Para que as mortes de Lampedusa mudem alguma coisa

Carta de Lampedusa, assinada na ilha italiana após um debate entre activistas, emigrantes e cidadãos, é discutida esta sexta-feira em Lisboa.

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Dezenas de milhares de emigrantes tentam chegar a Lampedusa todos os anos Filippo Monteforte/AFP

Lampedusa não escolheu tornar-se no símbolo do cemitério em que o Mediterrâneo se transformou. Calhou-lhe em sorte e geografia este papel ingrato de fronteira. Depois de Outubro, muitos se perguntaram se tudo ficaria na mesma, o que faria a partir daqui a União Europeia.

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Lampedusa não escolheu tornar-se no símbolo do cemitério em que o Mediterrâneo se transformou. Calhou-lhe em sorte e geografia este papel ingrato de fronteira. Depois de Outubro, muitos se perguntaram se tudo ficaria na mesma, o que faria a partir daqui a União Europeia.

Activistas anti-racismo e dos direitos dos emigrantes de vários países, habitantes da ilha italiana e emigrantes, mais de 400 pessoas, decidiram fazer alguma coisa. Reuniram-se na ilha no fim de Janeiro, passaram três dias a debater e no final escreveram e assinaram um documento chamado Carta de Lampedusa, que esta tarde é apresentado e discutido na Casa da Achada, na Mouraria, em Lisboa.

“Conseguimos construir um espaço público em que cada um pode sentir-se em casa. Neste espaço, em conjunto, elaborámos um pacto, e este é o valor da Carta”, explicou depois do encontro Nicola Grigion, membro do Progetto Meltingpot. “Não queremos construir a enésima rede mas contribuir para o alargamento de um movimento euro-mediterrânico propondo a todos os que se reconhecem neste texto que trabalhem para que estes princípios se alarguem, se difundam e encontrem um modo de realizar-se.”

A Carta é um documento extenso, mas com palavras que se repetem. “Liberdade” antes de todas: liberdade de movimento, liberdade de escolher partir, liberdade de ficar, liberdade de “resistir às políticas que querem dividir, discriminar, explorar e criar precariedade dos seres humanos e gerar desigualdades e disparidades”. Isto porque, escreve-se, “as actuais políticas de governo e de controlo das migrações são um dos principais instrumentos para criar tais condições”.

O debate que começa às 17h30 em Lisboa vai contar com a presença do constitucionalista Pedro Bacelar de Vasconcelos, Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo, e vários académicos, mas para os signatários da Carta de Lampedusa a conversa só faz sentido se for alargada a todos os que partilham as preocupações de quem a produziu. No mesmo local, a partir das 21h, será exibido Va’ Pensiero. Itinerant stories, um filme de Dagmawi Yimer, que parte de série de ataques racistas recentes em Itália.