Como estancar a emigração qualificada?

A situação em Portugal é preocupante, designadamente nas áreas da ciência e tecnologia.

A emigração nos anos mais recentes envolve fundamentalmente as faixas etárias mais jovens, onde o desemprego atingiu valores da ordem dos 42,5%, tendo muitos desses jovens um elevado nível de qualificações académicas e profissionais. Considerando apenas os portugueses que obtiveram a sua graduação académica de nível superior, estima-se que terão emigrado cerca de 20%, sendo este movimento emigratório referido como o segundo maior entre os jovens qualificados da Europa-20.

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A emigração nos anos mais recentes envolve fundamentalmente as faixas etárias mais jovens, onde o desemprego atingiu valores da ordem dos 42,5%, tendo muitos desses jovens um elevado nível de qualificações académicas e profissionais. Considerando apenas os portugueses que obtiveram a sua graduação académica de nível superior, estima-se que terão emigrado cerca de 20%, sendo este movimento emigratório referido como o segundo maior entre os jovens qualificados da Europa-20.

Um inquérito realizado em 2012, envolvendo estudantes das universidades portuguesas, indica que cerca de 85% têm nos seus planos emigrar após concluírem a sua formação académica. No caso dos estudantes de Engenharia, utilizando dados de um inquérito promovido pelo Instituto Superior Técnico (IST), verifica-se que a disponibilidade dos estudantes desta prestigiada instituição para trabalhar fora do país é de 4,1, numa escala de 1 a 5. Estamos, pois, perante um processo de emigração qualificada, baseada em jovens, nos quais o país apostou de forma significativa ao nível da sua formação, que vão desenvolver a sua capacidade de trabalho e de inovação em países onde a economia mais os valoriza.

A situação em Portugal, que conduz à emigração e, em particular, à emigração mais qualificada, não só de jovens mas também de quadros seniores de currículos de elevado mérito, é particularmente preocupante, designadamente nas áreas da ciência e tecnologia. Considerando dados da OCDE, relativos a recursos humanos em ciência e tecnologia, constata-se que os recursos nacionais nestas áreas representam apenas 28,7% do total dos recursos humanos, enquanto na UE-27 o valor é de 42,9%. A saída de profissionais qualificados, designadamente nestas áreas, conduz à não adequada rentabilização dos investimentos educativos, criando condições favoráveis à sua utilização pelos países terceiros.

A título indicativo refere-se, com base no LinkedIn, que existem pelo menos 1572 engenheiros diplomados pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) que exercem parte ou a totalidade da sua profissão no estrangeiro. Do IST, cerca de 20% dos engenheiros que obtiveram a sua graduação há pelo menos cinco anos estão igualmente a desenvolver a sua atividade no estrangeiro.

A emigração que conduza ao êxodo de graduados em áreas de ciência e tecnologia e não à mobilidade e à internacionalização assume particular importância num mundo globalizado, altamente competitivo e em que a diferenciação pela positiva se faz com base na inovação e no conhecimento. Um país que pretende desenvolver-se economicamente precisa de profissionais competentes, não só pelo seu nível de formação, mas principalmente pelo nível de qualificação e pelo elevado nível de desempenho profissional reconhecido dentro do respetivo mercado.

A minimização dos efeitos negativos pode ser feita, se conseguirmos que deste êxodo surtam estímulos à internacionalização da nossa economia e à mobilidade, conduzindo ao intercâmbio cultural.

Teremos de potenciar estes benefícios para que, quando a economia do nosso país recuperar e os nossos profissionais tiverem condições de regressar, com base em empresas e centros de investigação que deles necessitem, possamos passar da situação de “fuga de recursos humanos” para a de “caça aos recursos humanos”.

Para atingir este objetivo é determinante que seja criado um observatório que permita acompanhar o trajeto dos quadros que trabalham no estrangeiro. Certamente que eles serão os primeiros interessados em garantir nessa plataforma o preenchimento do seu percurso profissional, que se constituirá como um instrumento onde as empresas e o meio académico poderão encontrar soluções para a melhoria da sua capacidade empresarial e de investigação.

O futuro começa hoje.

Bastonário da Ordem dos Engenheiros