França condena ex-militar ruandês a 25 anos de prisão pelo genocídio de 1994

Foi considerado culpado de distribuir armas a milícias hutu e dar instruções “para que os tutsis fossem sistematicamente executados”.

Foto
Simbikangwa declarou-se inocente e vítima de uma "caça às bruxas" BENOIT PEYRUCQ/AFP

É a primeira condenação em França de um acusado de envolvimento nos massacres que causaram a morte de cerca de 800 mil pessoas em cem dias, entre Abril e Julho de 1994, principalmente tutsis mas também hutus moderados.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

É a primeira condenação em França de um acusado de envolvimento nos massacres que causaram a morte de cerca de 800 mil pessoas em cem dias, entre Abril e Julho de 1994, principalmente tutsis mas também hutus moderados.

Antigo oficial da guarda presidencial, Simbikangwa integrou a polícia política e, segundo a acusação, chegou a número três da hierarquia. Foi preso em 2008 por falsificação e tráfico de documentos em Mayotte, arquipélago francês das Comores, onde se refugiara.

A sentença, de sexta-feira, refere que o antigo militar, actualmente com 54 anos, paraplégico devido a um acidente de automóvel em 1986, foi considerado culpado de distribuir armas a milícias hutu e dar instruções “para que os tutsis fossem sistematicamente executados”. Paradoxalmente, observou a AFP, foram testemunhos de tutsis que salvou em Kigali, e que disseram tê-lo visto a armazenar e distribuir armas, que se revelaram mais incriminatórios.

A acusação considera-o “mandante”, “torturador" e “negacionista” do genocídio, a defesa argumentou que o julgamento foi um “processo político” e que as testemunhas foram movidas pelo ódio.

Simbikangwa rejeitou as acusações e declarou não ter visto um único cadáver durante o genocídio. Minimizou o seu papel e descreveu-se como um “mero agente”, embora tenha admitido a sua lealdade ao Presidente Juvenal Habyarimana, um hutu cuja morte na queda de um avião foi a justificação para os massacres. O antigo militar considera-se vítima de uma “caça às bruxas” orquestrada pelos tutsis actualmente no poder. “A França não tem nada contra mim, mas foram-me feitas acusações que nem a ministros ou generais foram feitas”, disse.

A justiça francesa, que sistematicamente rejeitou pedidos de extradição feitos pelas autoridades ruandesas, julgou o antigo militar em nome da “competência universal” para crimes graves. O ministro da Justiça ruandês, Johnston Busingye, referiu-se à condenação como “uma etapa importante para a justiça”. A defesa do antigo militar ruandês admitiu a hipótese de recurso.