Rahul Gandhi lançado como candidato a primeiro-ministro da Índia

As legislativas deverão ser no Verão, mas o primeiro-ministro já lançou a campanha. Nomeou o sucessor e criou medo ao colar a oposição à violência religiosa.

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Falta a Rehul Gandhi o carisma do pai e da avó Prakash SINGH/AFP

Singh esclareceu que não se tratava, ainda, de um anúncio oficial. Mas é assim que deve ser entendido, até pela circunstância em que foi feito — desde que é primeiro-ministro da Índia, Singh só deu três conferências de imprensa, uma delas esta sexta-feira para, também oficiosamente, dar a partida para a campanha eleitoral.

“É o momento de passar o testemunho — disse num depoimento inicial, antes das perguntas dos jornalistas —, e espero que o novo primeiro-ministro seja o que o nosso partido [do Congresso] escolher. Estamos a trabalhar para que assim aconteça”.

A data das legislativas ainda não está marcada, será depois de Maio, possivelmente no Verão. Mas o teor da batalha política que se vai travar está marcado. Singh definiu-o ao dizer que será “desastroso” para a Índia se o líder do principal partido da oposição, Narendra Modi (do Bharatiya Janata, BJP na sigla inglesa) se tornar primeiro-ministro.

Modi é, neste momento, o político mais popular do país. Muito graças aos 11 anos à frente do estado de Gujarat onde conseguiu, numa década de gestão, o que é definido na Índia como o milagre da industrialização. O eco dos bons resultados económicos de Modi alastrou a todo o país, sobretudo porque foram acompanhados do crescimento da descrença nacional no Partido do Congresso.

Singh é acusado de ser um primeiro-ministro fraco, tendo falhado na economia — que declina — e de não ter conseguido resolver problemas que são endémicos: a pobreza, a falta de infraestruturas e o baixo nível da educação pública. Acresce a esta análise a corrupção entre a classe dirigente.

“Acho que não sou um primeiro-ministro fraco. Acredito francamente que a História será mais branda comigo do que a oposição e os media”, disse Manmohan Singh ao responder aos jornalistas que insistiram na questão da corrupção. “Bem, no capítulo das acusações de corrupção, a maior parte delas estão relacionadas com o passado. Essas acusações correspondem a cinco anos anteriores, mas depois disso já fomos a votos e o povo deu-nos um novo mandato para governar.”

Modi, o adversário
A verdade é que o Partido do Congresso está mal colocado nas sondagens e que Modi pode muito bem ser o próximo primeiro-ministro da Índia. Singh sabe as dificuldades que a sua formação política atravessa — agravadas pelas guerras internas — e pôs em prática a frase que diz que a melhor defesa é o ataque. “Se ser forte significa massacrar inocentes em Ahmedabad, se essa é a medida do forte, então penso que a Índia não precisa disso”.

Ahmedabad é a maior cidade de Gujarat, um estado na ponta ocidental da Índia. Em 2002, violentos motins opuseram a população hindu à muçulmana. Mais de mil pessoas, sobretudo muçulmanos, morreram e Modi, um nacionalista hindu, foi acusado de não ter agido para travar a violência religiosa. Singh jogou com este medo sectário — e com outro, que os analistas indianos há muito referem, sobre a possibilidade de o carácter secular deste caldo cultural feito de 1,2 mil milhões de pessoas começar a ser posto em causa com a vitória de Modi — e foi também nesse contexto que considerou que a vitória da oposição seria “desastrosa”.

Sobre Rahul Gandhi não se alongou. Disse que, “quando for apropriado”, o partido anunciará o seu candidato. Gandhi, que tem 43 anos, é o herdeiro da dinastia política inaugurada por Nehru. Para uma parte do Partido do Congresso e, por direito de nascimento, um primeiro-ministro em espera. Durante anos, esteve a aprender o ofício na política regional (é deputado no Uttar Pradesh, onde viveu a sua primeira grande experiência eleitoral) e já é o vice-presidente do partido. A número um é, ainda, a mãe, Sonia — a viúva de Rajiv Gandhi,  primeiro-ministro que foi assassinado, como a mãe, Indira —, e foi ela quem escolheu Singh para primeiro-ministro quando o Partido do Congresso venceu as eleições de 2004. Foi nesse ano que Rahul entrou na política.

Apesar de os analistas dizerem que Rahul não tem o carisma dos antepassados, não arrebatando as multidões como o pai ou a avó, o nome Gandhi ainda é um capital político na Índia. E Rahul pode ser o trunfo de que o Congresso precisa perante a escalada de popularidade de Modi. Sonia — especula-se que possa passar a presidência do partido ao filho antes das eleições — conta com isso, esperando-se que aproveite a chegada do filho à política nacional para renovar um partido envelhecido e com muitos vícios.

