“Irregularidades” na Espírito Santo Internacional podem afectar reputação e cotação do BES

Antigos membros da administração da ESI são também administradores da Espírito Santo Financial Group (ESFG) e do BES.

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Os grandes accionistas brasileiros da Oi dizem que Ricardo Salgado prestou “afirmações falsas em relação aos investimentos” da PT na Rioforte Nuno Ferreira Santos

No prospecto do aumento de capital, divulgado na terça-feira à noite, o BES informa que a auditoria externa realizada às demonstrações financeiras de 2013 da ESI “apurou irregularidades nas suas contas e concluiu que a sociedade apresenta uma situação financeira grave".

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No prospecto do aumento de capital, divulgado na terça-feira à noite, o BES informa que a auditoria externa realizada às demonstrações financeiras de 2013 da ESI “apurou irregularidades nas suas contas e concluiu que a sociedade apresenta uma situação financeira grave".

“Embora o BES não seja responsável pela situação financeira da ESI, e a ESFG [a holding que controla directamente o BES] tenha implementado medidas para salvaguardar eventuais situações de incumprimento por parte da ESI que possam ter impacto no BES”, a instituição admite que “um agravamento da respectiva situação financeira bem como as irregularidades detectadas nas suas contas” podem “afectar a reputação do BES e a cotação das suas acções”, lê-se no documento enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Isto tendo em conta que “alguns dos anteriores membros do conselho de administração da ESI são administradores da ESFG e do BES, e que a ESI detém participação qualificada, ainda que de forma indirecta, no capital do BES”, refere o prospecto.

O BES informa ainda que a comissão de auditoria da Espírito Santo Financial Group (ESFG) "identificou igualmente irregularidades materialmente relevantes" nas contas da ESI e refere que a holding tem "em marcha um programa de reorganização do seu grupo e de desalavancagem" para "reequilibrar a sua situação financeira" e "proceder ao reembolso do passivo".

Risco de exposição à dívida da ESI
As dúvidas quanto à capacidade da ESI de reembolsar o papel comercial colocado junto de clientes do BES levaram o Banco de Portugal a exigir no final do ano passado ao banco que realizasse uma provisão extraordinária de 700 milhões de euros nas contas de 2013, para acautelar este risco de exposição.

Reativamente a estes instrumentos de dívida da ESI e subsidiárias subscritos por clientes do BES, o prospecto diz que, "a 19 de Maio de 2014, o valor dos instrumentos de dívida detidos por investidores não institucionais ascendia a 395 milhões de euros, enquanto o valor detido por investidores institucionais ascendia a 564 milhões de euros".

O documento refere ainda a "expectativa do Conselho de Administração do BES” de que “o reembolso dos referidos instrumentos de dívida venha a ser efectuado através da implementação do plano de desalavancagem dos activos, do apoio dos seus accionistas, da respectiva capacidade para a obtenção ou renovação das linhas de crédito nos mercados financeiros e ainda do eventual apoio que possa vir a ser necessário por parte do Grupo ESFG e do BES".

O prospecto sobre o aumento de capital do BES menciona também a situação do BES Angola, em que, em Dezembro do ano passado, foi realizado um aumento de capital de 500 milhões de dólares (cerca de 365 milhões de euros). O banco presidido por Ricardo Salgado refere-se em particular à garantia prestada pelo Estado angolano em relação a operações realizadas com empresas angolanas.

Essa garantia soberana, de 5700 milhões de dólares (cerca de 4200 milhões de euros), foi acordada no final de 2013 e serve para proteger o banco de possíveis atrasos e incumprimentos por parte das empresas. No entanto, o banco ainda está à espera da autorização do Banco de Portugal, pelo que ainda não está reflectido o impacto positivo dessa garantia nos rácios de capital do BES.

O BES publicou terça-feira à noite o prospecto do aumento de capital de até 1045 milhões de euros, no âmbito do qual irá emitir até 1607 milhões de novas a acções, ao preço de 0,65 euros cada.