Stonehenge tem um novo centro de visitantes para turistas e druidas

Uma das estradas ainda está demasiado perto do monumento megalítico, mas as vedações e o centro antigo são substituídos por um novo projecto arquitectónico após décadas de polémicas.

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A imagem turística de Stonehenge, o conjunto megalítico formado pelas cinco pedras centrais e pelos pilares unidos no Círculo de Sarsen em seu redor e cuja finalidade é até hoje discutida, não inclui as estradas movimentadas ou os gradeamentos inestéticos. Nem as “casas de banho sinistras”, como descreve, por exemplo, o Guardian, que serviam de apoio ao centro de visitantes antigo.

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A imagem turística de Stonehenge, o conjunto megalítico formado pelas cinco pedras centrais e pelos pilares unidos no Círculo de Sarsen em seu redor e cuja finalidade é até hoje discutida, não inclui as estradas movimentadas ou os gradeamentos inestéticos. Nem as “casas de banho sinistras”, como descreve, por exemplo, o Guardian, que serviam de apoio ao centro de visitantes antigo.

“É uma humilhação nacional”, confirma ao Telegraph Simon Thurley, que dirige há 11 anos o organismo que aconselha o Governo britânico sobre o património e que administra uma série de sítios arqueológicos, entre os quais Stonehenge. As suas palavras espelham duas décadas de insatisfação política e pública com as instalações provisórias abertas em 1968, que se eternizaram, agudizada pela inscrição na lista do Património Mundial da UNESCO em 1986 – “uma vergonha nacional”, dizia já em 1989 uma comissão parlamentar dedicada à reabilitação do sítio arqueológico.

Mas se até aqui “não havia exposição, nem oportunidades para que as pessoas bebessem um chá”, como constata, muito britanicamente, Thurley, “esta é uma mudança radical para os milhões de pessoas que vêm a Stonehenge por ano. Podem ver as pedras pela primeira vez livres da tralha e do lixo que têm aumentado em torno delas desde os anos 1960”, diz, citado pela BBC.

Depois de um longo e também vexante processo de concursos e recuos, outrora classificado como “farsa infindável” por um deputado britânico e que a actual ministra da Cultura, Maria Miller, resume polidamente como “décadas de indecisão”, nasce então um novo e “determinadamente modesto” centro de visitantes, como descreve o Guardian. Resulta de um investimento de 31,9 milhões de euros (parte de mecenato e 11,8 milhões das receitas de jogos sociais do Heritage Lottery Fund) que mostrará 250 objectos pré-históricos, muitos dos quais nunca antes mostrados ao público, além de dois raros manuscritos do século XIV que incluem alguns dos primeiros desenhos conhecidos de Stonehenge.

E talvez a face mais visível da exposição do centro seja a de um homem do Neolítico ruivo e barbudo, a reconstrução forense baseada num crânio e esqueleto com 5500 anos encontrado num túmulo perto das pedras. Aparece em duas versões: mostra-se o seu esqueleto, recuperado em 1863 e cujo crânio se julgou perdido durante anos, por estar erradamente arquivado entre ossos retirados de Pompeia; e a sua cara, recriada pelo perito Oscar Nilsson, que auxilia as autoridades suecas na identificação de cadáveres de vítimas de homicídio. “Não é lindo?”, pergunta ao Guardian a comissária da exposição, a arqueóloga Sara Lunt.

O edifício, uma estrutura de vidro, aço e madeira, não se vê quando estamos no círculo de pedras, mesclando-se na paisagem quando a observamos de outros ângulos. É “tão leve quanto as velhas pedras são pesadas”, num estilo “simplesmente moderno”, elogia o crítico de arquitectura do Guardian Rowan Moore. É formado por dois módulos de um só andar, que ficam lado a lado e que albergam diferentes valências do centro, apoiado numa plataforma de calcário e coberto por um toldo suportado por colunas finas. No próximo ano, escreve o Telegraph, será construído junto ao centro um modelo de uma aldeia neolítica.

Com o novo centro de visitantes, esperam-se mais turistas (de um milhão anual para 1,25 milhões num ano) e visitas mais longas (de menos de meia hora para pelo menos duas horas) a Stonehenge. O centro torna-se interpretativo, como desejava Thurley, também porque há pedaços de animais, jóias e cerâmicas que mostram bem – e pela primeira vez expostas no local – como era a vida no sítio arqueológico da Idade do Bronze. Há ainda moedas romanas, jóias e ouro, além de uma projecção vídeo de 360º que leva o visitante numa viagem no tempo acompanhando os cerca de 5000 anos de Stonehenge. E que não esquece o ruído dos carros.

É que o novo centro modifica muita coisa, mas ainda não conseguiu suprimir o anacronismo de cenas como a testemunhada pelo diário Telegraph no passado sábado: uma das estradas que atravessavam parte da zona classificada, a A334, já foi encerrada e está a ser coberta de verde, mas o tráfego da A303 abafava por vezes o grupo de cerca de cem druidas de Cotswold que ali celebrava o Sol e antecipava o solstício de Inverno. A via, muito usada no Verão pelos britânicos que rumam a sul e cuja eliminação foi estimada em 603,3 milhões de euros, está em alguns locais a menos de 200 metros das pedras ali colocadas entre 3000 e 1600 a.C.. Simon Thurley diz ao Telegraph que nos próximos anos espera que a estrada seja repavimentada com material redutor do som. “A fase dois tem de ser pôr a A303 num túnel.”

Para já, ganhou-se um edifício, projectado pelo atelier australiano Denton Corker Marshall, que fica a 2,4 quilómetros do sítio arqueológico, sendo os visitantes transportados entre o centro e as pedras em vaivéns motorizados ou podendo seguir a pé parte do percurso. O antigo caminho processional do monumento, conhecido como a Avenida, foi novamente ligado a Stonehenge com a eliminação da A334. Foram removidas vedações e outros elementos que condicionavam a paisagem em torno do sítio arqueológico e o actual parque de estacionamento vai ser transformado em relvado. O antigo centro de visitantes, que tanta vergonha e humilhação causou ao Reino Unido, será desmantelado.