A fama dos Estúdios Valentim de Carvalho

Se os Beatles tinham Abbey Road, Amália teria os Estúdios VC, apetrechados para captar devidamente a voz maior da música portuguesa e a artista que mais apaixonara o jovem editor.

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O músico David Fonseca nos Estúdios VC em 2012 Miguel Manso

A inspiração assumida eram os Abbey Road, de Londres, cuja fama planetária se devia a ali funcionar o quartel-general das históricas gravações dos Beatles. Em certa medida, poder-se-ia dizer que os estúdios da Valentim de Carvalho foram construídos para oferecer numa bandeja a Amália Rodrigues. Se os Beatles tinham Abbey Road, Amália teria os Estúdios VC, apetrechados para captar devidamente a voz maior da música portuguesa e a artista que mais apaixonara o jovem editor – mesmo quando os afazeres à frente da companhia o impediam de acompanhar o calendário de gravações, nunca deixou de abrir uma excepção para testemunhar os registos de Amália.

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A inspiração assumida eram os Abbey Road, de Londres, cuja fama planetária se devia a ali funcionar o quartel-general das históricas gravações dos Beatles. Em certa medida, poder-se-ia dizer que os estúdios da Valentim de Carvalho foram construídos para oferecer numa bandeja a Amália Rodrigues. Se os Beatles tinham Abbey Road, Amália teria os Estúdios VC, apetrechados para captar devidamente a voz maior da música portuguesa e a artista que mais apaixonara o jovem editor – mesmo quando os afazeres à frente da companhia o impediam de acompanhar o calendário de gravações, nunca deixou de abrir uma excepção para testemunhar os registos de Amália.

Sobre esses momentos, Amália recordaria ao seu biógrafo Vítor Pavão dos Santos: “No estúdio de gravação do Valentim de Carvalho havia um ambiente de grande amizade. Eu levava o jantar de casa, com carnes minhas, carapaus meus, havia amigos à volta, comíamos e quando começava a gravar estava completamente à vontade e gravava noite fora”.

O técnico de som escolhido por Rui Valentim de Carvalho para registar vozes da grandeza de Amália, mas também Alfredo Marceneiro, Maria Teresa de Noronha, Carlos Ramos ou Hermínia Silva seria Hugo Ribeiro, seu homem de confiança e com quem já anteriormente trabalhava. A escolha revelar-se-ia acertada e seria, em grande parte, o contributo de Ribeiro – que gravou Marceneiro vendado, para este sentir que cantava de noite e imaginar-se numa casa de fados, ou que colocava microfones desligados para manter os artistas à distância que lhe interessava dos “verdadeiros” microfones – a alimentar a fama dos Estúdios Valentim de Carvalho. Essa fama, ao longo dos anos, atrairia para as suas salas os Shadows (de Cliff Richard), Vinicius de Moraes, Rolling Stones ou Julio Iglésias.

Pelos estúdios que ainda hoje se encontram em perfeita operação nas mãos de Nelson Carvalho passaram igualmente, durante a liderança do editor, os nomes maiores da geração yé-yé em Portugal ou o génio da guitarra portuguesa Carlos Paredes, que por lá gravou, entre outros, o seminal Movimento Perpétuo (1967).