As injustiças da crise evocadas na Via Sacra

Meditações lembraram o acolhimento dos emigrantes “que pedem asilo, dignidade e pátria” e a situação das prisões, “a dupla pena da sobrelotação, que consome a carne e os ossos”.

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A sexta-feira antes de domingo de Páscoa é uma das raras ocasiões em que o Papa ouve outros pregar. Foi na basílica de São Pedro, onde o chefe da Casa Pontifícia, o franciscano Raniero Cantalamessa, liderou a cerimónia da Paixão de Cristo e descreveu os grandes salários e a crise financeira mundial como os males modernos provocados pela “fome amaldiçoada por ouro”.

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A sexta-feira antes de domingo de Páscoa é uma das raras ocasiões em que o Papa ouve outros pregar. Foi na basílica de São Pedro, onde o chefe da Casa Pontifícia, o franciscano Raniero Cantalamessa, liderou a cerimónia da Paixão de Cristo e descreveu os grandes salários e a crise financeira mundial como os males modernos provocados pela “fome amaldiçoada por ouro”.

“Não é um escândalo que algumas pessoas ganhem salários e recebam pensões que algumas vezes são 100 vezes maiores do que as pessoas que trabalham para elas, e ergam as suas vozes para recusar propostas para reduzir os seus salários em nome da justiça social?”, interrogou Cantalamessa.<_o3a_p>

Francisco, que fez dos pobres o tema central do seu pontificado, disse em Dezembro que os salários e os bónus milionários são sintomas de uma economia baseada na ganância e na desigualdade.<_o3a_p>

À cerimónia da Paixão de Cristo, durante a qual Francisco se estendeu em penitência no chão da basílica, como fizeram no ano anterior, seguiu-se a Via Sacra. A cruz foi carregada, à vez, por jovens, detidos, doentes ou emigrantes, em redor do anfiteatro Flávio do Coliseu, enquanto se liam as meditações das 14 estações, cada uma das paragens da Via Sacra.<_o3a_p>

Este ano, Francisco encarregou um bispo italiano, Giancarlo Maria Bregantini, de redigir as meditações. Considerado como um dos religiosos italianos socialmente mais progressistas, Bregantini é conhecido pelas suas posições corajosas na luta contra a máfia no Sul de Itália.<_o3a_p>

As meditações denunciaram “o peso de todas as injustiças que a crise económica provocou”: “precariedade, desemprego, despejos, o dinheiro que governa em vez de servir, a especulação financeira, os suicídios dos empresários, a corrupção e usura, as empresas que abandonam o seu próprio país”.<_o3a_p>

Os jovens estiveram também muito presentes nas leituras, recordando-se os “condenados à morte, massacrados ou destruídos pelas guerras sobretudo as crianças-soldado”. O acolhimento dos emigrantes “que pedem asilo, dignidade e pátria” e a situação das prisões, “a dupla pena da sobrelotação das prisões, que consome a carne e os ossos”, duas preocupações habituais de Francisco, também foram evocadas.<_o3a_p>

“Lembremo-nos dos doentes, de todas as pessoas abandonadas”, disse Francisco no fim da cerimónia, perante os 40 mil fiéis que tinham assistido em silêncio. <_o3a_p>

Este sábado, o líder dos 1,2 mil milhões de católicos, vai celebrar a missa de véspera de Páscoa e no domingo será a vez da bênção urbi et orbi (“à cidade e ao mundo”).<_o3a_p>