O pai do Noir nórdico tem cancro e vai contar a sua batalha num jornal

Henning Mankell, criador da série policial Wallander, quer escrever sobre a "dor e o sofrimento", mas "na perspectiva de vida, não da morte".

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Mankell é autor de mais de 40 romances e novelas, incluindo os dez livros da série Wallander Johannes Eisele/AFP

O criador de Kurt Wallander, o metódico e ansioso inspector da polícia de Ystad que protagoniza uma série de best-sellers publicada em dezenas de países, foi informado do diagnóstico há pouco mais de duas semanas, quando foi a um ortopedista em Estocolmo com fortes dores na coluna que atribuía a uma hérnia discal. “Quando regressei a Gotemburgo no dia seguinte fi-lo com um diagnóstico grave de cancro”, recorda num artigo que assina no Göteborgs-Posten, acrescentando que a confirmação chegou após novos exames no hospital local. “Era grave. Tinha um tumor no meu pescoço e outro no meu pulmão esquerdo. Além disso, suspeita-se que [o cancro] se possa ter espalhado para outras partes no corpo.”

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O criador de Kurt Wallander, o metódico e ansioso inspector da polícia de Ystad que protagoniza uma série de best-sellers publicada em dezenas de países, foi informado do diagnóstico há pouco mais de duas semanas, quando foi a um ortopedista em Estocolmo com fortes dores na coluna que atribuía a uma hérnia discal. “Quando regressei a Gotemburgo no dia seguinte fi-lo com um diagnóstico grave de cancro”, recorda num artigo que assina no Göteborgs-Posten, acrescentando que a confirmação chegou após novos exames no hospital local. “Era grave. Tinha um tumor no meu pescoço e outro no meu pulmão esquerdo. Além disso, suspeita-se que [o cancro] se possa ter espalhado para outras partes no corpo.”

No artigo, traduzido para inglês na sua página pessoal na Internet, Mankell fala da angústia – “a minha ansiedade é profunda, embora na maior parte do tempo consigo controlá-la” –, mas também da certeza de que tem de continuar a fazer o que sempre fez, ainda que sobre um tema diferente. “Muito depressa decidi que tinha de escrever sobre isto, porque é acima de tudo sobre a dor e o sofrimento que atinge tanta gente”, continua o autor. “Vou escrever tal como isto é. Mas vou escrever partindo da perspectiva da vida, não da morte”, afirma, antes de acrescentar: “Começo agora, comecei agora.”

As crónicas, ainda sem periocidade anunciada, vão ser publicadas no Göteborgs-Posten, jornal da sua cidade e com o qual colabora há vários anos, contou o editor da secção de Cultura ao jornal britânico The Guardian. Mankell torna-se, assim, o último de vários autores a decidir escrever sobre a própria luta contra o cancro, escreve o jornal britânico, lembrando entre outros Christopher Hitchens, jornalista e escritor britânico que foi premiado por artigos que escreveu em 2010 sobre a doença para a revista Vanity Fair. Em 2007, ainda na cama do hospital onde foi operado, o português António Lobo Antunes revelou também na sua crónica semanal na revista Visão como um cancro alterou “de cabo a rabo” a sua vida.

Mankell é autor de mais de 40 romances e novelas, incluindo os dez livros da série Wallander, pelos quais foi aclamado como pioneiro e mestre do Noir nórdico, abrindo caminho a uma nova geração de autores de policiais dos países escandinavos que, em poucos anos, conseguiram sucesso mundial. Em 2009, Um Homem Inquieto pôs um ponto final na atribulada carreira do inspector de polícia, então com 60 anos feito e os primeiros sinais da doença que o empurraria para a reforma e um “universo vazio”.

O escritor, que foi casado com a filha do realizador Ingmar Bergman e se define como um homem de esquerda, divide o seu tempo entre a Suécia e Moçambique, onde está desde 1986 ligado ao Teatro Avenida em Maputo, primeiro como director, actualmente como responsável artístico. Da experiência moçambicana nasceu o seu último romance, A Treacherous Paradise (2013), onde conta a história de uma jovem sueca que gere um bordel na Lourenço Marques da colonização portuguesa.