Nobel da Medicina de 2013 para sistema de transporte essencial nas células

Prémio distingue dois investigadores norte-americanos e um alemão.

Fotogaleria

Já se sabia que as moléculas produzidas pelas células vivas são transportadas para os diferentes locais onde são necessárias dentro de pequenas bolsas ou vesículas. Mas, como explicou esta segunda-feira o comité Nobel em conferência de imprensa, a questão de saber como as vesículas conseguiam entregar a sua carga no sítio certo, na altura certa, permanecia um dos grandes mistérios do funcionamento celular.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Já se sabia que as moléculas produzidas pelas células vivas são transportadas para os diferentes locais onde são necessárias dentro de pequenas bolsas ou vesículas. Mas, como explicou esta segunda-feira o comité Nobel em conferência de imprensa, a questão de saber como as vesículas conseguiam entregar a sua carga no sítio certo, na altura certa, permanecia um dos grandes mistérios do funcionamento celular.

As células estão divididas em diferentes compartimentos que desempenham funções específicas. E quando as vesículas chegam à membrana do compartimento onde devem entregar a sua carga, a sua membrana funde-se com a membrana-alvo e a carga é libertada. O trabalho dos laureados do Nobel da Medicina deste ano permitiu perceber os pormenores deste sistema de tráfego vesicular, que permite transportar hormonas, neurotransmissores, enzimas - de facto, um sem-fim de substancias diferentes, com funções diferentes - para diversos locais da células, bem como para o exterior, com uma enorme eficiência.

Nos anos 1970, Schekman (n. 1948) estudou as bases genéticas do transporte das proteínas dentro das células de levedura. Identificou então, comparando células normais com células onde o transporte era deficiente, uma série de genes que controlavam esse processo.

Nos anos 1980-1990, Rothman (n. 1950) estudou, por seu lado, a maquinaria celular que permite a fusão das vesículas com a devida membrana-alvo. Descobriu que as vesículas possuem, à sua superfície, um complexo de proteínas específico que "encaixa" em proteínas específicas complementares da membrana-alvo. Isso permite libertar cada tipo de molécula no destino certo. Porém, ainda não se sabia como é que a ordem de fusão e libertação das substâncias era dada.

Esta última fase foi estudada por Südhof (n. 1955) no sistema nervoso, levando à descoberta, nos anos 1990, da maquinaria molecular que comanda a entrega do conteúdo das vesículas. Mais precisamente, esta maquinaria responde à libertação de iões de cálcio, e é esse o sinal que leva as vesículas a fundir-se com a membrana-alvo e a libertar a sua carga, não apenas no sítio certo, mas também na altura certa.

O sistema de transporte vesicular é crucial para uma variedade de processos celulares. Certas doenças imunitárias, neurológicas, e ainda a diabetes, caracterizam-se por defeitos nestes processos habitualmente muito bem orquestrados de tráfego intracelular. "Certas bactérias produzem toxinas que destroem o sistema de transporte vesicular, causando doenças potencialmente letais", explicou um representante do comité Nobel. É o caso, por exemplo, do tétano - ou ainda, do botulismo. E também da diabetes, onde o transporte de insulina para o exterior das células, que depende da libertação de cálcio, se encontra perturbado.

O comité Nobel salientou ainda que, embora estas descobertas não tenham ainda dado origem a novos tratamentos contra este tipo de doenças, o importante aqui é os laureados terem permitido perceber como funciona este sistema de base, crucial para o normal funcionamento de todas as células. Sem ele, a vida celular tornar-se-ia literalmente caótica.