Fenprof confirma que "professores vivem uma situação asfixiante"

O secretário-geral da FENPROF, Mário Nogueira, comentou o estudo avançado esta sexta-feira pelo PÚBLICO, de acordo com o qual quase dois terços dos docentes do pré-escolar e dos ensinos básico e secundário admitem estar cada vez menos motivados para o trabalho.

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Miguel Manso (arquivo)

"Este estudo vem confirmar aquilo que andamos a dizer há algum tempo. Neste momento aquilo que se sente na sala de aula dos professores é um desânimo, é uma desmotivação estranha", apenas compensada pelo trabalho com os alunos, afirmou Mário Nogueira.  O estudo é da Universidade do Minho e começou a ser feito na anterior legislatura, traçando o retrato de "uma escola burocrática onde os docentes se sentem cada vez menos realizados".

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"Este estudo vem confirmar aquilo que andamos a dizer há algum tempo. Neste momento aquilo que se sente na sala de aula dos professores é um desânimo, é uma desmotivação estranha", apenas compensada pelo trabalho com os alunos, afirmou Mário Nogueira.  O estudo é da Universidade do Minho e começou a ser feito na anterior legislatura, traçando o retrato de "uma escola burocrática onde os docentes se sentem cada vez menos realizados".

"Leva a que muitos (professores) cheguem, mais rapidamente do que seria desejável e expectável, a pontos de saturação tal que se vão embora", referiu o dirigente sindical. Para Mário Nogueira, a prova da insatisfação é que milhares de professores, "com cortes muito grandes no cálculo das suas pensões", abandonaram precocemente a profissão. "Não é por acaso que milhares de professores pediram a rescisão dos seus contratos. Segundo o ministério, em pouco mais de um mês, mais de 2.000" docentes, acrescentou.

O sentimento de insatisfação dos professores agudizou-se desde 2009, data a que se reporta o estudo que é apresentado esta sexta-feira. Nas conclusões são identificadas duas grandes tendências: a intensificação e a burocratização do trabalho dos professores, bem como a precariedade laboral e o empobrecimento dos docentes. Os números apurados são elucidativos: 61,6% admite que a sua motivação tem vindo a diminuir, desde 2009. No mesmo sentido, 45,5% dos professores inquiridos consideravam que a sua motivação era moderada, ao passo que 17,4% a consideravam baixa, havendo um grupo que admitia ser muito baixa (5,4%).

 "Temos uma situação que, de facto, é asfixiante para aqueles que querem continuar a exercer a sua profissão de uma forma em que efectivamente o aspecto central do seu desempenho seja o trabalho com os alunos, seja ensinar, porque é para isso que os professores são formados e são preparados, sublinhou o líder da maior estrutura sindical de professores.

De acordo com o trabalho, a realização profissional de quase metade dos docentes está em queda e a burocracia e o volume de trabalho aumentaram. "De facto, a burocracia a que hoje os professores estão sujeitos, a sobrecarga de trabalho, a alteração no ponto de vista da organização dos próprios horários, fazem com que estejam absolutamente exaustos e, no plano profissional, esgotados", sustentou Mário Nogueira.

Mário Nogueira recordou que há oito ou 10 anos, quando um professor chegava à idade da reforma, muitas vezes tinha pena de deixar os alunos e acabava por ficar na escola até ao final do ciclo: citando exemplos em que ficavam até aos 70 anos, a idade limite em que eram desligados do serviço. "Hoje é o contrário, entramos na escola e, às vezes, professores com 40 anos, com poucos anos de serviço, 15-20 anos de serviço, o que dizem é ´eu se pudesse ia-me já embora´", concluiu.

Os resultados finais do projecto TEL – Teachers Exercising Leadership (“Os professores e o exercício da liderança”) são apresentados esta sexta-feira, no campus de Braga da Universidade do Minho, e lançados em livro ("Profissionalismo e Liderança dos Professores"), num seminário sobre Profissionalismo Docente, no qual estará presente David Frost, professor da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que foi consultor do trabalho.