NSA espiou Martin Luther King e Muhammad Ali sem autorização dos tribunais

Responsáveis pela desclassificação dos documentos dizem que o programa das décadas de 1960 e 1970 é mais grave do que os revelados por Edward Snowden.

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Martin Luther King Reuters

A existência da operação já era conhecida, mas os nomes dos alvos da NSA só foram revelados nesta quarta-feira, por ordem do Painel de Recursos para a Classificação de Segurança, que deu uma resposta positiva a um pedido do Arquivo de Segurança Nacional, um instituto independente com sede na Universidade George Washington.

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A existência da operação já era conhecida, mas os nomes dos alvos da NSA só foram revelados nesta quarta-feira, por ordem do Painel de Recursos para a Classificação de Segurança, que deu uma resposta positiva a um pedido do Arquivo de Segurança Nacional, um instituto independente com sede na Universidade George Washington.

"Por mais chocantes que sejam as recentes revelações sobre a espionagem da NSA em território americano, ainda não foram apresentadas provas de que os serviços secretos actuais tenham feito algo como isto – monitorizar os inimigos políticos da Casa Branca", escrevem o historiador Matthew Aid e William Burr, do Arquivo de Segurança Nacional, no site da revista Foreign Policy.

O programa, conhecido como "Operação Minarete", tinha como objectivo inicial espiar traficantes de droga e suspeitos de terrorismo, mas foi direccionado para espiar alguns dos rostos que mais se destacaram nos protestos contra a guerra no Vietname.

Lançado em 1967 por iniciativa do Presidente Lyndon B. Johnson, do Partido Democrata, foi mantido pelo seu sucessor, Richard Nixon, do Partido Republicano, e só terminou em 1973, no auge do escândalo Watergate, que levaria ao pedido de demissão de Nixon em Agosto de 1974.

A Operação Minarete não foi autorizada nem supervisionada por nenhum tribunal. Em meados da década de 1970, foram mesmo as suspeitas de que activistas contra a guerra estavam a ser espiados que levaram à criação do tribunal que autorizou os programas revelados nos últimos meses pelo antigo analista informático Edward Snowden – o Foreign Intelligence Surveillance Court (FISC).

Mas esta não é a única ironia do destino. Um dos senadores cujos telefonemas foram escutados, Frank Church, do Partido Democrata, foi o principal impulsionador do debate no Congresso que teve como ponto mais alto a criação do FISC, em 1978.

"Suspeito que o senador Church não fazia ideia de que a NSA estava a ouvir os seus telefonemas", disse o historiador Matthew Aid ao jornal britânico The Guardian.

Para além de Martin Luther King e Muhammad Ali – que foi proibido de praticar pugilismo entre 1967 e 1970 por se ter recusado a combater no Vietname (a sua frase "Nunca nenhum vietcong me chamou preto" ficou para a história) –, fizeram parte da lista de personalidades espiadas pela NSA o jornalista do The New York Times Tom Wicker e o famoso colunista satírico do The Washington Post Art Buchwald.

"Se há uma lição a tirar de tudo isto, é que quando estamos a lidar com uma sociedade não transparente como a comunidade dos serviços secretos, que tem um enorme poder, os abusos podem e costumam acontecer", afirma o historiador Matthew Aid.