Manmohan Singh, que tem 81 anos, recebeu uma missão. Governar a Índia até à passagem do testemunho. Esta sexta-feira correspondeu ao que se esperava dele anunciando à Índia quem será o seu sucessor. 
 
 
 
 
 

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Singh esclareceu que não se tratava, ainda, de um anúncio oficial. Mas é assim que deve ser entendido, até pela circunstância em que foi feito — desde que é primeiro-ministro da Índia, Singh só deu três conferências de imprensa, uma delas esta sexta-feira para, também oficiosamente, dar a partida para a campanha eleitoral.

“É o momento de passar o testemunho — disse num depoimento inicial, antes das perguntas dos jornalistas —, e espero que o novo primeiro-ministro seja o que o nosso partido [do Congresso] escolher. Estamos a trabalhar para que assim aconteça”.

A data das legislativas ainda não está marcada, será depois de Maio, possivelmente no Verão. Mas o teor da batalha política que se vai travar está marcado. Singh definiu-o ao dizer que será “desastroso” para a Índia se o líder do principal partido da oposição, Narendra Modi (do Bharatiya Janata, BJP na sigla inglesa) se tornar primeiro-ministro.

Modi é, neste momento, o político mais popular do país. Muito graças aos 11 anos à frente do estado de Gujarat onde conseguiu, numa década de gestão, o que é definido na Índia como o milagre da industrialização. O eco dos bons resultados económicos de Modi alastrou a todo o país, sobretudo porque foram acompanhados do crescimento da descrença nacional no Partido do Congresso.

Singh é acusado de ser um primeiro-ministro fraco, tendo falhado na economia — que declina — e de não ter conseguido resolver problemas que são endémicos: a pobreza, a falta de infraestruturas e o baixo nível da educação pública. Acresce a esta análise a corrupção entre a classe dirigente.

“Acho que não sou um primeiro-ministro fraco. Acredito francamente que a História será mais branda comigo do que a oposição e os media”, disse Manmohan Singh ao responder aos jornalistas que insistiram na questão da corrupção. “Bem, no capítulo das acusações de corrupção, a maior parte delas estão relacionadas com o passado. Essas acusações correspondem a cinco anos anteriores, mas depois disso já fomos a votos e o povo deu-nos um novo mandato para governar.”

Modi, o adversário
A verdade é que o Partido do Congresso está mal colocado nas sondagens e que Modi pode muito bem ser o próximo primeiro-ministro da Índia. Singh sabe as dificuldades que a sua formação política atravessa — agravadas pelas guerras internas — e pôs em prática a frase que diz que a melhor defesa é o ataque. “Se ser forte significa massacrar inocentes em Ahmedabad, se essa é a medida do forte, então penso que a Índia não precisa disso”.

Ahmedabad é a maior cidade de Gujarat, um estado na ponta ocidental da Índia. Em 2002, violentos motins opuseram a população hindu à muçulmana. Mais de mil pessoas, sobretudo muçulmanos, morreram e Modi, um nacionalista hindu, foi acusado de não ter agido para travar a violência religiosa. Singh jogou com este medo sectário — e com outro, que os analistas indianos há muito referem, sobre a possibilidade de o carácter secular deste caldo cultural feito de 1,2 mil milhões de pessoas começar a ser posto em causa com a vitória de Modi — e foi também nesse contexto que considerou que a vitória da oposição seria “desastrosa”.

Sobre Rahul Gandhi não se alongou. Disse que, “quando for apropriado”, o partido anunciará o seu candidato. Gandhi, que tem 43 anos, é o herdeiro da dinastia política inaugurada por Nehru. Para uma parte do Partido do Congresso e, por direito de nascimento, um primeiro-ministro em espera. Durante anos, esteve a aprender o ofício na política regional (é deputado no Uttar Pradesh, onde viveu a sua primeira grande experiência eleitoral) e já é o vice-presidente do partido. A número um é, ainda, a mãe, Sonia — a viúva de Rajiv Gandhi,  primeiro-ministro que foi assassinado, como a mãe, Indira —, e foi ela quem escolheu Singh para primeiro-ministro quando o Partido do Congresso venceu as eleições de 2004. Foi nesse ano que Rahul entrou na política.

Apesar de os analistas dizerem que Rahul não tem o carisma dos antepassados, não arrebatando as multidões como o pai ou a avó, o nome Gandhi ainda é um capital político na Índia. E Rahul pode ser o trunfo de que o Congresso precisa perante a escalada de popularidade de Modi. Sonia — especula-se que possa passar a presidência do partido ao filho antes das eleições — conta com isso, esperando-se que aproveite a chegada do filho à política nacional para renovar um partido envelhecido e com muitos vícios.

Manmohan Singh, que tem 81 anos, recebeu uma missão. Governar a Índia até à passagem do testemunho. Esta sexta-feira correspondeu ao que se esperava dele anunciando à Índia quem será o seu sucessor.