Ucrânia, depois da violência a repressão

A operação “antiterrorista” ucraniana vai ser uma caça cerrada aos oposicionistas.

Diz o hino ucraniano que “A glória da Ucrânia ainda não pereceu, nem a sua liberdade”. Mas o ambiente dantesco vivido em Kiev, deixando um rasto de destruição e morte, põem ambas em sério perigo. E reduzem a cinzas os fundamentos do lema nacional do país: “Liberdade, Concordância, Bondade”. Ianukovich, o Presidente que empurrou o país para a orla de Moscovo, contra a vontade de milhões que preferiam a aproximação à União Europeia (a crise começou quando o Presidente se recusou a renovar um contrato comercial com a UE), apostou no cansaço dos manifestantes que iam enchendo a Praça da Independência. Como isso não resultou, porque a tenacidade dos opositores era muita, fez a polícia antimotim cercar a praça, numa primeira fase, e depois invadi-la com inusitada violência. O que começou por ser um protesto pacífico, há um mês atrás, foi crescendo até se tornar na semente de um conflito insanável: Ianukovich tentou ceder em pequenas coisas, demitindo até o governo, mas fê-lo sempre fora de tempo, quando os manifestantes já queriam muito mais do que ele lhes oferecia. A evolução da crise ucraniana, nos últimos dias e sobretudo nas últimas horas, com a violência a crescer nos dois lados da barricada, fazia prever um desenlace brutal. Se Ianukovitch não cedia o poder, iria usá-lo para calar os que se lhe opunham. Foi o que sucedeu na noite de ontem, com resultados ainda imprevisíveis. Aquilo a que o regime, na sequência da invasão da praça, apelidou de operação “antiterrorista”, vai ser uma caça cerrada aos oposicionistas e sobretudo aos seus líderes. A repressão terá rédea livre, com o beneplácito de Moscovo. O apelo do líder do partido da oposicionista Vitali Klitschko, dizendo que “o poder desencadeou uma guerra contra o seu próprio povo, os responsáveis dos países democráticos não podem continuar inactivos”, já teve algumas respostas ocidentais, com ameaças de sanções. Estará o pior ainda para vir?
 

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Diz o hino ucraniano que “A glória da Ucrânia ainda não pereceu, nem a sua liberdade”. Mas o ambiente dantesco vivido em Kiev, deixando um rasto de destruição e morte, põem ambas em sério perigo. E reduzem a cinzas os fundamentos do lema nacional do país: “Liberdade, Concordância, Bondade”. Ianukovich, o Presidente que empurrou o país para a orla de Moscovo, contra a vontade de milhões que preferiam a aproximação à União Europeia (a crise começou quando o Presidente se recusou a renovar um contrato comercial com a UE), apostou no cansaço dos manifestantes que iam enchendo a Praça da Independência. Como isso não resultou, porque a tenacidade dos opositores era muita, fez a polícia antimotim cercar a praça, numa primeira fase, e depois invadi-la com inusitada violência. O que começou por ser um protesto pacífico, há um mês atrás, foi crescendo até se tornar na semente de um conflito insanável: Ianukovich tentou ceder em pequenas coisas, demitindo até o governo, mas fê-lo sempre fora de tempo, quando os manifestantes já queriam muito mais do que ele lhes oferecia. A evolução da crise ucraniana, nos últimos dias e sobretudo nas últimas horas, com a violência a crescer nos dois lados da barricada, fazia prever um desenlace brutal. Se Ianukovitch não cedia o poder, iria usá-lo para calar os que se lhe opunham. Foi o que sucedeu na noite de ontem, com resultados ainda imprevisíveis. Aquilo a que o regime, na sequência da invasão da praça, apelidou de operação “antiterrorista”, vai ser uma caça cerrada aos oposicionistas e sobretudo aos seus líderes. A repressão terá rédea livre, com o beneplácito de Moscovo. O apelo do líder do partido da oposicionista Vitali Klitschko, dizendo que “o poder desencadeou uma guerra contra o seu próprio povo, os responsáveis dos países democráticos não podem continuar inactivos”, já teve algumas respostas ocidentais, com ameaças de sanções. Estará o pior ainda para vir?