António Reis, Béla Tarr e Ben Rivers este fim-de-semana no Centro de Arte Moderna

O diálogo aventureiro entre os curadores Haden Guest e Joaquim Sapinho cruzou o cinema contemporâneo do mundo

Fotogaleria

É o primeiro capítulo de uma programação que deve mais “a uma espécie de poética do que a uma causalidade racional”, diz Joaquim Sapinho. Reis/Cordeiro a abrir porque Trás-os-Montes (1976) continua a provocar “reverberação”. Foi o filme cuja descoberta do outro lado do Atlântico levou, em 2012, à programação pelo Harvard Film Archive de Haden Guest do ciclo The School of Reis: The Films and Legacy of António Reis and Margarida Cordeiro, que depois percorreu os EUA. Identificava Reis, com as suas aulas no Conservatório e os seus filmes, como a figura de referência para Pedro Costa, Joaquim Sapinho, Manuela Viegas, Vítor Gonçalves ou João Pedro Rodrigues: ou seja, é a figura tutelar para um grupo onde estão os mais proeminentes cineastas portugueses, como escreveu, a propósito de Trás-os-Montes, na revista Artforum, o crítico Dennis Lim, que hoje programa a Lincoln Center Film Society.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

É o primeiro capítulo de uma programação que deve mais “a uma espécie de poética do que a uma causalidade racional”, diz Joaquim Sapinho. Reis/Cordeiro a abrir porque Trás-os-Montes (1976) continua a provocar “reverberação”. Foi o filme cuja descoberta do outro lado do Atlântico levou, em 2012, à programação pelo Harvard Film Archive de Haden Guest do ciclo The School of Reis: The Films and Legacy of António Reis and Margarida Cordeiro, que depois percorreu os EUA. Identificava Reis, com as suas aulas no Conservatório e os seus filmes, como a figura de referência para Pedro Costa, Joaquim Sapinho, Manuela Viegas, Vítor Gonçalves ou João Pedro Rodrigues: ou seja, é a figura tutelar para um grupo onde estão os mais proeminentes cineastas portugueses, como escreveu, a propósito de Trás-os-Montes, na revista Artforum, o crítico Dennis Lim, que hoje programa a Lincoln Center Film Society.

Para além de expressar logo uma afinidade electiva, Entropia e Utopia... é o primeiro sinal visível no programa do diálogo, “muito pessoal” (Guest), baseado na “intuição” (Guest e Sapinho), que foram mantendo os dois curadores. Reis, Rivers e Tarr: o segundo, segundo Guest, conhece o filme do primeiro; já “Tarr não viu o filme de Reis, mas vai ver” em Lisboa – a proposta dos curadores testa-se ao vivo, o diálogo de ideias está em aberto, continua. “Ao trazer Rivers e Tarr [a Lisboa, para o debate], a ideia é que eles possam explorar, com Trás-os-Montes, a profundidade dos seus próprios temas: o tempo, a paisagem, o mito popular.”

A programação resulta de um diálogo de ideias, explica Sapinho. Os filmes não foram um ponto de partida, foram um ponto de chegada. Entropia e Utopia porquê? “Porque está tudo a morrer – o Tarr, por exemplo, anunciou que O Cavalo de Turim era o seu último filme; o Rivers filma sobre as margens. E, no entanto, há como que uma comunidade na derrota. Penso que esta entropia está ligada a uma energia, a uma utopia.”

Como para a definição dos restantes capítulos do programa, um determinado conceito foi-se aventurando e acabou a cruzar o cinema contemporâneo: Para Paulo Rocha (13, 14 e 15 de Dezembro) juntará Se Eu Fosse Ladrão Roubava, a derradeira obra de Rocha, com filmes de Nelson Pereira dos Santos e Víctor Gaviria; o diálogo entre Susana de Sousa Dias, Patricio Guzmàn e Soon-mi Yoo faz o fim-de-semana de 10, 11 e 12 de Janeiro (título: A Memória Acredita Antes de o Saber Se Lembrar); Manuela Viegas e Lucrecia Martel cruzarão Glória, A Mulher sem Cabeça e La Niña Santa (Desejo sem Linguagem, 24, 25 e 26 de Janeiro); Manuel Mozos, Martin Rejtman e Denis Côté são a proposta de um Cinema em Tom Menor (14, 15 e 16 de Fevereiro). E, a terminar a primeira vaga da programação, Depois de Vanda, com Albert Serra, Nicolàs Pereda e Tomita Katsuya a dialogarem a propósito de No Quarto da Vanda, o filme de Pedro Costa que vibra neste momento no cinema contemporâneo

Trás-os-Montes, de António Reis e Margarida Cordeiro