A “versão artística” de Portugal vai entrar em campo na Luz

Há mais vida para além do jogo que vai decidir o vencedor da Liga dos Campeões, que este ano se disputa em Lisboa. Cerca de 400 voluntários preparam a cerimónia que vai celebrar as tradições portuguesas.

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Estádio da Luz vai receber final da Liga dos Campeões, a 24 de Maio Oxana Ianin

Antes disso, há um mês de ensaios pela frente, para tornar realidade a ideia desenvolvida por Wanda Rokicki, uma das coreógrafas mais experientes neste tipo de eventos. Wanda quer manter o segredo, mas diz ao PÚBLICO que se pode esperar “algo tradicional, mas com um toque moderno”, sem ser o “típico” ou “a versão turística de Portugal”. “É mais uma versão artística” do país que acolhe a final da Champions. O objectivo é “honrar a tradição portuguesa, incluindo a história naval ou a arte dos azulejos”.

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Antes disso, há um mês de ensaios pela frente, para tornar realidade a ideia desenvolvida por Wanda Rokicki, uma das coreógrafas mais experientes neste tipo de eventos. Wanda quer manter o segredo, mas diz ao PÚBLICO que se pode esperar “algo tradicional, mas com um toque moderno”, sem ser o “típico” ou “a versão turística de Portugal”. “É mais uma versão artística” do país que acolhe a final da Champions. O objectivo é “honrar a tradição portuguesa, incluindo a história naval ou a arte dos azulejos”.

O espectáculo, organizado pelo Circo de Bakuza e idealizado por Wanda, tem em consideração a especificidade de uma final de uma competição com o relevo da Liga dos Campeões. “Para uma cerimónia antes de um jogo de futebol, o jogo é o mais importante, todos sabemos disso”, diz a coreógrafa. Wanda já trabalhou em Jogos Olímpicos, por exemplo, onde o público paga para assistir às cerimónias. “Aqui pagou-se para ver o jogo, para torcer pela sua equipa, e [os adeptos] estão mesmo entusiasmados, a antecipar o que vai acontecer.”

O que pode fazer então a diferença numa cerimónia destas? Wanda refere o momento em que a coreografia representa as duas equipas que se defrontam e que coincide com a entrada dos jogadores em campo. “Essa imagem final tem de ser impressionante. É um momento electrizante”, confessa.

Mas até se chegar a esse momento ansiado, há muito trabalho que aguarda a equipa criativa. A conversa com o PÚBLICO acontece durante a curta passagem de Wanda por Lisboa, onde esteve a iniciar os preparativos para a cerimónia, na semana passada. Na véspera tinha estado com um grupo de voluntários para a primeira audição. Diz-se “impressionada” com a atitude dos “dançarinos” que encontrou. “Algumas pessoas estavam mesmo fora da sua zona de conforto”, notou Wanda. “Demos-lhes [uns exercícios de] aquecimento, algumas sequências e depois dei-lhes a rotina que íamos fazer na cerimónia. Algumas pessoas não conseguiam fazê-la, mas tentaram à mesma. Ninguém disse ‘não vou fazer’.”

Para a cerimónia da Luz, a coreógrafa estima que vá necessitar de um grupo entre 350 e 400 voluntários e os interessados ainda se podem inscrever. “Se forem fantásticos dançarinos de ballet, óptimo. Ou então ginastas, acrobatas”, brinca Wanda. O que é verdadeiramente importante é o entusiasmo, a energia e a paciência. “A forma que eu mais gosto de trabalhar é com pessoas que se divirtam, quero que sejamos uma equipa e uma família ao mesmo tempo.”

Coçar a cara em directo
A experiência de Wanda mede-se em grandes palcos: Jogos Olímpicos de Atenas em 2004, Campeonato do Mundo de 2010 e várias edições dos Jogos da Commonwealth fazem parte do seu cartão-de-visita. Mas o entusiasmo permanece estampado no seu rosto, especialmente quando fala do trabalho com os voluntários. “Começa-se com um grupo em que nem todos são dançarinos fantásticos, alguns não distinguem a direita da esquerda”, segue-se “um processo lento, de duas ou três semanas, e é vê-los a desenvolver-se.” O culminar do trabalho é quando se chega “ao momento da verdade e eles entram no estádio e ouvem 50 mil pessoas a gritar.”

A ela cabe-lhe ensinar algumas dicas para a prestação ser a melhor possível. “Não se trata apenas de passos físicos, é também sobre a paixão, mostrar emoções, não ter medo de sorrir ou de mostrar algum drama, dependendo da cena ou da sequência.” É preciso ter sempre em mente de que se trata de eventos vistos por milhões de pessoas em todo o mundo. A final da Liga dos Campeões, por exemplo, deverá chegar a 300 milhões de espectadores, estima a UEFA. “Eu digo-lhes sempre ‘podes ser tu a ser apanhado pela televisão a coçar a cara’”, conta a coreógrafa. Outra “batalha” de Wanda é a pastilha elástica: “É um hábito, mas tu és aquele que não quer ser apanhado na televisão a fazer isso.”

Wanda começou como dançarina e depois passou a coreógrafa. A passagem para a criação e organização de grandes eventos dá-se em 1991, quando se preparavam os Jogos Universitários de Sheffield e uma coreógrafa norte-americana procurava uma assistente local. Não havia, na cultura desportiva britânica, o hábito de se organizarem grandes espectáculos em torno das competições, ao contrário da realidade dos EUA, onde o expoente máximo é o Super Bowl. “Nunca tinha trabalhado com mais de cinquenta pessoas e, de repente, tinha um grupo de 1500 pessoas. Eu perguntava-me como é que era possível!”, relembra Wanda.

Um dos primeiros grandes trabalhos que teve a seu cargo foi a cerimónia de entrega de Hong Kong pelo Reino Unido à China, em 1997. Um evento “maravilhoso”, diz, apesar de ter decorrido durante a época das monções: “Havia um dilúvio, mas conseguimos.”

O palco da final tem um significado especial para Wanda. Foi na capital portuguesa que a coreógrafa iniciou a sua carreira, durante a década de 1970. Esteve três meses em Cascais, onde conheceu o seu assistente, com quem ainda hoje trabalha. “Nunca pensaria, quando comecei, que iria voltar aqui para organizar um grande evento”, diz-nos. O regresso a Lisboa trata-se da conclusão de um “círculo completo”. A cerimónia da final da Liga dos Campeões “é, de certa forma, um agradecimento” à cidade.