Irão revoltado com recusa dos EUA em conceder visto ao seu novo embaixador na ONU

Washington justifica decisão com a suspeita de envolvimento de Hamid Abutalebi no sequestro da embaixada americana em 1979.

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Teerão assegura que não vai nomear um substituto para Abutalebi President.ir/Reuters

“Não temos um substituto para Hamid Abutalebi e vamos dar seguimento ao caso através dos mecanismos legais previstos pelas Nações Unidas”, reagiu o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araghchi. Em Nova Iorque, o porta-voz da missão iraniana na ONU foi mais claro, acusando a Administração norte-americana de “desrespeitar a lei internacional, as obrigações do país anfitrião e o direito inerente dos Estados-membros a designarem os seus representantes nas Nações Unidas”.

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“Não temos um substituto para Hamid Abutalebi e vamos dar seguimento ao caso através dos mecanismos legais previstos pelas Nações Unidas”, reagiu o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araghchi. Em Nova Iorque, o porta-voz da missão iraniana na ONU foi mais claro, acusando a Administração norte-americana de “desrespeitar a lei internacional, as obrigações do país anfitrião e o direito inerente dos Estados-membros a designarem os seus representantes nas Nações Unidas”.

Ao abrigo de um acordo assinado em 1947, os EUA são obrigados a emitir vistos aos diplomatas nomeados para funções na ONU e aos dirigentes visitantes, mas as excepções são ainda assim possíveis, diz a AFP. Foi o que aconteceu em 1988, quando Washington recusou a entrada no país do então líder da Autoridade Palestiniana, Yasser Arafat, numa decisão que foi condenada pelas Nações Unidas, recorda a BBC.

Agora a Casa Branca barra a entrada do diplomata invocando as informações de que Abutalebi foi um dos estudantes revolucionários iranianos que, em 1979, tomou de assalto a embaixada norte-americana em Teerão, sequestrando 66 norte-americanos. O embaixador, que já representou Teerão na União Europeia e em Itália, nega ter estado envolvido no ataque, dizendo apenas ter servido de intérprete nas negociações que levaram à libertação, nos primeiros dias da crise, de 13 mulheres e funcionários afro-americanos da embaixada – outros 52 norte-americanos, entre civis e diplomatas ficaram reféns dos jovens revolucionários durante 444 dias.

Mas nem as poucas informações sobre o seu nível de envolvimento no sequestro, nem a informação de que o então estudante é hoje um moderado do regime iraniano, sossegaram os antigos reféns e, na semana passada, o Congresso norte-americano aprovou por uma moção exigindo à Administração que recusasse visto a Abutalebi, considerando que a sua presença representaria um risco de segurança. “Esta nomeação é um insulto não só para os reféns de 1979, mas para todos os americanos vítimas de terrorismo”, afirmou o senador democrata Charles Schumer.

O Presidente ainda não assinou o diploma, mas sexta-feira o seu porta-voz garantiu que Barack Obama “partilha o sentimento” dos congressistas – dias antes a Casa Branca dera a entender que estava a tentar convencer Teerão a alterar a sua nomeação.

Apesar de menor, o incidente mostra que é longo o caminho do desanuviamento nas relações entre os dois países, iniciado com a eleição, em Junho, do moderado Hassan Rohani para a presidência iraniana e que, em Novembro, abriu caminho a um acordo interino sobre o programa nuclear do país. Mohammad Javad Zarif, ministro dos Negócios Estrangeiros de Teerão e um dos artífices do acordo, afirmou na semana passada que a recusa de visto a Abutalebi seria “totalmente inaceitável” e fruto da acção de “um grupo de radicais” no Congresso.