Militares de Abril só vão às comemorações da revolução se puderem intervir

Vasco Lourenço acusa o Governo de tratar “abaixo de cão” as Forças Armadas. Só não faz um segundo 25 de Abril, diz, porque “não há condições – vivemos, formalmente, em democracia”.

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“Não gostamos de ser a jarrinha na mesa ou a cereja em cima do bolo”. Foi desta forma que o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, comentou o convite que lhe foi endereçado pela presidente da Assembleia, Assunção Esteves, para participar nas cerimónias destinadas a assinalar o dia da liberdade.

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“Não gostamos de ser a jarrinha na mesa ou a cereja em cima do bolo”. Foi desta forma que o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, comentou o convite que lhe foi endereçado pela presidente da Assembleia, Assunção Esteves, para participar nas cerimónias destinadas a assinalar o dia da liberdade.

“Só [há] uma situação em que talvez consiga convencer os meus camaradas a irmos à Assembleia da República, [que] é se formos lá, de pleno direito, e usarmos da palavra na cerimónia”, sublinhou.

Vasco Lourenço, Otelo Saraiva de Carvalho e Martins Guerreiro foram três dos oficiais envolvidos no movimento que derrubou o antigo regime. Neste sábado à noite, a convite da câmara de Loulé, juntaram-se no cine-teatro daquela localidade algarvia para recordar o passado e lançar um olhar critico sobre o presente.

Os três protagonistas reafirmaram as divergências que os separaram há 40 anos, em relação ao rumo que o país deveria tomar, mas disseram estar unidos na contestação à política actual. “Não foi para isto que se fez o 25 de Abril”, afirmou Martins Guerreiro. Acrescentou Vasco Lourenço: “Os que estão no poder agem como se fossem os que foram derrotados no 25 de Abril”.

Por seu lado, Otelo Saraiva de Carvalho defende a democracia directa, popular, embora admita que a força do capital lhe trocou as voltas aos sonhos: “em 1974, nós podíamos ter criado aqui, instaurado um novo regime político”. Porém , reconheceu, “os Estados Unidos não iriam permitir a revolução socialista”.

Do debate, moderado pelo reitor da Universidade do Algarve, António Branco, saíram duas conclusões: “não foi para isto que fizemos o 25 de Abril e, se o povo não aguenta, faça a revolução”. Em relação à manifestação levada a cabo, em Lisboa, pelos militares, Vasco Lourenço, solidário com os camaradas de armas, disparou contra o Governo. “Os militares estão a ser tratados abaixo de cão, por este Governo, de forma absolutamente miserável –  estão a destruir as Forças Armadas”.

Por fim, o oficial que reclama para si o título de ter sido o “maior conspirador” na organização do movimento que levou à queda da ditadura, declarou aos jornalistas: “se sentisse que havia condições já estava a preparar outro 25 de Abril”. Uma das razões porque ainda o não fez, disse, é porque “estamos, formalmente, em democracia – agora não estraguem por completo a democracia, e eles estão de facto a estragar por completo a democracia”.