Centro de Linguística do Porto em risco de encerrar por corte de financiamento

“Não deveria passar pela cabeça de ninguém a existência de uma universidade sem um departamento de linguística”, diz o linguista João Veloso após os resultados da avaliação ao centro que coordena.

Foto
Os estudos da língua portuguesa em risco de acabar na Universidade do Porto Nuno Ferreira Santos

O alerta do centro fundado há 38 anos por Óscar Lopes foi acompanhado pelo lançamento de uma petição pública, já com perto de 2.000 assinaturas, a ser dirigida ao presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), Miguel Seabra, e resulta da recente avaliação da unidade de investigação, que passou a ter a nota mais baixa da escala e que, como tal, perde a partir de Janeiro o financiamento de 50.000 euros anuais que recebia.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O alerta do centro fundado há 38 anos por Óscar Lopes foi acompanhado pelo lançamento de uma petição pública, já com perto de 2.000 assinaturas, a ser dirigida ao presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), Miguel Seabra, e resulta da recente avaliação da unidade de investigação, que passou a ter a nota mais baixa da escala e que, como tal, perde a partir de Janeiro o financiamento de 50.000 euros anuais que recebia.

“Se realmente se concretizar o fecho do centro, isto representa a morte – não estou a exagerar, estou a medir as minhas palavras, até porque sou linguista – da linguística na Universidade do Porto”, afirmou à Lusa o coordenador científico do CLUP, João Veloso, que ressalvou que vai ser endereçado à FCT um recurso no âmbito do período de audiência prévia, que encerra na sexta-feira.
Fonte oficial da FCT disse, segundo a Lusa, que a fundação está em “diálogo constante” com as entidades envolvidas no processo de avaliação, “no sentido de ajudar a definir um programa estratégico que seja adequado para poderem melhorar a sua classificação no futuro”.

O CLUP tem 95 membros, 18 dos quais permanentes, ou seja, doutorados com “algum tipo de vínculo”, enquanto a maior parte dos restantes são estudantes de doutoramento ou de pós-doutoramento, que, caso o centro encerre, perdem a instituição de acolhimento.

“Acho que não passa pela cabeça de ninguém imaginar uma universidade num país de primeiro mundo sem um departamento de matemática ou de física ou de química, assim como não deveria passar pela cabeça de ninguém a existência de uma universidade sem um departamento de linguística, que é a ciência que estuda a propriedade específica da espécie humana, que estuda a linguagem, que é o objecto mais presente em todas as interacções sociais que existem e que, no caso do CLUP, tem tido um trabalho fundamental no estudo da língua portuguesa”, considerou João Veloso.

De acordo com o também presidente da Associação Portuguesa de Linguística, “o Norte do país fica sem nenhum centro exclusivamente dedicado à linguística com o encerramento do CLUP”.

João Veloso considera a avaliação atribuída “muito injusta, muito drástica e sobretudo muitíssimo mal fundamentada”, e salienta que houve dois linguistas num painel de 16 elementos para avaliação da área de humanidades.