeita à difusão da língua portuguesa em Timor-Leste, contudo, o governante recebeu de responsáveis desta escola a informação de que há um défice de programação televisiva infantil falada em português acessível às crianças timorenses. Passos Coelho realçou que a Escola Ruy Cinatti tem mais de 800 alunos, na sua maioria timorenses, e um número semelhante em lista de espera. "Não conseguimos ir ao encontro de todos", afirmou, a esse propósito, salientando em seguida que também há um investimento "noutras escolas de referência".

De manhã, o primeiro-ministro fora conhecer o Centro de Formação da Polícia Nacional de Timor-Leste, que conta com a cooperação de elementos da Guarda Nacional Republicana (GNR) portuguesa. Também se encontrou com o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, na sequência do qual foram assinados protocolos de cooperação - na área da saúde, Portugal comprometeu-se a ajudar a montar uma autoridade do medicamento e um sistema de emergência médica pré-hospitalar em Timor-Leste. Antes, teve ainda um pequeno-almoço com empresários, discursou num seminário económico e foi recebido pelo Presidente da República, Taur Matan Ruak.